segunda-feira, 8 de junho de 2009

A semente e o grão de mostarda

A SEMENTE E O GRÃO DE MOSTARDA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O Mestre divino Jesus Cristo empregou tropos fascinantes para ilustrar sua pregação e narrou parábolas maravilhosas, enriquecidas com inúmeras imagens agrárias, como as metáforas dos lírios dos campos, das aves, dos trigais, e locupletadas com comparações hauridas de várias atividades humanas, referindo-se aos administradores, aos juizes, aos médicos. É a arte de idealizar o concreto e concretizar o abstrato. Típico é, entre tantas outras passagens, o trecho do Evangelho de São Marcos (4,26-34) no qual Cristo fala do reino de Deus, comparando-o com a semente e o grão de mostarda. O termo “reino de Deus” descreve o desenvolvimento do cristianismo desde o seu início. Já estamos no século vinte e um e se pode verificar que este reino foi muito bem estabelecido nesta terra por seu divino Fundador. Este reino é como a semente que o homem lançou na terra, a qual germina, cresce e produz fruto sem ulterior interferência do semeador. Este homem representa Jesus. Este começou a sua obra e depois sai de cena para voltar apenas na época da colheita. O proprietário da parábola é apresentado como indiferente porque ele sabe que a semente possui uma força interior que se desabrochará numa vida nova. Eis aí o cerne da lição que Cristo deseja ministrar. Quer a semente que Ele pessoalmente lançou durante sua vida neste mundo, quer o serviço da Palavra que se exerce através dos tempos pelos Seus servos e segundo a missão que Ele lhes confiou, o que é semeado contém, de maneira oculta, a vida em si. A semente é a palavra de Deus como o próprio Cristo antes explicara. Esta palavra é espírito de vida (Jo 6,63) e ela opera como mostrou São Paulo: "Por isso é que também nós não cessamos de dar graças a Deus, porque recebestes a palavra de Deus, que de nós ouvistes, e a acolhestes, não como palavra de homens, mas como aquilo que realmente é, como palavra de Deus, que age eficazmente em vós, os fiéis" (1Ts 2,13). Tal mensagem é consoladora, dado que, segundo o mesmo Apóstolo, a esperança que é transmitida pela pregação da verdade do Evangelho, assim como toma incremento no mundo inteiro e produz frutos sempre mais abundantes (Cl 1,5-6), deve animar os seguidores de Jesus. Lemos nos Atos dos Apóstolos que a Palavra de Deus “crescia e se multiplicava” (Atos 12,24). Cumpre, pois, total confiança no poder desta semente divina que é preciso seja semeada, porque “a fé provém da pregação e a pregação se exerce em razão da palavra de Cristo" (Rm 10,17). Donde o conselho do Apóstolo: "A palavra de Cristo permaneça entre vós em toda a sua riqueza, de sorte que com toda a sabedoria vos possais instruir e exortar mutuamente" (Cl 3,16). A expansão do Reino de Deus se dá, deste modo, através da palavra semeada pelos sacerdotes, ministros oficiais desta palavra, e também pelos batizados que participam do múnus sacerdotal, profético e régio do divino Semeador. Cresce este reino como o grão de mostarda, ainda que existam sementes menores que a da mostarda, sendo que, em Israel, nenhuma semente conhecida era menor que esta. A mostarda do oriente realmente cresce até tornar-se um arbusto grande o suficiente para receber as aves do céu e não deve ser confundida com outras espécies de mostarda cultivadas hoje. Bela comparação usada por Cristo para mostrar como o reino de Deus se estende por toda parte e vem atravessando os séculos. É preciso, portanto ter confiança total no poder da Palavra de Deus, força intrínseca que vem da ação do Espírito Santo. É necessário, contudo, o empenho de todos conforme explicou São Paulo: “Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fez crescer. Assim, nem o que planta é alguma coisa nem o que rega, mas só Deus, que faz crescer. O que planta ou o que rega são iguais; cada um receberá a sua recompensa, segundo o seu trabalho. Nós somos operários com Deus (1 Cor 3, 6-9). Grande honra esta cooperar com a difusão do reino de Deus. É, realmente, belo ser apóstolo! Cristo conta com cada um de nós nesta tarefa sublime.* Professor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008.

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