domingo, 26 de abril de 2009

O PASTOR E AS OVELHAS

O PASTOR E AS OVELHAS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Na parábola do Bom Pastor (Jo10,11-18) Cristo focaliza: o Pastor desvelado, o mercenário, o lobo e a ovelha. De plano, ele caracteriza o Bom Pastor como aquele que se sacrifica pelo seu rebanho e o venal que é covarde e, diante do perigo, abandona seu posto de trabalho, pouco se preocupando com a desgraça de sua grei. As ovelhas dotadas de discernimento, ou seja, os seus verdadeiros seguidores, são aquelas que O conhecem e, conhecendo-O, O seguem. Como bom pedagogo que se servia das imagens campesinas Jesus revela que há outras ovelhas que devem vir para seu aprisco. Uma conclusão então já se impõe no que tange ao dever do cristão: ajudar o Bom Pastor a trazer estas ovelhas para junto dele. Apostolado que flui da denominação honorífica que Ele mesmo se deu, isto é, Ele não é um Pastor qualquer mas o Bom Pastor e isto não por um título acidental, mas por essência. Esta bondade deve ser imitada pelos seus epígonos e é o grande recurso para atrair outros para o seu redil. Quantos, de fato, se afastam do divino Redentor por verem alguns, que se dizem seus adeptos, repletos de maldade pouco fazendo pelo bem estar dos outros. Isto bem longe do exemplo do Mestre que não só deu a vida pelas suas ovelhas, mas transformou seu corpo e sangue em alimento para as mesmas, tudo isto devendo inspirar complacência, benevolência, misericórdia. Todas as formas de generosidade até chegar à imolação pelo próximo decorrem do exemplo do Bom Pastor. Neste início de milênio, venturosamente, se multiplicam, nos mais variados setores das comunidades, os voluntários que dedicam uma boa parte de seu tempo para o serviço dos mais necessitados e numerosos são os aposentados nas mais variadas profissões que se inscrevem nas diversas pastorais, prestando auxílio àqueles que penam neste mundo. Isto fortifica o rebanho do Bom Pastor. São aqueles que compreendem a recomendação do Rabi da Galiléia: “Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não furtam nem roubam" (Mt 6,20). Procuram não uma recompensa terrestre, mas celeste e não são mercenários submissos ao dinheiro, ao comodismo, à indiferença religiosa. Possuem uma dileção que sai lá de dentro do coração, porque estão imersos no coração do Bom Pastor e querem que outros usufruam desta ventura. Os lobos que podem atacar o rebanho são os injustos, os rapaces, os maus políticos, os opressores dos humildes, os disseminadores de erros, os que promovem escândalos, os corifeus da mentira, os maus formadores da opinião pública.. Acovardar-se perante tais lobos ferozes é ser mercenário. Neste aspecto se abre um campo imenso para todo tipo de covarde omissão ao se deixar de rebater os erros. Assentimento, aprovação, concordância por não se ter coragem de defender a Verdade. Silêncio criminoso é o daquele que se cala perante a falsidade. Isaías assim os classificou: "Fogem diante das espadas, diante da espada nua, diante do arco retesado, diante do rude combate". (Is 21,15), Esquecem-se da diretriz de Jeremias: "Preparai o escudo e o pavês! Ao combate!" (Jr 46,3). A reprimenda está em Ezequiel: “Não subistes por sobre as brechas para refazer um muro à casa de Israel, a fim de poder estar seguro no combate no dia do Senhor” (Ez 13,5). Fazer frente ao inimigo é se opor a tudo que é malícia, a tudo que é antagônico à Lei de Deus. Edifica-se uma muralha todas as vezes que se defende o outro das armadilhas do Maligno, dado que o mercenário se deixa levar nas tramas de Satanás que quer a morte das almas pelas quais padeceu o Bom Pastor. O lobo mau quer tomar o lugar de Jesus e oferece as tentações da vaidade, do orgulho, da imoralidade, da ira, da maledicência, do apego aos bens materiais, da busca do prazer pelo prazer, espalhando o hedonismo e todo tipo de luxúria. Aqueles que não caem nas ciladas do Inimigo gozam de inenarráveis alegrias interiores, vivendo na presença do seu Senhor e degustam, já neste mundo, um pouco das delícias eternas que desfrutarão no aprisco da eternidade no qual estarão reunidas todas as ovelhas do Bom Pastor. Lá se celebra uma festa solene e indescritível, dando-se o que anteviu São Paulo: "Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada" (Rm 8,18). Se é verdade que cumpre sempre ser cristão, e não estar cristão, em compensação a perspectiva da recompensa das boas ovelhas confere ânimo na luta contra o mal e no engajamento de um sério apostolado. * Professor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008.

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