quinta-feira, 2 de abril de 2009

O CALVÁRIO DE JESUS

O CALVÁRIO DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Com Maria, a Mãe de Jesus, subimos a colina do Calvário. Guiados por ela vamos até ao Gólgota, grande cúspide da História, lugar sagrado e culminante no qual se encontram todas as gerações de todos os tempos. Aqui a História da Salvação tem o seu capítulo mais importante, registrando a dramaticidade de um sacrifício, doloroso, pungente que resgata a humanidade. Morre um Deus pelas suas criaturas por entre ignomínia inenarrável, num gesto grandioso de dileção. Trata-se não unicamente de um ato heróico de um homem que se submeteu ao Pai até o fim: a morte numa cruz , mas sacrifício de um homem que era Deus. Acontecimento único que ultrapassa todas as razões da razão, pois é a prova máxima da afeição divina pelos homens fato inaudito, desconsertante diante do qual se comove o universo, a terra treme e se rasga o véu do templo. Jesus havia proclamado que o Filho do Homem viera para servir e dar a sua vida em resgate por muitos (Mt 20,28). No alto do madeiro entre o céu e a terra ele resgatou a todos, pois, como ensina o Apóstolo Paulo: “Cristo nos remiu da maldição da Lei tornando-se maldição por nós, porque está escrito: Maldito todo aquele que é suspenso no madeiro” ( Gl 3,13). O abandono do Pai (Mc15,35) é o ponto culminante desta situação execranda, que marca profundamente sua agonia pregado numa cruz. A suprema hora da morte reserva para todos sofrimentos físicos e morais. Entretanto, só para o Salvador tais padecimentos chegariam ao máximo, pois Ele experimentou, enquanto homem, a rejeição do próprio Deus. Vai morrer no mais total abandono o Filho bem-amado do Pai, desprezado pelos homens, envolto em trevas profundas. Tudo para que o mundo soubesse a intensidade do seu amor que foi assim às raias do maior sofrer que se registra na História. Para alcançar o grande perdão, pois o pecado é a ofensa a um Ser infinito, ele beberá até à última gota o cálice de um sofrer sem precedentes. O homem se desviara de seu Criador, era mister colocá-lo novamente na rota divina. Todo o mistério do sofrimento de Jesus se resume no fato de se ter Ele feito homem para resgatar uma multidão de irmãos, dando à justiça do Pai a satisfação total. O drama do Calvário não é um mero acidente histórico, um fato dentre milhares de outros, pois tem sua origem num gesto de amor de Deus: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,l4). João Evangelista admirado, pasmo, perplexo ante tal gentileza do Criador, declarou num momento de pulcra inspiração: “Nisto se manifestou o amor de Deus entre nós: Deus enviou o seu Filho unigênito ao mundo para que vivamos por ele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele quem nos amou e enviou-nos o seu Filho como vítima de expiação pelos nosso pecados”( l Jo 4,9-10). O sacrifício voluntário de Cristo no Calvário foi a execução no tempo do decreto eterno de redenção pronunciado no céu e brotado dos infinitos abismos do amor do Todo-poderoso. Foi por isto que Ele, enquanto homem, “se fez obediente ao Pai até à morte e morte de cruz” (Fl 2,8) .Quando a palavra criadora de Deus chamou do nada tudo que existe, quando Ele revestiu a terra de beleza e tirou de seu seio as mil formas de vida, mostrou-se como Deus Onipotente, cheio de poder, glória e sabedoria. Quando criou o homem à sua imagem e semelhança se manifestou como Pai repleto de magnanimidade e o fez participante de sua vida divina, elevando-o à ordem sobrenatural. Na cruz, porém, resplandece novo poder, nova glória, nova sabedoria, novo amor, nova paternidade. Poder que se despoja para engrandecer a criatura ingrata, glória que se apaga para repletar de honra quem do paraíso fora expulso, amor que se sacrifica para redimir uma raça prevaricadora, paternidade que leva à imolação o Filho dileto para regeneração de filhos infiéis.
Algo, realmente, inconcebível, só possível por causa do amor infinito de um Deus!* Professor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008.

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