sexta-feira, 3 de abril de 2009

A revelação de um grande amor

A REVELAÇÃO DE UM GRANDE AMOR

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A escola comparativista não logrou jamais descobrir em qualquer religião não-cristã uma realidade paralela ao mistério redentor de Jesus Cristo. Os falsos deuses da antigüidade, como os do Egito, da Mesopotâmia, da Pérsia, da Índia, da Grécia, de Roma estavam todos eles submetidos às leis cegas da Natureza. As divindades redentoras do helenismo não eram senão partes do complexo natural dos seres. Sofrimento, morte, ressurreição, elas experimentavam justamente segundo seu destino. Era algo involuntário, necessidade trágica da qual não sabiam escapar. A teologia grega que se elevou ao mais alto nível outra coisa não era, além disto, do que um movimento de anábasis, ou seja, de ascensão do sensível ao inteligível e, finalmente, ao Primeiro Princípio. O movimento de katábasis, da descida do Absoluto à contingência do mundo e do ser racional é próprio da teologia cristã, é a grande novidade que se manifesta na História e que tem o ápice de sua manifestação num Deus que agoniza e morre numa Cruz de braços abertos para todos.Adite-se que nas religiões primitivas a libertação do iniciado nos mistérios não é operada pelas divindades. Antes, se trata de uma atividade do crente que, por uma espécie de sortilégio se põe ele mesmo a reproduzir, de maneira puramente exterior e graças a ritos e cerimônias, posturas que julga ser do agrado do deus que adora. Tudo se passa na esfera cultual e até estética. É uma operação mágica. Busca-se a clemência e a identificação com a divindade da qual se espera um influxo especial, sobretudo a purificação interior e o afastamento de forças maléficas.Por entre as concepções panteístas e manifestações religiosas teatrais o mistério sublime de um Deus que se imola por amor no alto de uma cruz transcende tudo que até então o homem havia imaginado e esperado. É este, não há dúvida, o ato mais solene da História.Todas as outras tentativas de aproximação da divindade por mais notáveis que tivessem sido, enquanto manifestação do senso religioso do homem, são insignificantes ante o que se deu no Calvário. Os sacrifícios da Antiga Aliança apenas prefiguravam a verdadeira imolação que repararia totalmente a desobediência de nossos primeiros pais e todos os outros pecados através dos tempos. O cordeiro imolado segundo a instituição mosaica afastava o devastador, mas o verdadeiro Cordeiro de Deus é este sacrificado no Calvário, trazendo a verdadeira redenção. É o que está escrito na carta aos Hebreus: “De fato, se o sangue de bodes e de novilhos, e se a cinza da novilha, espalhada sobre os seres ritualmente impuros, os santifica purificando os seus corpos, quanto mais o sangue de Cristo que por um espírito eterno, se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha, há de purificar a nossa consciência das obras mortas para que prestemos um culto ao Deus vivo” ( Hb 9,13-14). Apenas à luz de uma fé profunda pode esta realidade ele ser penetrada. Tanto isto é verdade que São Paulo claramente afirmou: Nós anunciamos Cristo crucificado que, para os judeus é escândalo, para os gentios é loucura” (1 Cor 1,23). Doravante é esta cruz que apontará a cada um a rota da salvação. Ela se fez a bandeira de grandes vitórias, guia de todos os santos, sinal de amparo em todos os momentos da vida. Ela transmite a fortaleza interior, dá alegria na tribulação, conduz à santidade, ilumina nas trevas do pecado, arranca de profundezas abissais. Por ela Cristo se tornou o autor de nossa salvação e venceu com sua morte a morte de todos os mortais! A cruz na qual morreu Jesus é, assim, o símbolo máximo de seu amor para com os homens (Jo 15,13) e, projetada na existência do cristão, é a resposta suprema de dileção deste para com o seu Redentor. O sofrimento é inevitável na existência humana. Dores físicas e morais, além da fadiga que é inerente ao trabalho cotidiano, quando unidas à obra redentora de Jesus ganham uma dimensão transcendental, conferindo ao crente fortaleza interior. * Professor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008.

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