quinta-feira, 30 de abril de 2009

Aspectos fundamentais da educação

ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA EDUCAÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Conseqüência do reto uso da liberdade é a responsabilidade. Essa é sinal característico da dignidade da pessoa humana. Cada um se situa no mundo moral, se coloca perante sua consciência por ser responsável pelas suas ações que podem ser lucentes ou trevosas, benéficas à sociedade ou sumamente danosas, construtivas ou agressivas à ordem pública.
A Didaqué resumiu este posicionamento do homem numa frase sugestiva: “Há dois caminhos: um da vida e outro da morte. A diferença entre ambos é grande”. Ser responsável é assumir a preferência por uma destas trilhas, opção, porém que deve ser conscientemente feita pelas trilhas do Bem. Platão ensinou com justeza: “cada qual é a causa de sua própria escolha, ela não pode ser imputada à divindade”. Cumpre ao educador levar o educando a assumir seus atos como um modo de agir pessoal e totalmente humano, prezando a honra moral, a estima, a boa reputação.
Apenas assim, atingirá ele a felicidade que é o prêmio de toda a boa ação praticada.
O homem tem este privilégio: pode ter uma antevisão dos efeitos de seu procedimento e precatar-se do que é prejudicial, tendo como suporte tal previsão. Eis aí a importância do senso de responsabilidade que supõe incluir nos motivos daquilo que se realiza a análise preventiva dos possíveis resultados. Isto significa ser senhor daquilo que se pratica. É apanágio dos prestantes, dos benfeitores da humanidade. É que o comportamento correto, nesta ótica de responsabilidade, “cria tantas satisfações, quanto pode ser, para o maior número de pessoas pelo mais longo tempo possível”.
No dizer de Mounier “a pessoa atinge sua plena maturidade somente no momento em que escolhe para si fidelidades que valem mais do que a vida”.
No bojo, porém, da educação integral está toda uma metodologia que conduz ao crescimento da criatividade do educando. Consiste em arrancar do ser racional o máximo do que suas possibilidades, suas virtualidades inatas são adequadas a fornecer. Esta é outra faceta social da educação, pois compreende a empatia que se dá no convívio humano, resultado da socialização e da interação.
Lauro de Oliveira Lima assim sintetiza este aspecto numa perspectiva piagetiana: “o fundamento da criatividade é a organização (equilíbrio majorante) dos movimentos (tecnologia) da linguagem (arte e álgebra das proporções) e dos pensamentos (teorias) e o objetivo final é a organização social”. Isto num aspecto meramente terreno, pois os horizontes da criatividade se estendem sem fim no plano filosófico e religioso que “são o fecho da abóbada de uma verdadeira educação humana”. Gladstone Chaves de Melo é taxativo: “... sem filosofia não há educação. Pode haver técnicas pedagógicas ou didáticas, mas Educação nunca”. George F. Kneller esposa a mesma idéia: “um educador que não use a Filosofia é inevitavelmente superficial”.
Em lógica conseqüência não levará seus discípulos a explorar plenamente seus talentos, suas qualidades. O mesmo se verifica se a Religião é marginalizada no sistema educativo. É ela que oferece os ensinamentos que abrem as veredas deslumbrantes da Verdade, do Bem, do Belo, impedindo que o ser racional se enclausure no egoísmo, na materialidade, libertando seus mais recrescentes anelos de progressão horizontal e vertical. Faz o homem criativo em todos os sentidos. Dentro de si mesmo, abrindo espaços a valores que depois ele vai comunicar aos outros, à medida que sua existência sobe para o Infinito. Assim, ele conhece numa vida plenificada, todos os graus do termômetro da genuína nobreza.
A tríade sagrada ‑ liberdade, responsabilidade, criatividade ‑ faz surgir o cidadão que suscita situações novas numa pugna constante para se libertar, libertando concomitantemente os outros e vivendo a liberdade, não apenas a possuído em germe.
Mais do que nunca a humanidade precisa de pessoas assim, aptas para a participação construtiva. Indivíduos que cresçam numa consciência mais clara da solidariedade planetária e vivam com uma responsabilidade maior, habilitados para aceitar, enfrentar, assumir, orientar as coerções sem se pulverizar e despersonalizar.
Eis aí a sublime função do educador.
* Professor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008.

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