quinta-feira, 26 de março de 2009

Morte de um notável patriota

A morte de um notável patriota
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho *
Pairam entre os historiadores dúvidas sobre a morte de Cláudio Manoel da Costa, protomartir da Independência do Brasil. Mello Franco com fundamento esposou a opinião segura do assassinato de Cláudio Manoel da Costa. Assim se expressou em conferência no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro: “Suicídio ou homicídio? Não basta o exame exterior do cadáver, mas a autópsia se faz necessária à descoberta da verdade. No caso de Cláudio Manoel da Costa não houve senão uma grosseira descrição da forma em que o corpo fora encontrado. Mas aí mesmo ficou indelével a prova de homicídio, para perpétua execração de seus sinistros autores. Com efeito, todas as observações atestadas por mestres do valor de Tardieu e Brouardel, provam que, salvo casos raríssimos os braços do enforcado ficam estendidos para baixo, colados ao corpo pelo próprio efeito da gravidade. Os autores de medicina legal, passados em revista, só indicam como exceção a tal regra, o caso de um enforcado que foi encontrado com a mão direita presa ao próprio laço do pescoço, e os dedos em contração, operada talvez no momento em que, impelido pelo instinto de conservação e de defesa, tentasse afrouxá-lo. Ora, contra todos esses princípios verificados pela observação e experiência científicas, os peritos descrevem o estado do cadáver de Cláudio, como estando de pé e tendo o braço direito erguido, sem apoio em qualquer objeto, mas ao contrário, forcejando de baixo para cima a tábua da prateleira, como se o infeliz houvesse querido apertar por este modo o laço corredio, que lhe circundava o pescoço, quando, era mais natural que o fizesse pelo próprio peso do corpo. A morte, ao invés de lhe ter relaxado aos músculos no momento supremo, ao invés de lhe ter provocado a queda dos braços, por efeito do peso destes e da lei da gravidade, deixou-lhe suspenso o direito, como se nessa atitude ficasse em perpétuo protesto contra os inimigos da grande causa de que ele era neste momento o primeiro mártir e o nobre símbolo”. Machado de Castro em 1896 escrevia: “Os exímios mestres e escritores Teixeira de Mello e Antônio Secioso, com seus depoimentos baseados em documentos e nas investigações em Vila Rica e outros lugares afirmam que o ilustre e infeliz poeta mineiro Cláudio Manoel da Costa foi assassinado no cárcere por perversidade”. O mesmo autor cita Carlos Rebeyrolles: “grande foi a emoção do povo ao saber da morte de Cláudio, filha da sombra, obra da noite. Não queria o povo crer no suicídio; e alguns diziam que o governo temia a palavra de Cláudio, o hábil advogado e o poeta amado”. Salomão de Vasconcelos escreveu: “enforcou-se, realmente, ou foi morto o poeta, por algum beleguim a mando das autoridade? É a mesma dúvida que, ainda hoje, preocupava os escritores, mas sem razão; primeiro, porque, sendo Cláudio Manoel um dos principais indigitados da intentona, precisariam tratá-lo até à vela de libra, para conservá-lo como um dos legítimos dependentes da estralada e seus fins; em segundo lugar, sendo ele um vulto de grande reputação e brio escritor primoroso, duas vezes ex-Secretário de Governos, advogado e senhor de lavrados, não iria acovardar-se, diante da prepotência, por ser apanhado no sonho de um ideal patriótico. Por isso, até hoje, vivem os escritores a debater essa questão, para apurarem se o poeta suicidou-se ou foi trucidado a mando dos potentados. Mas, já no Parlamento Nacional, em 1835, gritava o grande Bernardo de Vasconcelos, profundo conhecedor da política colonial, que Cláudio Manoel da Costa “fora assassinado a mando do Visconde de Barbacena”. K. Maxwell afirma: “Cláudio Manoel da Costa estava, evidentemente, a par dos segredos da inconfidência. E, não menos importante, o famoso poeta demonstrava-se disposto a contar o que sabia. O velho advogado estava em situação privilegiada para saber de tudo sobre os conjurados. Que poderia dizer quando interrogado por homens não sujeitos à influência do governador? Que toda a verdade surgisse não era, obviamente, da conveniência dos conspiradores nem do governador e, especialmente, não convinha ao dono da grande mansão em que Cláudio estava aprisionado... O mistério que cerca seu falecimento e a farsa crescente do processo de Vila Rica são muito ilustrativos do pantanal em que afundava todo o caso. E se a morte do poeta foi um assassinato deliberado, premeditado e tal possibilidade não pode ser eliminada - então serviu de clara e terrível advertência aos demais sobre o ponto a que certos interessados estavam dispostos a ir para se protegerem da incriminação”. É sempre de bom alvitre o estudo da vida dos grandes homens de nossa História. * Professor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008.

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