quarta-feira, 25 de março de 2009

ÚM NOTÁVEL PATRIOTA

UM NOTÁVEL PATRIOTA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
É sempre de bom alvitre recordar a vida dos grandes personagens da História que deixaram exemplos de bons cristãos no exercício de suas obrigações. Um deles foi o marianense Cláudio Manoel da Costa. Se partimos da premissa de que a Conjuração de 1789 foi a primeira tentativa ordenada para a emancipação brasileira, as figuras de destaque deste movimento libertário, é óbvio, influíram decisivamente no nosso processo histórico. É claro também que, quanto mais se procura conhecer o valor de algum destes personagens e a verdadeira extensão de sua atividade, tanto mais se pode captar o raio de influência que realmente exerceu. Cláudio Manoel da Costa que, literariamente, se mostrou português, exerceu um papel patriótico decisivo no que tange à ação pró libertação brasileira. A formação portuguesa de Cláudio Manoel da Costa deixou-lhe traços culturais imperecíveis. Seu convívio mineiro, na região da liberdade, sulcou-lhe decisivamente uma mentalidade avessa à opressão, a qual eclode na sua adesão à Conjuração Mineira. Foi, realmente, um expoente dos anseios de seus coevos. Ele deixou o exemplo do bom servidor público, daquele que colabora com os poderes constituídos, objetivando o progresso da comunidade em que vive. Assim, foi secretário do governo colonial na administração de Gomes Freire de Andrade. Serviu ainda no mesmo cargo a Luiz Diogo e ao Conde de Valladares. Mereceu, mercê de seu talento e dedicação à causa pública, inúmeras atenções destes nobres e ilustres governadores que fizeram dele a fonte donde promanavam as decisões mais importantes para o bem da Capitania. Acompanhou Luiz Diogo na excursão que este fez em 1764 a grande parte do território mineiro, percorrendo 356 léguas em três meses. Era o anseio de ser útil que o levava a jornada tão árdua. A defesa do território mineiro foi um dos frutos desta empresa. Aliás Cláudio Manoel da Costa era exímio cartógrafo e geógrafo, devendo-lhe Minas Gerais a preservação de sua integridade territorial, tendo sido afastadas acres controvérsias com os paulistas. Belíssima a defesa que fez do Conde de Assumar: “Foi o seu governo bastante crítico por encontrar a oposição dos povos na criação das casas de fundição. Subjugou heroicamente alguns levantados e sublevações, principalmente os de Pitangui, fulminados por Domingos Rodrigues do Prado, e o de Vila Rica, que foi ter a Mariana em 28 de junho do ano de 1720: aqui se lhe fez preciso prender a uns, e castigar a outros com a última pena. Estes procedimentos lhe adquiriram o nome de tirano nas Minas; mas à sua constância e resolução deve Portugal a inteira sujeição da Capitania; o exemplar castigo acabou de aterrar os ânimos de um povo tantas vezes rebelde e segurou de uma vez a real autoridade”. Nota-se aí seu espírito de justiça que exigia um julgamento objetivo e equânime. Cláudio Manoel da Costa no canto heróico a D. Antônio de Noronha, quando este, ao ensejo dos movimentos de guerra no sul, se dirigia para o Rio de Janeiro com os soldados mineiros, imortalizou-lhe os méritos. Silva Ramos ressalta que “Cláudio era Ouvidor Geral da Comarca de Ouro Preto e nela deputado da Junta da Fazenda, pessoa “de inteiro crédito e merecimento pela sua regular conduta”; como advogado, exibia “madureza de juízo, solidez de fundamentos e inteligência das leis”; era eloqüente e erudito, bem como afável para com todos. Entre os traços de seu caráter Rodrigues Lapa diz ter sido ele “uma alma terna, um peito sem dureza”. Sabia, por isto, admirar os que pelo próprio valor honravam os cargos, mesmo num contexto colonial. Como observou Antônio Cândido, se pode perceber que “na obra de Cláudio é notória a preocupação com os efeitos que ampliam a civilização e constroem o fundamento da vida racional, racionalmente ordenada” . Revelava-se um súdito fiel e leal. Isto torna mais significante sua adesão ao movimento revolucionário, porque, com o mesmo afã com que defendeu os que procuravam agir com nobreza, ele se atirará contra os despautérios de um Cunha Meneses, bem como saberá compreender o momento exato em que o sistema colonial a ruir exigia uma nova ordem social. * Professor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008.

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