quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O PROFETA ZACARIAS E GAZA

O PROFETA ZACARIAS E GAZA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Certo leitor, por sinal muito culto, assim se expressou, referindo-se à guerra entre Israel e o Hamas: “Não acompanho mais muito de perto. Sinto-me mal. Contudo hoje, domingo, li algumas passagens bíblicas de Zacarias 12 de 1 a 6 e Zacarias 14 de 1 a 5. Não formei ainda uma opinião segura sobre essa guerra (como todas) estúpidas, mas à luz do cristianismo, como pensar? Em primeiro lugar cumpre se diga que a leitura do profeta Zacarias deve ser feita à luz do messianismo. Os versículos do capítulo 12 referidos devem ser interpretados na alheta de Isaias 53, 3-8 e o fato se deu um dia com Jesus sacrificado no Calvário (Jo 19-37). O início do capítulo 14 faz referência ao dia do Senhor, vitória final de Deus, e que será um único dia perpétuo, maravilhoso, fato que somente o Ser Supremo sabe, como se refere o Apocalipse (Ap 22,5). Como Ageu, Zacarias, filho de Adoaquias, neto de Ado (1,1), incentivou o povo eleito a reconstituir o templo. No livro de Esdras há referências a este profeta: “Assim foi que ficaram interrompidos os trabalhos do Templo de Deus em Jerusalém: a interrupção durou até o segundo ano do reinado de Dario, rei da Pérsia. Então os profetas Ageu e Zacarias, filho de Ado, puseram-se a profetizar aos judeus que estavam na Judéia e em Jerusalém, em nome do Deus de Israel que os inspirava. E Zorobabel, filho de Salatiel, e Josué, filho de Josedec, começaram a construir o Templo de Deus em Jerusalém: os profetas de Deus estavam com eles, dando-lhes apoio” (Esd 4,29-5,1). Outra preferência é feita indicando como se chegou ao fim desta obra (6,14). Assim foi em 520 a. C. que se iniciou a missão profética de Zacarias. Não prima Zacarias pela clareza, mas as mensagens básicas que deseja transmitir são facilmente apreendidas. Após expor suas visões noturnas (1-4), o profeta, faz brilhar as magnas promessas anteriores de Javé. Há um exórdio de exortação à conversão (1,1-6): “Convertei-vos de vossos caminhos perversos e de vossas ações perversas” (1,4). Seguem-se as visões: os cavalos e os cavaleiros, cuja lição é que Deus se volte para aqueles que a Ele se dirigem; os chifres simbolizando o poder dos inimigos dos judeus que serão vencidos, por aqueles que Deus suscitará para isto; o medidor, mostrando que a aliança divina se estende a todas as gentes; a veste de Josué, representando este o povo judaico, sendo que o sacerdócio será purificado; o lampadário e as oliveiras, ostentando os dois ungidos, a saber, Josué que detém o poder espiritual e Zorobabel, que possui o poder temporal; o livro que voa, patenteando a maldição divina prestes a castigar as enormes prevaricações; a mulher no alqueire, revelando a iniqüidade dos injustos; os carros, ostentando a realização da punição de Deus contra os povos perseguidores. São oito visões numa seqüência orgânica. A coroação do sumo sacerdote mostra em seguida o novo sacerdócio no esplendor de sua dignidade e também se ressalta a importância do poder civil. No discurso final Zacarias ensina que o jejum só tem valor se está acompanhado de sinceridade e fala da salvação messiânica. É o messianismo, de fato, o ponto alto desta primeira parte. Ele é o motivo do ânimo que todos deveriam ter para a reedificação do templo. Além disto, a onipotência, a onisciência e a providência divinas são exaltadas. O universalismo da salvação é também ressaltado enfaticamente por Zacarias. A segunda parte aborda o futuro messiânico. O destino das potências do mundo e do reino de Deus (9,1-7); o Messias, rei humilde e pacífico (9,8-17); total libertação de Israel (10,2-12); o país devastado, pois o bom pastor foi desobedecido (11,1-17); Javé defenderá Israel (12); a cidade será purificada (13); Deus combaterá contra os inimigos de Jerusalém (14). Caracteriza, também, esta parte o messianismo. Clama por purificação de todo o Israel. Deus é quem pode operar tal transformação. Notável a alusão ao rei messiânico, modesto e pobre: “Eis que o teu rei vem a ti: ele é justo e vitorioso, humilde, montado sobre uma jumenta, sobre um jumentinho, filho da jumenta” (9,9). Por tudo isto a leitura do livro de Zacarias firma a crença no monoteísmo, no messianismo e reaviva a sinceridade do coração, a qual Deus exige de suas criaturas. Quanto a atual situação ocorrido em Gaza os melhores cientistas sociais não são capazes de afirmar com segurança a quem atribuir a catástrofe dos últimos dias. Se o Hamas provocou, Israel tem direito de defesa Por outro lado, como muito bem se expressou Manuel C. Junior: “Tornar-se-á inevitável o surgimento de um Estado palestino. A única forma de mobilizar ao islamismo moderado na luta sistemática e, a longo prazo, contra o islamismo radical e, conseqüentemente, subtrair forças dos fundamentalistas islâmicos, será através do apoio decisivo à criação deste novo Estado”. A beligerância no mundo é bem explicada pela Bíblia como conseqüência do pecado original. Aliás, logo no começo do mundo Caim matou seu irmão Abel. Jesus veio como príncipe da paz, pregou contra as injustiças sociais e acabou assassinado no alto de um Madeiro. Um dia, porém, haverá a paz universal, pois seu desejo não é em vão: “Que todos sejam um, como tu e eu somos um”! (Jo, 17,11). * Professor no Seminário de Mariana de 1067 a 2008.

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