quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Encontrar Jesus

ENCONTRAR JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Notável a notícia que o apóstolo André deu a Simão, seu irmão: “Encontramos o Messias”, e o conduziu até Jesus (Jo 1,41). Feliz aquele que se depara com o divino Redentor com a esperança de achar nele o segredo do amor, da felicidade. Cumpre, porém, depois, anunciá-lo por toda parte, sobretudo no contexto atual no qual impera a secularização maciça e quando muitos vivem numa horripila indiferença pelas manifestações religiosas. Por outro lado, é preciso, também, conduzir até Jesus aqueles que estão tocados por aspirações espirituais e místicas, mas têm do douto Rabi da Galiléia uma compreensão deturpada. Mister se faz a experiência do Deus que se tornou homem, a qual é induzida pela moção especial do Espírito Santo. Então o cristão se torna inteligente na fé e na autêntica caridade. Não basta, com efeito, um conhecimento histórico e mesmo pormenorizado da vida de Jesus, mas é necessária uma ciência celestial, amorosa, que é participação existencial no mistério redentor, captado na comunhão em Cristo e com Cristo e realizado na força do Espírito que o Pai envia a quem tem a ventura de crer. Disto resulta uma união profunda com a Trindade Santa. Realiza-se o que Jesus prometeu: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada" (Jo 14,23). O encontro com Cristo confere a posse de todas as energias vivificantes, como aliás ocorreu com todos os Apóstolos, com exceção exatamente de Judas que não penetrou fundo na realidade cristológica. Achar Jesus deve evidenciar o estilo próprio de um verdadeiro epígono, ou seja uma nova estrutura de pensar própria de alguém comprometido com a caminhada na santidade. Significa estar possuído por uma força interna que conduz o cristão a se deixar guiar inteiramente pelo Evangelho que passa a envolver todos os seus atos. Fica então, quem é batizado, envolto na luz da verdade que redime e beatifica. O vínculo profundo desta maneira de ser na fé, se alimenta no contato contínuo com a Sabedoria do Verbo divino encarnado. A graça de Deus torna então o amor ativo e comunicável numa manifestação desse mesmo amor que precisa ser irradiado por toda parte. São valores teológicos que tendem a penetrar toda a comunidade através daquele que assim se uniu a seu Salvador. Esta deve ser a forma vital da existência e da experiência verdadeiramente cristã num dinamismo espiritual de uma existência enxertada no Filho de Deus. Corrige-se, assim, a fala daqueles que dizem: “Eu e Cristo” ou “Cristo em mim”. O certo será: “Cristo em mim e eu em Cristo”. Foi o que se deu com São Paulo: "Para mim o viver é Cristo" [...]. "Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim" (Fl 1,21;Gl 2,20). Eis aí a plena comunhão com Cristo através de uma virtude espiritual que é a única em condição de poder realizar aquela unidade vital entre Ele e seu seguidor que traz o Seu nome, título de glória: cristão. É a relação interpessoal com maravilhosa energia evocativa que conduz quem foi batizado a um progresso ininterrupto. Tal a comunicação feita aos Coríntios: "Mas todos nós temos o rosto descoberto, refletimos como num espelho a glória do Senhor e nos vemos transformados nesta mesma imagem, sempre mais resplandecentes, pela ação do Espírito do Senhor" (2 Cor 3,18). A práxis da fé, de fato, precisa levar à realização concreta do convite ao seguimento daquele que é o Caminho, mas também a Vida (Jo 14, 6). A humanidade de Jesus deve ser o instrumento primário da ascese espiritual rumo a Deus. O encontro com Jesus não pode estar eivado de sentimentalismo nem da busca de emoções sensíveis, mas ela deve se alimentar do conhecimento que exige à pratica de tudo que ele ensinou, pois Ele é a Verdade (Jo 14,6). Trata-se de se penetrar no significado autêntico das suas palavras, no sentido de sua pessoa, na eficácia de sua proposta de vida. Deste modo, encontrar e seguir a Cristo implica uma interpretação constante ou uma releitura da historicidade dos mistérios da vida do Filho de Deus no contexto das novas situações da existência do cristão. Todas estas reflexões mostram que o ir até Cristo supõe uma metamorfose profunda, como, aliás, se deu com os Apóstolos. * Professor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008.

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