quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A Bíblia e a ondontologia

A BÍBLIA E A ODONTOLOGIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Ao se percorrer a Bíblia se percebe a valorização do corpo humano. O cristão é o templo vivo de Deus. Esta verdade foi assim expressa desta por Cristo: “Se alguém me ama, meu Pai o amará, viremos a ele e faremos nele nossa morada” (Jo 14,23). Daí a argüição de Paulo aos Coríntios: “Não sabeis que sois o templo de Deus e que o espírito de Deus habita em vós?” (1 Cor 3,16). Assim sendo, o cristão trata de seu corpo, morada santa da divindade, e não se descuida de seu aspecto físico por estar cônscio desta excelsa realidade. O corpo humano não só, numa admirável unidade, faz a integração de todos os membros, mas exprime a pessoa nas suas situações mais significativas. Aliás, seja dito que no Evangelho de São João fulge esta verdade: “O Verbo de Deus se fez carne, isto é, tomou um corpo humano, e habitou entre vós” (Jo 1,14). Adite-se que a Bíblia destaca de maneira especial, por exemplo, o valor da dentição. Em 38 passagens busca nos dentes comparações expressivas. Assim lemos no Gênesis que, para exaltar a Judá, Jacó proclama que “os seus olhos são mais formosos que o vinho e os seus dentes mais brancos do que o leite” (Gn 49,12). O Cântico dos Cânticos mostra que o esposo decanta a beleza de sua bem amada proclamando que seus dentes são alvos e de uma perfeita regularidade (Cant 4,2; 6,5). Quando o autor sagrado no Livro dos Provérbios quer manifestar algo execrável escreve: “Como um dente podre e um pé cansado é o apoio do (homem) desleal no dia da desventura” (Prov 25,19). Interessante observar que a Lei de Talião, que Cristo repudiaria, no Antigo Testamento recebeu esta fórmula: “Olho por olho, dente por dente” (Êx 21,24; Lev 24,20; Deut 19,21) o que revela a valia destes órgãos duros que guarnecem as maxilas. Para mostrar a grandeza de Moisés lemos no Deuteronômio que ele “tinha cento e vinte anos quando morreu, nunca a vista se lhe diminuiu, nem os dentes se abalaram (Deut 34,7). Para Davi os dentes do inimigo são “lanças e flechas” (Sl 56,5). O Eclesiástico recomenda aos pais a manterem sua autoridade diante do filho e aconselha: “Nunca te ponhas a rir com ele, para que não venhas a sofrer por isto, e não te desbotem no fim os dentes” (Eclo 30,10). Quando o Livro de Deus quer falar de força, busca esta comparação: “Porque um povo forte e inumerável veio sobre minha terra, os seus dentes são como os dentes de um leão” (Joel 1,6). A identidade do homem, diz o Eclesiástico, parte também de sua boca: “O vestido do corpo, o riso dos dentes, e o andar do homem, dão a conhecer o que ele é” (Eclo 19,27). Uma das punições divinas publicadas pelo profeta Amós é o “desbotamento dos dentes” (Amós 4,6). Cristo para descrever os horrores do inferno asseverou que lá haverá “choro e ranger de dentes” (Mt 8,12;13,42,5;22,13; Lc 13,28). Castigo divino é este declarado por Davi no salmo terceiro: “Quebrastes os dentes dos pecadores” (Sl 3,8). O salmista chega até a fazer esta súplica ao Onipotente contra os juizes injustos: “Ó Deus, quebra-lhes os dentes na sua própria boca” (Sl 57,7). Sinal de ódio está no Livro de Jó: “Juntou o seu furor contra mim e com olhos terríveis me olhou o meu inimigo e, ameaçando-me rangeu os dentes contra mim (Jó 16,9). Aliás, de maneira semelhante fala o salmo trinta e seis: “O ímpio maquina males contra o justo e range os dentes contra ele” (Sl 36,12). Expressão idêntica se encontra no salmo 101, referindo-se à postura do mau, adversário do justo: “Vê-lo-á o pecador, e se indignará, rangerá os dentes e se consumirá” (Sl 111,10). O opressor é retratado deste modo: “Há uma casta de gente que em lugar de dentes, tem espadas, e mastiga com os seus queixais para devorar os que não têm nada na terra, e que são pobres entre os homens” (Prov 30,14). Portanto, a Bíblia, correlaciona esta parte do corpo humano com manifestações extremamente expressivas do ser racional. * Professor no Seminário de Mariana (MG) de 1967 a 2008).

Um comentário:

  1. Além das observações feitas sobre o texto a respeito do significado dos dentes na Bíblia, os judeus tinham algum outro significado para dentes ou a falta deles?

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