terça-feira, 22 de setembro de 2015
A VOCAÇÃO DO CRISTÃO
A VOCAÇÃO DO CRISTÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No Antigo Testamento ficou registrado o que Deus preceituou: “Sede santos, porque eu sou santo” (Le 11,44;19,2). Surge então a questão: “Qual é a essência da santidade divina”? A resposta foi dada por Cristo. A essência da santidade divina é a perfeição. Com efeito, Jesus ordenou: “ Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito”.(Mt 5,48). Como, segundo São João, “Deus é amor” (1 Jo 4,8), para atingir a perfeição é preciso amar. Resultam então os mandamentos, consequência do amor eterno que reina na Santíssima Trindade. Este amor deve ser vivido pelo seres racionais, levando-os à santidade. Cristo ensinou: “Ama o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento. Este é o primeiro e o maior mandamento. O segundo é semelhante a este: Ama o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22, 36-40). Eis o caminho traçado para o cristão, chamado à santidade. Santo é, então, aquele que acolhendo a graça de Cristo e seguindo docilmente a ação do Espírito divino, se deixa envolver pelo amor que flui do Pai. É Aquele que, no âmbito de suas limitadas, porém, irrepetíveis qualidades pessoais corresponde com total dileção às inspirações divinas seja qual for o seu estado de vida. Foi o que lembrou o Concílio Vaticano II: “Nos diversos gêneros de vida e nas diversas profissões, há uma só santidade, cultivada pelos que são movidos pelo Espírito de Deus e, obedientes, à voz do Pai e adorando em espírito e verdade a Deus Pai, seguem a Cristo pobre, humilde e sobrecarregado com a cruz para poder merecer a sua glória. Cada um segundo seus próprios dons e graças, deve progredir sem demora pelo caminho da fé viva, que acende a esperança e age por meio da caridade (LG 41). O cristão, porém, precisa estar consciente de que ele não é simplesmente um ser racional, pois pelo batismo se torno em Cristo participante da natureza divina (2 Pd 1,8). Ora, “Santo, santo, santo é o Deus todo poderoso” (Ap 4,8). Portanto, trata-se de um esforço por uma purificação cada vez maior, destruindo em si tudo que se opõe à santidade divina, adquirindo, na pratica do amor, todas as virtudes que o tornam agradável a Deus. O caminho foi traçado por Jesus a cujas máximas se adapta seu seguidor. Ele é o modelo, o princípio e a causa eficiente da perfeição dos que Lhe pertencem. A Ele o cristão consagra todo o seu ser e se deixa conduzir pela suas luzes. É óbvio que deste modo este autêntico cristão não só afasta todos os obstáculos para poder viver unido a Cristo, mas cumpre, num esforço contínuo, todos os seus deveres em casa, no trabalho, seja onde estiver. Tudo feito por amor a Deus e ao próximo em qualquer circunstância. Este fiel goza a verdadeira liberdade, jamais se escravizando às paixões, aos vícios, aos desregramentos éticos. É assim que milhões de batizados , em suas situações existenciais concretas, participam e compartilham de forma profundamente pessoal da vida e do amor de Cristo. Estes difundem em torno de si o calor do amor divino. O esplendor de suas vidas é luz que refulge diante de todos que então passam a glorificar o Pai que está nos céus. Entende-se, desta maneira, a veracidade do brocardo: “Se és cristão, tens o mundo nas mãos”. Aí está a dimensão eclesial da santidade. É a força do testemunho de vida que arrasta os outros para a vivência do Evangelho. Tudo isto flui da consciência que se tenha da necessidade do intercâmbio de bens com os outros. Deste modo, o amor mútuo se converte em lei operante na realização da transformação de tudo e de todos em Cristo. Assim, cada um vai se enriquecendo espiritualmente no contato com os outros membros da comunidade que é a Igreja, o Corpo místico de Cristo. É uma intercomunicabilidade que engrandece, como bem se expressou Elisabeth Leseur: “Uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro”. Esta realidade dá ânimo a cada um para se aperfeiçoar cada vez mais a fim de beneficiar não só o meio em que vive, mas a todo o corpo eclesial. Amor operante que sustenta a santidade de todos os cristãos espalhados pelo mundo inteiro unidos na glorificação contínua do Pai, pelo Filho sob os influxos santificadores do Espírito Santo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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