quarta-feira, 26 de agosto de 2015

SANTUÁRIO DA DIVINDADE

SANTUÁRIO DA DIVINDADE Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* Nunca se reflete demais sobre a advertência que São Paulo fez aos Coríntios: “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós”? (1 Cor 3,16). Com efeito, o batismo confere a graça deificante que é uma participação na vida divina, introduzindo o cristão na intimidade da existência trinitária. Torna-o capaz de viver com Deus, agindo por seu amor. É uma graça santificante. Perdida pelo pecado grave, ela pode ser recuperada pelo Sacramento da Confissão. Trata-se da presença de Deus não apenas em seu derredor, pois nele o ser racional tem “a vida, o movimento e o ser” (Atos 17,2), mas da presença divina sobrenatural na alma. Esta sublime realidade foi assim expressa por Cristo: “Se alguém me ama, meu Pai o amará, viremos a ele e faremos nele nossa morada” (Jo 14,23). Esta vida divina, que constituirá a essência da felicidade eterna no céu, se comunica desde já àquele que foi batizado. Este traz em si o Deus vivo, a Suprema realidade. Eis por que São Leão Magno clamava: “Reconhece, ó cristão, a tua dignidade”. A grande questão é cada um se indagar como esta habitação divina, esta presença de Deus em si mesmo, exerce na vida de cada um o papel que ela deve desempenhar. O meio para entrar em contato com o Hóspede divino é a intensificação da vivência das virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade e dos dons que elas comunicam. Pela fé o batizado adere à verdade da vida divina que lhe é proporcionada. Pela esperança ele está certo de que pode perseverar em estado de graça. Pela caridade, amor intenso à Trindade Santa, a vida trinitária se torna a própria existência de quem foi batizado. Para se entrar em comunicação com Deus todo formalismo deve ser evitado. Ele é a simplicidade absoluta. Tanto mais simples é a prece, mais ela agrada ao Ser Supremo. O cristão passa ver Deus em tudo e tudo em Deus. Nada o esmorece e repete com São Paulo: “Se Deus está conosco, quem estará encontra nós? [...] Eu estou certo de que nem a morte nem a vida [...] nem criatura alguma poderá nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus" (Rm 8, 31.38). O cristão então pode dizer a Deus: ”Senhor, eu Vos amo, ou pelos menos, quero vos amar”. Tudo isto não exclui, evidentemente, a manifestação de outros sentimentos da alma para com o seu Senhor. Atos de humildade, de confiança, de abandono nas mãos da Providência do Pai, de adoração e de outras manifestações que o Espírito Santo venha a inspirar. Adquirem-se assim virtudes e cresce o asco para com os vícios. Dá-se um real progresso na vida espiritual e isto é possível para todos. Textos bíblicos servem para alimentar o diálogo com Deus, desde que pausadamente meditados. Esta reflexão gera a solicitude interior, a fidelidade cada vez maior. O cristão passa a viver continuamente na atmosfera da fé e mesmo nos momentos de tribulação conhece uma profunda paz. Nem as tentações, as distrações, as dificuldades interiores e exteriores conseguem então abalar o cristão que assim procede. Prevalece sempre o grande ideal, mesmo porque tal cristão sinceramente sabe que ele não pode nada por si mesmo, mas com Deus realiza proezas (Sl 108,13). É evidente que para se manter nesta ambiência divina é preciso evitar tudo que, ainda de longe, possa conspurcar a alma e distraí-la do centro de suas atenções que é o contato com Deus. O autêntico cristão sabe controlar suas diversões, pois quer estar o máximo possível dialogando com um amigo tão querido como é Deus. Há uma correspondência total às inspirações do Espírito divino. Conta o batizado com a força da Eucaristia, a proteção da Virgem Maria, dos santos, dos anjos a incrementarem sua vida interior e a imolação cotidiana através do cumprimento exato das obrigações. Esta é a penitência e a mortificação que Deus quer. Resulta a coragem para a renúncia a tudo que contraria o Criador. Não se trata então de procurar a virtude pela virtude, dado que Deus quer que cada um se esvazie de si mesmo, para encher-se do divino. Deste modo o batizado fica convencido do que disse Jesus: “O reino de Deus está em vós” (Lc 17,21). Torrente de luz inunda a alma atenta e fiel, a qual se vê imersa no oceano infinito do amor de Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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