sábado, 22 de agosto de 2015

PUREZA INTERIOR

PUREZA INTERIOR Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* Cristo, pedagogicamente, mostrou que é do interior do ser humano que saem todas as ações torpes que o contaminam (Mc 7k21-23). O Mestre divino apresentou detalhadamente um elenco das mesmas. Todas elas são infrações de um dos dez mandamentos promulgados por Deus, fora dos quais surgem os pecados. Cumpre então uma reflexão sobre o exterior e o interior da pessoa. O exterior é o que aparece diante dos outros e suscitam seus julgamentos, tudo que exigem as conveniências humanas. Muitas vezes é perante isto que se cria uma imagem ideal de si próprio desejando cada um aparentar o que na verdade não é. Uma representação artificial fruto da preocupação com o que os outros podem pensar e julgar. Entretanto o interior de cada um é a região daquilo que é verdadeiro e autêntico. É o que cada um vem a ser, de fato, diante de Deus. Aquilo que o Onisciente Senhor contempla como realidade essencial. O interior é o lugar da fidelidade cotidiana ao Ser Supremo. É neste interior que podem borbulhar os maus pensamentos com todo seu cortejo de misérias morais, todos os procedimentos perversos. Tudo isto deve ser banido para que do coração se afastem a banalidade e o verniz da hipocrisia, a fim de que os planos pessoais possam coincidir com o projeto de Deus. Desta maneira, o que aparece exteriormente, coincide perfeitamente com o que se passa dentro de si mesmo perante o Todo-Poderoso Senhor. Em muitos há um divórcio íntimo entre o que o cristão é e o que exteriormente apresenta. Entretanto, a fragilidade humana conduz tantas vezes a atitudes que mancham a pessoa possuída por más intenções. Daí surgem as traições das promessas matrimoniais, desde que fiquem ocultas; hábitos egoístas; prejuízos causados ao próximo pelo dever mal cumprido ou por outros desvios éticos condenáveis. São as ações dos jovens que se tornam mundanos para comprazer amigos dissolutos ou agradar colegas que não praticam a religião ou para conseguir um namorado ou namorada a qualquer custo, mesmo que seja colocando em risco sua castidade. É a situação daqueles que não sabem partilhar com os outros suas convicções, suas experiências religiosas. Enfim, todas as ambiguidades que pesam na consciência, quando há falta de coerência entre o que se crê e o que se pratica. Muitos cristãos se fazem, desta maneira, uma mentira ambulante. Jesus foi taxativo ao condenar quem o honra com os lábios, mas cujo coração está longe dele. Este é aquele que se aparta das grandes urgências do Reino de Deus. Este Deus que perscruta o íntimo de cada um quer a consagração integral, absoluta de todo o coração. Não se deve dar a Ele restos, mas toda e qualquer atividade. Não se pode, de fato, servir a Ele e ao diabo. Fazer preces ardentes e em seguida negá-lO apoiando os desvarios mundanos. Rezar e depois se expor às ocasiões de pecado. Ele quer todo o amor, toda a escolha, toda a decisão sem dubiedades e insinceridades. Espera a verdade total que traz a tranquilidade íntima e que significa o rompimento corajoso com tudo que vai contra Sua santíssima vontade. Não há existência cristã livre a não ser que o batizado se entregue inteiramente a este Deus para que Ele possa tudo conduzir. Para isto se torna imprescindível a coerência na vida. É lamentável ser cristão quando se reza e desregrado perante as aliciações satânicas. Eis por que se deve rezar com Davi no salmo 85: “Ensinai-me, Senhor, vossos caminhos, para que eu ande na vossa verdade; unificai o meu coração para que eu teme sempre o vosso nome”. Esta unidade de pensamentos, desejos e ações é a fonte da pureza do coração. Nada pior do que a dicotomia que é manancial de agitação e muito remorso para quem tem fé. Se o Todo-Poderoso agrega o interior e o exterior de cada um, raia a liberdade porque o cristão não se deixa escravizar por tudo aquilo que pode conspurcar sua consciência. A graça de Deus concilia o ser e o parecer diante dele e perante os outros, no silêncio da oração e nas atividades cotidianas, fazendo cair por terra a máscara da hipocrisia. Dissipa inteiramente as ilusões terrenas e conduz à verdadeira felicidade. O batizado se mostra então em tudo como uma criatura nova, capaz de curtir tudo de bom que se acha em seu derredor. Nunca se deve esquecer que Deus sonda o íntimo de cada ser humano e antes que uma palavra, um desejo aflorem, Ele já sabe de tudo. A Deus não se engana nunca. Andar corretamente na sua presença é a maior ventura que pode gozar o verdadeiro seguidor de Cristo.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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