sábado, 15 de agosto de 2015

O SANTO DE DEUS

O SANTO DE DEUS Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* Jesus havia declarado: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6, 54). Então muitos dos seus discípulos ao ouvirem estas palavras disseram: “É dura tal linguagem, quem pode escutá-la?” (Jo 6, 60). Isto significa que estes não haviam compreendido imediatamente a grande revelação do Mestre divino. Em Israel durante séculos todo sacrifício ao Ser Supremo passava por uma destruição. Com efeito, o trigo e outros produtos do solo eram queimados e sangue derramado de um ser vivo era também oferecido à divindade. Jesus iria estabelecer um novo ritual para o culto divino. Seu corpo e sangue, que seriam imolados no Calvário em reparação dos pecados da humanidade, ficariam presentes entre os homens sob os acidentes do pão e do vinho. Deste modo, os fiéis através dos tempos se uniriam a seu sacrifício através da Eucaristia. Esta seria seu legado supremo de amor, isto é, sacrifício, imolação incruenta do Gólgota e sacramento no qual Ele entraria em comunhão com os que nele cressem. Presença permanente que seria verdadeira, imediata, intensamente pessoal. Num gesto de incomensurável dileção na última ceia ele tornou o pão e o vinho e os transubstanciou em seu corpo, sangue alma e divindade. Eis por que Ele podia dizer: “Se vós não comerdes a carne do Filho do homem, vós não tereis a vida em vós”! Quem não tivesse fé só contemplaria sempre pão e vinho, pois não penetrariam nunca no mistério das palavras de Jesus. Por esta razão a Eucaristia seria atraente para quem acreditasse, opaca para os sem fé. Ela uniria os autênticos seguidores de Cristo e manteria muitos que se dizem cristãos longe da presença real do Redentor. Para os católicos as sentenças de Jesus no Cenáculo seriam espírito e vida porque eles atravessariam pela fé os sinais do pão e do vinho e perceberiam só os acidentes destes elementos para adorar o próprio Filho de Deus. A Igreja católica seria portadora através dos tempos do grande legado de Cristo: “Isto é meu corpo, isto é meu sangue”, Iluminados pelo Espírito da verdade os católicos jamais duvidariam da presença real de Jesus na Eucaristia. Repetem o que falou São Pedro quando Cristo indagou aos apóstolos se também queriam abandoná-lo por ter ele dito que todos deveriam comer sua carne e beber o seu sangue: “A quem iríamos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna e nós cremos e sabemos que tu és o santo de Deus”. (Jo 6, 68-69). Foi, sem dúvida, inspirado pelo Espírito Santo que São Pedro lançou esta sublime resposta. Jesus é, de fato, o Santo de Deus por possuir a santidade na plenitude da mesma, no mais alto grau. Assim Ele não somente é o ponto culminante da perfeição, mas sua verdadeira fonte. Ele comunica a cada um de seus seguidores a força para vencer o pecado em todas as suas funestas manifestações, pecado incentivado em nossos dias por uma mídia corrupta, imoral que afronta continuamente a Lei do Senhor. Da parte de cada cristão deve haver, contudo, a colaboração com a graça que Jesus oferece para refletir em todas as ações sua santidade. A vocação de todo batizado é ser santo, porque o Mestre divino é santo. Mais do que nunca na sociedade secularizada de hoje os cristãos têm necessidade urgente de ser santos vivendo intensamente tudo que Jesus ensinou, tornando visíveis e presentes por toda parte seu amor e a beleza de sua doutrina. A santidade cristã consiste então na união com Cristo de forma consciente e livre. Em consequência desta adesão ao Redentor se passa da fé ao plano moral. Aparece então a pratica das virtudes em sua verdadeira riqueza. Elas são cultivadas como realidades vividas deliberadamente e que penetram a existência da pessoa humana. Isto justamente por força da riqueza da doação pessoal a Cristo com a espontaneidade de uma vontade livre que une ao Filho de Deus ao qual o cristão se entrega com fervor e amor. Quanto mais cada batizado procura sua identidade com Cristo, o Santo de Deus, tanto mais cresce a dimensão eclesial com todos os que são de Cristo. São milhões que pelo mundo afora testemunham o que disse São Pedro: “A quem iríamos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna e nós cremos e sabemos que tu és o santo de Deus”. Disto tudo resulta a importância da Eucaristia na vida do seguidor de Cristo, pois no momento sublime da Comunhão se realiza o desejo de Jesus: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele”. Portanto, uma presença reduplicada de efeitos maravilhosos na existência de quem recebeu a Eucaristia. A santidade de Jesus, o Santo de Deus, passa a envolver o seu discípulo irradiando-se em todo seu ser, envolvendo, assim, todos os pensamentos, todos os desejos, todas as ações. Deste modo, quem comunga pode repetir com São Paulo: “Já não sou eu quem vive, é Cristo quem vive em mim” (Gl 2,20). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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