segunda-feira, 4 de maio de 2015

A ESSÊNCIA DA VIDA CRISTÃ

A ESSÊNCIA DA VIDA CRISTÃ Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* Do Pai ao Filho, do Filho aos discípulos, um só amor que a todos deve envolver eis o que ensinou Jesus ao dizer: “Como o Pai me amou também eu vos amei, permanecei no meu amor”. Acrescentou: “Este é o meu mandamento que vos ameis uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,9-17). Aí está a essência da vida cristã. Como o próprio Cristo explicou, permanecer no seu amor é observar os seus mandamentos. Isto inclui então uma perseverança e fidelidade absolutas a abarcar todas as ações do seguidor do Mestre divino. Ele sempre fiel aos mandamentos do Pai, se apresenta não apenas como um exemplo a ser imitado, um modelo que se exibe a seu epígono, mas se trata de uma conexão com a fonte deste amor que jorra da Trindade Santa. De fato, o Filho nos ama não com uma dileção qualquer, mas com o amor com o qual é amado por seu Pai desde toda a eternidade. Este amor que deve se irradiar entre os cristãos tem então uma característica própria bem diferente de uma simples filantropia por mais louvável que esta possa ser. Ultrapassa-a, pois leva à imolação pelo próximo visto como irmão. Assim sendo este nunca é agredido pela maledicência, pelo desprezo, por qualquer outro tipo de ofensa. O fundamento disto é uma fé profunda, uma vez que a comunhão das vontades é um dom que só se justifica na pessoa de Cristo vista na figura do próximo. Então a vida em comunidade, a começar da comunidade familiar, muda completamente de aspecto e o relacionamento com os outros se torna suportável por mais difícil que possa parecer. Como Deus nos ama gratuitamente sem restrições surge entre os que nele creem a boa convivência. O verdadeiro discípulo de Jesus vence, em consequência, suas atonias, seu orgulho, sua falta de lhaneza, de afabilidade, de amabilidade, de delicadeza. Entende-se, desta maneira, o que ensinou São Paulo aos Gálatas: “Fostes batizados em Cristo, revestistes-vos de Cristo. Não há judeu, nem gentio, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher, todos vós sois um só em Cristo” (Gl 3,27-29). Trata-se de abandonar qualquer exclusão e de triunfar sobre o egoísmo que causa tantos dissabores dentro de casa, no trabalho e leva tantas amizades a se perderem. Na relação com os pais os filhos muitas vezes revelam não gratidão, mas um lamentável desagradecimento, ignorando tantos sacrifícios que por eles foram e têm sido feitos. Em todas as circunstâncias o amor, realmente, exige reciprocidade. Entretanto, quer no ambiente doméstico entre os esposos e filhos, quer onde o cristão esteja, cumpre tomar sempre uma destas atitudes conforme as circunstâncias: ou calar para depois buscar ume explicação daquilo que causou algum aborrecimento ou delicadamente resolver logo o impasse. Como bem diz o ditado, é conversando que se entende. Entretanto, para isto, ou seja, para ser capaz de amar os outros em atos e em verdade é preciso possuir lá dentro do coração o verdadeiro amor que flui da permanência continua no amor de Jesus. Ele ensina como possuir uma dileção incondicional que se manifeste em gestos, palavras, ações. Em Cristo se aprende como amar e ser amado. Daí resulta felicidade, paz, tranquilidade, harmonia total. Foi Ele mesmo quem afirmou: “ Disse-vos estas coisas para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja perfeita”. Ser cortês, delicado, amável é difícil, mas quem se acha unido à fonte de verdadeira caridade sabe se dominar e nunca admite em o desamor. Esta fraternidade não se mede pelo barômetro do sentimento, mas, como foi dito, pelo grau da união com o Mestre divino. Daí jorra, realmente nas ações de cada instante o interesse e a dedicação ao próximo. Deste modo, se compreende que amar os outros é fazer com que eles nunca sejam ofendidos, não obstante os obstáculos e as sombras da debilidade humana. Nada mais honroso para o cristão do que caminhar nas veredas da caridade. Isto abre espaços no próprio coração e na existência dos outros. Quando o amor de Cristo encontra eco na vida de seu seguidor tudo muda em seu derredor. Por vezes a caminhada da abnegação é dolorosa diante das incongruências alheias. É neste instante que cada um deve fazer frutificar a paciência para que o fruto de seu amor permaneça, pois este cristão se sente, realmente, como um escolhido por Cristo para fazer os outros felizes. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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