sábado, 4 de abril de 2015
A DIVINA MISERICÓRDIA
A DIVINA MISERICÓRDIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No segundo domingo da Páscoa se comemora a festa da Divina Misericórdia, instituída por São João Paulo II em maio do ano 2000. A intenção deste Papa foi fazer um convite perene para os cristãos do mundo enfrentarem com confiança na divina benevolência as dificuldades e desafios que a humanidade iria enfrentar. O que é admirável no que tange a misericórdia de Deus é que não somente Ele está sempre pronto a perdoar, mas também a transformar quem nele confia. Jesus instituiu o Sacramento da Penitência exatamente para que o pecador arrependido tivesse a certeza absoluta de que obtivera o perdão de suas faltas. Ele foi claro ao dizer aos apóstolos no cenáculo: “Recebei o Espírito santo, àqueles a quem perdoares os pecados ficar-lhes-ão perdoados, àqueles a quem os retiverdes, ficar-lhes-ão retidos” (Jo 20, 22). Por maiores que fossem as faltas humanas a misericórdia contagiosa de Deus estaria sempre pronta para anistiar o pecador. A força medicinal do Sacramento do Perdão enche de energia e quietude sobrenaturais, alterando inteiramente a vida de quem tem fé, revalorizando seu arrependimento. Deus quer que todos participem de sua vida divina. Entretanto, cabe aos seguidores de Cristo ser arautos da compaixão do Redentor. Cada um deve perdoar o próximo do qual tenha recebido alguma ofensa, algum desprezo. Além disto, através da bondade, da amabilidade contínuas para com todos é possível irradiar pelo exemplo a ternura de Cristo. Diante, porém, de tantos crimes que se multiplicam mundo todo é preciso reparar a justiça divina, pedindo sempre a clemência de Deus para que tenha pena do gênero humano desviado dos caminhos do bem. Quando o cristão, numa prece fervorosa, oferece ao Pai os sofrimentos de Jesus para remissão dos pecados, está atraindo para toda a humanidade a anistia divina. É o poder da prece que vai atuar lá onde domina a ira e a sede de vingança, onde a guerra semeia a dor e a morte dos inocentes. A graça da misericórdia então solicitada com fé vai pacificar os espíritos e os corações, fazendo brilhar a paz. O amor misericordioso de Deus é necessário para que a dignidade humana seja respeitada e sua luz manifeste o valor inestimável da cada ser humano. Estes nobres desejos pela força mesma da oração influenciam a terra. Trata-se de uma maneira de transmitir ao mundo o fogo da compaixão de Deus. São João Paulo II mostrou que pelas preces se abrem espaços para a atuação indulgente de Deus. Ante a banalização do mal é preciso pregar por toda parte o arrependimento sincero para que pela transformação operada pela graça o mundo seja melhor. É de se notar que uma das aparições de Cristo Ressuscitado envolveu a figura de São Tomé. Este queria provas de que os outros apóstolos tinham estado com o Mestre. Através dos tempos muitos seriam os que duvidam, não obstante tantos sinais que lhes falam da veracidade do Evangelho, fazendo apelo à livre adesão às coisas sobrenaturais com lucidez e uma compreensão mais profunda. Num mundo marcado por tantos fanatismos e integrismos há os que se põem a questionar verdades basilares da fé. Diante de uma mídia que cria confusões e lança insinuações perversas contra a Igreja e o próprio Jesus Cristo todo cuidado é pouco. Quando Jesus convidou Tomé a colocar sua mão em suas chagas foi para que penetrasse no mais profundo de sua humanidade e divindade que haviam vencido a morte. Admirável o ato de fé do Apóstolo: “Meu Senhor e meu Deus” O reconhecimento da presença de Cristo fez cair por terra todas as suas reivindicações de provas e Tomé se rendeu à evidência. Jesus, porém, acrescentou: “Felizes os que não viram e creram”. É um ato de misericórdia dos que creem levar outros a entrar no mistério, lá onde o invisível se faz frequentemente mais real do que o visível e a dúvida desaparece e se abre à confiança. Então a morte e ressurreição de Jesus se constituirão num acontecimento que mudará o curso da História de muitos, graças à misericórdia do cristão que anuncia as maravilhas de Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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