segunda-feira, 30 de março de 2015
Viu e acreditou
VIU E ACREDITOU
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O gaudio pascal tem fundamentos bíblicos que justificam a euforia que se apossa do mundo cristão. A Páscoa lembra para os que acreditam na Bíblia a época de Moisés quando o povo hebreu foi libertado da escravidão do Egito. Os israelitas atravessaram o Mar Vermelho a fim de se encaminhar progressivamente para a terra prometida. Na Páscoa se festeja Cristo que passou da morte para a Vida. Uma passagem que fez renascer uma vida nova. Proclama a Liturgia: “O Rei da vida, morto, Reina vivo”. O sepulcro vazio no qual Cristo fora enterrado é de uma eloquência extraordinária. Notificados por Maria Madalena Pedro e João foram até lá e o Evangelista registrou que ele “viu e acreditou” (Jo 20,8). Então compreenderam que, segundo as Escrituras, Jesus devia ressuscitar dos mortos. A luz brilhou intensamente em seus corações. A morte não poderia nunca vencer o Messias enviado por Deus. Este, o Deus de Israel, era fiel e não podia abandonar seu Filho bem amado à morte e sua ressurreição era o penhor certo da vitória de todos os seus seguidores. O discípulo amado diante do túmulo vazio entendeu melhor a lógica do amor divino. O contexto atual mostra grandes mutações que marcam a humanidade e, entre tantas outas, a teoria da relatividade. a informática, a cibernética, a estrutura do DNA, a decifração do genoma humano. A Ressurreição de Cristo, porém, há mais de dois mil anos, já havia operado uma mutação muito mais profunda e duradoura. É certo que a Ressurreição do Redentor não resolve em si todos os problemas humanos, mas modificou todas as perspectivas, abrindo definitivamente para a existência do ser racional de todos os tempos uma dimensão essencial. Com efeito, a vitória de Jesus sobre a morte proclama solenemente que a injustiça, o ódio, os crimes mais hediondos, o desprezo dos poderosos para com os famintos e os que vivem na mendicidade não terão a última palavra. O triunfo de Cristo garante que as iniquidades de um mundo fechado em si mesmo e que provoca tantas lágrimas, tanto desespero não resistirão ao amor poderoso de Deus. São Paulo já havia apregoado “Sabemos, com efeito, que a criação inteira geme e sofre, em conjunto, as dores do parto, até o presente. E não só ela, mas nós próprios, que possuímos as primícias do Espírito, gememos igualmente em nós mesmos, anelando a adoção filial, a redenção do nosso corpo” (Rm 8,22-24).É que pela fé na Ressurreição do divino Salvador já fomos salvos. Esta salvação não falhará e, embora ainda não a tenhamos alcançado, pois somos peregrinos neste mundo, a aguardamos com paciência e isto enche a todos os cristãos de imenso gaudio. Eis por que as alegrias da Páscoa envolvem a todos. Nossa situação nesta terra é provisória e temos certeza de que participaremos da glória daquele que venceu o sofrimento, a morte e ressurgiu imortal e impassível. Até lá colaboramos, contudo, com Cristo Ressuscitado para melhorar sempre mais o mundo, vencendo o egoísmo e nos interessando pelos outros numa passagem contínua para o amor ao próximo, irradiando paz e alegria. Deste modo a Ressurreição de Cristo não é uma teoria abstrata, mas uma vida que transfigura as existências, iluminando-as e levando a muitos conforto e salvação. A Páscoa é assim um convite vivo para a mundialização do amor numa sociedade globalizada. Ressuscitar significa se colocar de pé. No dia da Páscoa Jesus apela a todos para se colocar de pé a fim de enxergar melhor os outros para ampará-los. Deste modo se partilham as alegrias deste dia glorioso. O cristão se torna artesão de uma humanidade nova. Cristo ressuscitado renove então nossa fé, nossa esperança e nossa caridade para que todos possam discernir em torno de si os sinais de sua presença. Poderemos então anunciar de fato: Alegremo-nos, Cristo Ressuscitou, venceu a morte e nos aguarda na outra margem da vida. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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