terça-feira, 6 de janeiro de 2015

ORAÇÃO FÚNEBRE

ORAÇÃO FÚNEBRE PROFERIDA PELO CÕNEGO JOSÉ GERALDO VIDIGAL DE CARVALHO NA MISSA DE CORPO PRESENTE DO DR. LÚCIO OCTÁVIO DE CARVALHO ARAÚJO NO SANTUÁRIO SANTA RITA DE CÁSSIA, DIA 6 DE JANEIRO DE 2015. Logo após as alegrias do Natal do Senhor a tristeza tomou conta de tradicionais famílias viçosenses com o falecimento do competente médico Dr. Lúcio Octávio Carvalho Araújo. Cumpre-se, ainda uma vez, o dito da Biblia: “À alegria sucede a tristeza” (Prov. 14,13). O Dr. Lúcio Octávio, Clínico Geral, radiologista e especialista em dignóstico por imagem, foi dedicadíssimo no exercício de um dos ramos da medicina mais importantes. Com efeito, a radiologia é a parte da ciência que estuda a visualização de ossos, órgãos ou estruturas através do uso de radiações sonoras, eletromagnéticas ou corpusculares, gerando desta maneira uma imagem. A interpretação desta imagem, porém, supõe, a competência daquele que a avalia. O Dr. Lúcio Octávio tinha profundos conhecimentos da arte clínica o que lhe abria um amplo horizonte na atividade hipocrática e isto lhe possibilitava dignósticos precisos com exatidão relatados. Formado pela renomada Faculdade de Medicina de Teresópoles, mantida pela Fundação Educacional Serra dos Órgãos, complementou seus estudos na Universidade Federal do Rio de Janeiro e colocou sua vida a serviço do próximo nesta nobilíssima profissão. Cumpre, de falto, nesta Missa de Corpo Presente, salientar, sobretudo a grande virtude do Dr. Lúcio Octávio que foi a caridade para com o próximo. Como clínico geral, nunca deixou de atender os mais necessitados e nisto se fez merecedor da bem-aventurança: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7). Ele se tornou credor da gratidão de muitos em todo município de Viçosa e cidades próximas salientando-se suas atividades no Hospital em Ervália. Lidou com a dor e a venceu com sabedoria inúmeras vezes. A Medicina foi para ele um sacerdócio, na confortadora e verídica expressão de tantos que o conheceram nas lides de tão difícil múnus. Mitigou sofrimentos. A inúmeros restituiu a saúde. Opus divinum est, sedare dolorem - é obra divina dulcificar a dor. Quando, porém, essa atividade celestial é exercida ministrando a caridade, diuturna e silenciosamente, é o requinte da perfeição evangélica. A caridade é, no dizer do próprio Cristo, a síntese da Lei e dos Profetas. Ela condensa todas as virtudes, na expressiva linguagem de São Paulo, “a caridade é paciente, é benigna; [...] não busca os seus próprios interesses [...] tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo sofre”. Leva à imolação. Vai à casa do rico e desce também ao tugúrio do pobre. Atravessa os espinheiros de todas as misérias humanas. Navega os rios dos sofrimentos alheios. Não conhece dia nem hora, pois está sempre atenta. Vaporiza lágrimas. Precata contra as ondas das tristezas. Desce ao mais profundo recôndito do coração que sofre. Dá do muito. Dá do pouco. Faz-se tudo para todos, para salvar a todos. Assim foi a caridade daquele cuja alma estamos sufragando nesta Missa de Corpo Presente. Os mais necessitados membros de nossa Comunidade, de fato, tinham guarida certa junto de seu coração que se compadecia dos sofredores e sabia aliviá-los, Quantas vezes atendeu cuidadosamente o enfermo desamparado, em todas, estava ele ao lado do Mestre Divino. Praticou, deste modo, inteiramente, o principal preceito de Cristo que fez da caridade o seu mandamento. A caridade é um empréstimo de sua bondade que Deus concede à criatura, porque lhe adianta, em horas de profunda eutimia, de íntima paz com a consciência, a recompensa de ter amado e ajudado ao próximo. Tal foi a ventura contínua deste médico caridoso, que levou a solidariedade humana a milhares de necessitados. Neste momento este sacerdote, que profere esta Oração Fúnebre, daqui do Santuário Santa Rita agradece lá no céu ao Dr. Lúcio Octávio pela assistência que deu a sua mãe, Maria Augusta Vidigal de Carvalho, indo com rara dedicação à Casa da Praça do Rosário, prodigalizando os efeitos de sua sabedoria médica, nas inúmeras vezes que era lá chamado. A tudo isto se acrescente que o Dr. Lúcio Octávio era uma pessoa de uma fé inquebrantável, modelo do verdadeiro cristão, cumpridor fiel de seus deveres religiosos. Encarnava um ideal de uma transparência primorosa e de uma significação encantadora, porque suas ações pindarizavam uma dos personagens mais dignos de admiração por ser um exemplar seguidor de Cristo na plenitude do termo. Sempre em equilíbrio nas suas ideias e nos seus atos. Polido como um parisiense, sério como um londrino, era um cristão de virtude sem rugas. Enorme sua devoção a Nossa Senhora de Fátima, devoção que ele irradiou por toda parte em plagas viçosenses, sobretudo, na Paróquia a ela dedicada. Promoveu a consagração dos Lares de Viçosa ao Imaculado Coração de Maria. Presidiu com perseverança o “Grupo da Imaculada” nesta urbe universitária. Em sua residência à Avenida Bueno Brandão possuía uma artística imagem que ele trouxe consigo da Europa. Diante dela por muitos anos com seus pais e depois com suas irmãs e outros parentes rezava com rara piedade e devoção o terço. Ele foi honra e esplendor da Igreja de Jesus Cristo, católico sem jaça a ostentar peregrinas virtudes. Muito se gloriava de ser irmão do Pe. José Eudes, que é uma das figuras exponenciais do clero marianense o qual preside esta Missa exequial. Estamos amados irmãos e irmãos ainda uma vez diante do problema da morte. Os médicos também morrem! O Concílio Ecumênico Vaticano II, na Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”, nos fala, no Capítulo I, sobre o Mistério de Morte: “Diante da morte, o enigma da condição humana atinge seu ponto alto. O homem não se aflige somente com a dor e a progressiva dissolução do corpo, mas também, e muito mais, com o temor da destruição perpétua. Mas é por uma inspiração acertada do seu coração que afasta com horror e repele a ruína total e a morte definitiva de sua pessoa. A semente de eternidade que leva dentro de si, irredutível à só matéria, insurge-se contra a morte. Todas as conquistas da técnica, ainda que utilíssimas, não conseguem acalmar a angústia do homem, pois a longevidade que a biologia lhe consegue não satisfaz o desejo de viver sempre mais, que existe inelutavelmente em seu coração. Enquanto toda imaginação fracassa diante da morte, a Igreja, contudo, instruída pela Revelação divina, afirma que o homem foi criado por Deus para um fim feliz, além dos limites da miséria terrestre. Mais ainda. Ensina a fé cristã que a morte corporal será vencida um dia, quando a salvação perdida pela culpa do homem lhe for restituída pelo seu onipotente e misericordioso Salvador. Pois Deus chamou e chama o homem para que ele, com sua natureza inteira, lhe dê sua adesão na comunhão perpétua da incorruptível vida divina. Cristo conseguiu esta Vitória, por sua morte, liberando o homem da morte e o ressuscitando para a vida. Para qualquer homem que reflete, apresentada com argumentos sólidos, a fé dá-lhe uma resposta à sua angústia sobre a vida futura. Ao mesmo tempo, oferece a possibilidade de comunicar-se em Cristo com os irmãos queridos já arrebatados pela morte, trazendo a esperança de que eles tenham alcançado a verdadeira vida junto de Deus”. Em momento de tanta dor para os parentes, os amigos e admiradores do Dr.Lúcio Octávio essa doutrina tão profunda conforta e alivia. É lenitivo e bálsamo. A morte é, de fato, a lúcida aurora da eterna vida. Há personagens que evitam o rolo compressor do tempo e vencem a intransigência do olvido. Uma obra notável na medicina a favor de várias comunidades permanece perene através das gerações. Seu nome há de continuar na saudade e nas preces de todos. A memória dos grandes homens jamais é sepultada. A presença daqueles que aqui se acham no Santuário Santa Rita é um testemunho do valor de alguém que, a exemplo de Cristo, pertransit benefaciendo et sanando infirmos – passou fazendo o bem e curando enfermos. Desejaria estar aqui presente o Sr. Arcebispo de Mariana, D. Geraldo Lyrio Rocha, mas como S. Exa. informou ao Pároco Pe. Paulo Dionê Quintão, compromisso inadiável em Vitória, no Espírito Santo, o impedia de vir até Viçosa. Lá ele sufragaria a alma do Dr. Lúcio Octávio na Santa Missa que celebraria nesta intenção. Aqui no Santuário Santa Rita todos pedimos a Deus com a Liturgia da Igreja: “Dai, Senhor, ao Dr. Lúcio Octávio, o descanso eterno e a Luz perpétua o ilumine”!

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