segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

CONVERTER E CRER

CONVERTER E CRER Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* Taxativa a determinação de Cristo: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). João Batista havia pregado a conversão, a qual devia consistir na retificação de vida como Jonas havia proclamado aos ninivitas. Jesus, porém, vai além, uma vez que Ele pede um convertimento total do coração, uma entrega radical ao verdadeiro amor a Deus e ao próximo. É óbvio ser necessária a correção moral, mas cumpre não parar aí. A imersão na dileção divina precisa envolver inteiramente toda a pessoa do cristão, seu corpo e sua alma. Isto leva a contagiar os outros com o amor de Deus. Faz do fiel um combustível para libertação das imitações grotescas e enganosas da fé autêntica que necessita abranger tudo que Jesus ensinou. Esta conversão dispõe então o discípulo de Cristo a crer integralmente no Evangelho. Fuga total daquilo que o notável teólogo José Inácio do Vale chamou de “emocionalismo como se fosse renovação, catarse como se fosse conversão, autossugestão e condicionamento como se fossem cura e libertação e doutrinas heréticas como se fossem a doutrina de Cristo e dos apóstolos”. Fé irradiante na presença real de Cristo na Eucaristia, nos outros sacramentos que conferem a graça, na renovação incruenta do sacrifício de Cristo através da Missa, enfim, fé em todos os dogmas proclamados pela Igreja Católica. Deste modo se pode viver plenamente o amor ilimitado de Deus. A conversão e a fé são inseparáveis e nascem do contato contínuo com o divino Redentor, o que conduz à vivência plena de sua doutrina. A Boa Nova acolhida num coração sincero modifica radicalmente a mentalidade; Daí o termo metanóia, ou seja, transformação fundamental de pensamento e de atitude, uma total conversão espiritual. Esta resulta da união com Cristo, cujas palavras se traduzem em todos os pensamentos e atos de seu seguidor. Nós continuamente com Ele e Ele crescendo continuamente em nós. Daí o aborrecimento de qualquer pecado e a retirada rápida e sem tergiversação de toda ocasião perigosa que coloca em risco esta identificação com o Mestre divino. Junto dele o cristão se purifica, se enche da autêntica alegria e se imerge na verdadeira sabedoria. Este é aquele que, segundo o salmo 14, “anda sem mácula e pratica a justiça e diz sinceramente o que tem no coração. Não leva na língua a calúnia, nem faz mal ao seu semelhante, nem admite palavras infamantes contra o seu próximo, o que tem por desprezível o criminoso, mas honra os tementes a Deus”. Desta forma se dá o que ocorreu com aqueles pescadores que Jesus chamou e transformou em missionários, sendo eles os quatro primeiros apóstolos. Eles deixaram tudo e O seguiram. A conversão e a fé na Boa Nova anunciada por Cristo exigem, realmente, o empenho corajoso e persistente no apostolado. Célebre a exclamação de São Paulo: “Ai de mim se eu não evangelizar” (1 Cor 9,16). É preciso, de fato, partilhar esta venturosa experiência com parentes e amigos para que todos façam do Evangelho sua regra absoluta de vida. Trata-se de fazer desabrochar em torno de si o esplendor de uma vida totalmente conforme o Evangelho. Grande a responsabilidade de quem se diz cristão, pois, conforme o descreveu o próprio Cristo o batizado deve ser “luz do mundo, sal da terra” (Mt 5,13.14). Donde sua ordem: “Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). Para isto o que Jesus espera de cada um é a irradiação de seu amor que deve fluir do mais profundo do coração e da mente de seu epígono. Este amor metamorfoseia todos os outros amores do seu discípulo que então pode usufruir plenamente tudo de bom que Deus colocou neste mundo. Quem afirma isto é o Apóstolo Paulo na Carta aos Romanos: “Nós sabemos que Deus em tudo coopera pra o bem daqueles que o amam, desses que segundo os seus desígnios foram chamados. Pois àqueles que ele distinguiu na sua presciência, predestinou-os também para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que este seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8,28-30). Tudo isto é consequência venturosa para aquele que compreendeu a determinação de Jesus: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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