quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

A LUTA ENTRE O BEM E O MAL

A LUTA ENTRE O BEM E O MAL Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* Para atingir o ideal da perfeição traçado por Cristo no Evangelho é essencial ao cristão é estar de atalaia contra as insídias diabólicas. O alerta de São Pedro é meridianamente elucidativo: “Sede sóbrios e vigilantes! Eis que o vosso adversário o demônio vos rodeia como leão a rugir, prestes a vos devorar. Resisti-lhe firmes na fé” (1 Pd 5,8-9). Satanás é o representante de todos os falaciosos ideais que dominam a pessoa humana e toda a sociedade. Ele se veste de anjo da luz (2 Cor 11,14). Sob as falsas aparências de amigo incita o homem a se opor a Deus. Entre as capciosas invectivas do inimigo infernal está a ilusão que ele oferece a muitos os quais passam a se julgar perfeitos e não se dispõem então a corrigir os seus defeitos. Ocorre neste caso o autoengano numa atmosfera de ambiguidade e de obscuridade, caminho certo para o pecado. O espírito do mal faz o cristão se sentir superior aos outros e se considerar como um poço de virtudes. Sob a aparência de bem procura alienar de Deus o coração e a mente das criaturas. É preciso, porém, reagir a estas situações. Entre estas reações está a batalha para reformar o humor, ou seja, a disposição de espírito para se viver na paz interior, solidificado o fiel numa fé arraigada. Isto é necessário para sobrepor a alma em estado de graça às injunções perturbadoras exteriores. A serenidade oferece o clima para a busca do aperfeiçoamento próprio. O discípulo de Cristo percebe deste modo, sem agitação, que há um embate contra si mesmo para fechar as portas aos embustes satânicos. É a hora na qual, iluminado pelos lampejos divinos, o cristão passa a enxergar suas imperfeições, suas deficiências e seus vícios. Estes devem ser combatidos com coragem e sem desalento ou desejos ilusórios. Numa atitude humilde o batizado passa a reconhecer sua finitude e sua inclinação para o mal, mas não desespera confiado em Deus que o ampara nesta pugna espiritual. Não se entrega a um ardor imprudente, desejando atingir logo os cumes da santidade. A caminhada é longa e a peleja árdua e só terminarão quando se deixar este mundo. Cumpre se revestir das “armas da luz” de que fala São Paulo (Rm 13,12). Luta contra a sensualidade que impele o homem à busca dos prazeres e à fuga do esforço. Se não se opõe à mesma, passa-se a viver só unicamente em função do que agrada, escravo da autocondescendência e do hedonismo. Quando o epígono de Jesus resolve vencer a sensualidade, nem os cegos desejos, nem a fraqueza, nem o cansaço, nem os sofrimentos podem então derrotar o guerreiro de Cristo. Este só tem em vista o que pode ser do agrado de seu Senhor. Afasta-se do egoísmo, da preocupação exclusiva com o próprio interesse, deixando de se concentrar unicamente em si mesmo. Deixa de se abrigar na fantasia na qual se protege contra a realidade. Afasta a possessividade que é a tentação da cobiça com sua ampla gama de articulações nefastas. O anseio mórbido de possuir objetos materiais, de impor sua personalidade, de ter fama torna o cristão ídolo de se si mesmo. Não permite desta forma que o Reino de Deus chegue até ele. Quem, porém, enfrenta a possessividade volta-se para Deus, para o próximo e para os verdadeiros valores. Fica indene da insegurança. Como ressaltou João, Bispo de Nápoles num de seus célebres sermões: ”O homem interior, recebendo a luz, tem o passo firme, não abandona o caminho, tudo tolera. Vê ao longe a pátria celeste, por isso suporta as adversidades, não se entristece com as vicissitudes terrenas, mas em Deus se fortalece; é senhor de si, tudo suporta com paciência e humildade”. Nunca baixa as armas, insiste até o fim e poderá, um dia, repetir com o Apóstolo: “Combati o bom combate, cheguei ao término de minha carreira, guardei a fé. Desde agora me está preparada a coroa de justiça que o Senhor me há de dar em prêmio” ( 2 Tm 4, 7-8). É que, atento às inspirações divinas, nesta trajetória terrena tal cristão se mostra sempre disposto a progredir no temor e no amor de Deus. Este não dispensa o esforço pessoal, mas a vitória final é uma operação de sua graça, sem a qual ninguém é capaz de praticar o bem e crescer na perfeição. O ponto culminante desta ascensão é o triunfo completo sobre o amor próprio e suas funestas consequências, dado que então passa a imperar unicamente na vida do batizado a total submissão à vontade divina. Fica afastada a soberba interior, pois o fiel reconhece que o Senhor Onipotente é quem opera nele maravilhas. Mesmo porque, “Deus dispersa os orgulhosos e eleva os humildes, como asseverou a Virgem Maria no seu canto “O Magnificat” (Lc 1,51-52). Estes chegam à perfeição, pois se abandona nas mãos de seu Senhor e nada atribui a seus méritos pessoais. Está, porém, sempre a repetir com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fl 4,13). Cristo é para ele o farol, o sol de justiça e exclama com o salmista: “O Senhor é minha luz e minha salvação, a quem temerei?” (Sl 27,1). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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