segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O ADVENTO E A VIGILÂNCIA

O ADVENTO E A VIGILÂNCIA Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* O tempo litúrgico do Advento é uma espera da chegada do Filho do homem. Assim a preparação para o Natal se dá sobe o signo da expectativa de um novo encontro especial com o Divino Redentor. Aquele que nasceu em Belém, um dia voltará para o julgamento final da humanidade. Ele, porém, advertiu: “Acerca daquele dia e daquela hora, ninguém sabe nada, nem os anjos do céu, nem o Filho, exceto o Pai”, Por isto Ele acrescentou: “Estai alerta! Vigiai e orai, porque não sabeis quando será o tempo” (Mc 13, 32- 33). O regresso do Filho do Homem será surpreendente. Assim sendo, para esperar o acontecimento final, é preciso estar em estado de vigilância, vivendo profundamente a fé na Encarnação e no Nascimento do Verbo Eterno de Deus que entrou na História humana. Através de Liturgia todos os acontecimentos relativos ao divino Redentor não são uma mera recordação de fatos passados, mas a revivescência de todas as graças relativas ao mistério celebrado. Deste modo como Mestra Espiritual a Igreja, através dos ciclos litúrgicos, ajuda os fiéis a crescer na santidade. Trata-se do crescimento espiritual de cada batizado ao qual vão sendo recordadas as grandes verdades que Deus revelou. A cada ano o Espírito Santo faz com que os fiéis descubram novos aspectos dos eventos salvíficos. A Liturgia abre assim uma fonte de sabedora para que todos cresçam em graça e perfeição. Há sempre algo a modificar na maneira de pensar e viver. O Advento se concentra na vida de Cristo, primeiro lá em Belém, depois, como lembra o texto do Evangelho na sua vinda no final da História. Num mundo atormentado pelas rápidas evoluções sociais e tecnológicas, mais do que nunca é preciso a vigilância. Do contrário o mês de dezembro marcará apenas o final de mais um ano e a própria festividade natalina ficará esvaziada de seu significado profundo. Cumpre estar atentos diante da aceleração dos fatos. Isto é tanto mais necessário quando se percebe que se vive numa sociedade de consumo que exige previsão em todos os lances da vida diária. Prever é a atitude do ser humano ante a sequência irreversível dos fatos que fazem até que se perca a noção exata do tempo. Aí entra a vigilância que deve levar o cristão a parar, a refletir e a atinar com o verdadeiro sentido de sua existência, indo além da previsão meramente humana. É o sair do tempo dos homens, para entrar no tempo de Deus. Trata-se da confiança absoluta na gratuidade dos dons divinos pelos quais se podem sacralizar as ações temporais. Isto guiará a uma preparação próxima para o Natal e para uma preparação constante para a chegada imprevisível da volta do Filho do Homem. Isto torna o cristão consciente de sua responsabilidade pessoal, atento à hora do reencontro com Cristo no Natal e no final da História. Esta vigilância para os encontros com Cristo desperta o desejo, a audácia na confiança, abandono na prece fervorosa e na disponibilidade para a preparação para o Natal e para o derradeiro encontro com o Senhor. A esperança do cristão deve ser dinâmica. Ela incita a se afastar do que é secundário para melhor acolher o Reino de Deus. Alerta São Paulo: “É este o momento de sair de nosso sono”. Se é verdade que a vigilância não nos ajuda em nada a prever o dia e a hora em que o Senhor voltará, ela guia o cristão para estar sempre preparado. Deste modo ela não é inútil, mas essencial na vida cristã. Assim, a pedagogia do Advento convida a marchar na luz do Senhor que encontraremos no Natal e, um dia, na volta de Cristo ao mundo na parusia, ou seja, no retorno glorioso de Jesus. É que a vigilância espera tudo e se fundamenta na fé nas promessas de Deus. É fruto da confiança num Ser Todo-Poderoso, maior que todos os projetos humanos. A imprevisibilidade do dia do retorno de Cristo é uma prova para a liberdade humana, mas projeta o amor imenso daquele que se fez homem para nos salvar. A fidelidade a este Deus é capaz de libertar cada um de todos os entraves para um final feliz de sua trajetória terrena. Esta vigilância prepara então para a celebração do mistério natalino, levando a discernir o nascimento de um Deus nas situações de pobreza humana, de fragilidade social, de vulnerabilidade. Ele veio para ensinar como bem se preparar para sua volta gloriosa. Nosso futuro é aquele que o Senhor aponta no seu Natal: Ele vem sempre ao encontro de suas criaturas e estas, se estão vigilantes, se mostram aptas para se envolver nos eflúvios de suas graças, de suas iluminações que impedem que o transitório desta vida não obstaculize a glória eterna que está reservada para os que aceitarem o seu Reino de Amor. Jesus, porém, foi claro: “Vigiai e orai”. É preciso aguardar o futuro sem fugir do instante presente. Este é o momento no qual cada um se prepara para o encontro definitivo com Ele. É necessário então quebrar o muro da autossuficiência que não permite ver os impasses que impedem o final feliz no retorno de Jesus,* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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