segunda-feira, 15 de setembro de 2014

DEUS CHAMA A TODAS AS HORAS

DEUS CHAMA A TODAS AS HORAS Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho* Através de uma parábola, Jesus mostrou a seus discípulos que “O reino dos céus é como a história do patrão que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para s sua vinha” (Mt 20). Observemos de início que Cristo fala em parábola, gênero literário por ele muitas vezes usado. Ao contrário da alegoria numa parábola é preciso procurar o ponto central da mensagem, porque nisto se encontra a lição principal do Mestre divino. O resto são detalhes que permitem oferecer um contraste, visando forçar a atenção e a avivar o interesse do interlocutor. Não era intento de Jesus manifestar a relação complexa entre patrões e trabalhadores numa ótica, por exemplo, neo-marxista. São João Crisóstomo que meditou profundamente esta parte do Evangelho levantou uma questão inicial de sumo valor, ou seja, “porque o empregador não chamou todos os operários ao mesmo tempo? Porque renovou o chamado durante todo o dia?” O douto exegeta e teólogo responde dizendo que o desejo de Deus foi chamar a todos ao mesmo tempo para o seu Reino. Entretanto na sua delicadeza e paciência Deus chama na hora mais oportuna que convém a outros convidados. Os apóstolos logo o seguiram, mas Dimas, por exemplo, só entraria no céu na última hora. Ele que é o Senhor do cronos e de sua vinha escolhe o instante mais propício para poder escutar o sim do ser racional que é livre. De fato, os homens se dão a Deus em idades e circunstâncias diferentes. Imperscrutáveis são os desígnios divinos. Aí vem, em seguida, a questão do pagamento. O patrão fora claro ao dizer que daria o salário justo, no caso, uma moeda de prata. O pagamento começou pelos últimos contratados para que os primeiros testemunhassem o que ele faria. Os primeiros assistem a paga dos últimos e percebem que é a mesma para todos. É que para Deus não há privilegiados. Todos são tratados igualmente. A medida de Deus é uma medida plena aos chamados para o seu Reino através de Jesus. Deus dá o máximo a cada um. O essencial da questão não é a generosidade de Deus como se faltasse qualquer coisa aos trabalhadores da primeira hora. O problema se situa do lado humano que estima injusta a liberalidade divina e cai então no pecado da inveja. No fundo a parábola lembra uma verdade essencial da fé: Para todos que crêem não há diferença perante o Ser Supremo. Com bem se expressou São Paulo na Carta aos Romanos (3,22-31), todos os homens pecaram e são privados da glória de Deus, mas todos foram gratuitamente justificados por pura graça divina. Todos justificados pelo Senhor Onipotente que ama a todos os homens em particular. Sua generosidade não tem limites e não é demarcada pelos méritos de cada um. Este Deus ultrapassa a justiça dos homens para dar infinitamente mais a cada um, mais do que ele tem direito a receber. Resta então louvar a bondade do Criador, Senhor de suas graças. Deste modo esta parábola encerra um ensinamento de sumo valor para a vida espiritual. Deus, realmente nos chama a todos e em todas as horas. Cumpre estar atentos. Notemos sempre, porém, que o chamamento divino é bem mais importante do que a recompensa advinda da correspondência ao convite do Pai. Toda atenção é pouca para escutar o apelo divinal para, imediatamente, segui-lo. É de se observar finalmente que o patrão da parábola, dando a todos a mesma paga, mostra que levou em conta não só o que prometera a cada um, mas também sua necessidade de emprego. Isto bem ao contrário de nossa sociedade capitalista que baseia a recompensa unicamente nos interesses econômicos dos ricos e, nem sempre, cuida dos trabalhadores nas mais diversas empresas. Deus se fundamenta muito mais nas necessidades pessoais de cada um, de cada pessoa em particular. É preciso haver o perfeito equilíbrio entre o salário e o mérito, um salário segundo as precisões de cada ser humano. O trabalho nunca pode ser considerado uma mercadoria, pois quem o faz é alguém criado à imagem e semelhança de Deus e possui também a dignidade de filho bem-amado deste Deus de bondade infinita. Os sindicatos e demais corporações trabalhistas nem sempre observam a estrita justiça e as reivindicações, mesmo porque há poucos ganhando muito e muitos recebendo pouco. Não assim na vinha do Senhor que é a Igreja para a qual todos são chamados a trabalhar, certos de que nela não há discriminação, mas aí reina a benignidade de um Deus poderoso e infinitamente generoso. Ele precisa de sacerdotes, diáconos, catequistas, agentes comunitários para seu plantio que é o anúncio do Evangelho. Que cada um pese seus atos e se dê conta de que é preciso ser evangelizador. Não se preocupe com a recompensa, pois o Senhor sabe retribuir. Nunca é tarde para atender o seu convite! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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