segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A RECUSA DO DOM

A RECUSA DO DOM Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho* Deus é paciente, porque Ele é eterno, mas tudo tem um limite. A parábola dos vinhateiros ilustra esta verdade (Mt 21,22-43): O dono da vinha diante da perversidade de seus empregados só tinha como recurso puni-los severamente. Como bem afirmou o Profeta Isaías, o Todo-Poderoso “esperava obras de bondade e eis iniquidade” (Is 5,1-7). A vinha do Senhor é a Igreja e nela cada um deve corresponder às benesses divinas e não recusar os dons recebidos. Deus oferece tudo que é necessário para a prática do bem, mas é preciso correspondência da parte do ser racional. Os vinhateiros da parábola guardavam os frutos para si e furtavam o patrão e cometeram assassinatos, aumentando o seu crime. Os homens não são proprietários do que recebem de Deus, mas gestores que devem ser proficientes, honestos, corretos em tudo. Uma falta grave dos vinhateiros foi a avareza, que é um pecado capital, fonte de muitos desvios morais. São Francisco de Sales ofereceu um critério para se saber se a sovinice reina no coração de cada um. Diz ele: “Sois avaros se vós desejais longamente, ardentemente e com inquietude os bens que não tendes”. Mesmo tendo muitas coisas em seu derredor o avaro vive torturado, atormentado. Dá-se, deste modo, o desprezo daquilo que já recebeu do céu, desejando sempre mais. Nem se pode esquecer de que, na medida do possível, cumpre ajudar o próximo. O Vaticano II dizia: “O homem não deve jamais ter coisa que ele possui legitimamente como pertencendo apenas a ele, mas deve olhar também tudo como comum. Neste sentido de que o que possui pode ajudar não só a si mesmo como aos outros” (GS 69). De acordo com o que ensina a Parábola dos vinhateiros os frutos são sempre obra do Senhor Onipotente. A avareza gera a insensibilidade do coração, a inquietação, a traição, o prejuízo alheio. Trata-se da malícia de uma vontade mal controlada. Os vinhateiros referidos por Jesus se tornaram mortíferos. São os que querem possuir tudo como acontece com tantos políticos que desejam tudo para si, esquecidos dos cidadãos que jazem na miséria numa exclusão lamentável. Além disto, a Parábola dos vinhateiros convida a todos para refletir sobre os bens com os quais Deus cumula cada um. É preciso que esta riqueza gratuita frutifique com inteligência e boa vontade. Como lembrou o Profeta Isaías, não podemos ser uvas selvagens, mas de boa qualidade através das virtudes praticadas. Bem recordou o teólogo Jerônimo João que é necessário sempre “uma resposta ao amor incondicional de Deus”. Esta dileção inclusive está bem representada no filho do patrão que também foi morto pelos vinhateiros, pois o Pai enviou seu Filho Unigênito ao mundo para salvar a todos. O Messias era o herdeiro das promessas feitas a Abraão e Ele foi lançado fora da vinha, fora da cidade e seus inimigos O mataram no alto de uma Cruz. Convém ainda ressaltar que uma das sentenças de Jesus nesta Parábola, citando o Salmo 118 concerne a todos: “A pedra rejeitada pelos construtores se tornou a pedra angular”. Muitos são aqueles que através dos tempos afastam deliberadamente ou por ignorância e, até, por malícia a pedra angular que é Jesus. Não se importam com os valores que Ele trouxe a este mundo. Recusam-se as perspectivas que Ele abre. Revolta-se contras as exigências que Ele faz sobre os direitos de Deus e os deveres dos homens. Deixam-se de lado suas mensagens como pedra improfícua, inútil. O hermeneuta João Cristiano alerta sobre os meios mais diferentes para debilitar a influência do Filho de Deus. Como outrora nos tempos do imperador Juliano, diz ele, tudo é feito para deslustrar a Igreja, os Sacramentos são desprezados, Maria a Mãe de Cristo não é amada e venerada e se multiplicam promessas vãs de uma prosperidade material num comércio condenável com Deus. É a marginalização dos tesouros que Cristo trouxe ao mundo. Luta feroz contra destabilização da fé nas verdades reveladas. Cumpre então uma evangelização contínua, persistente na vinha do Senhor, que leve à construção de uma sociedade mais humana. Os batizados devem dar frutos opimos para que o Filho de Deus esteja, de fato, no coração do mundo. A Palavra de Jesus, mais bela e sólida que nunca, precisa iluminar a humanidade, pois Ele é a Pedra Angular . Os cristãos devem também ser pedras vivas na construção da verdadeira vinha do Senhor. Ação missionária movida pelo amor que vence todas as oposições a Jesus, expectativa de uma terra fraterna e menos agressiva à vida. Esta esperança faz progredir, porque os olhos estarão levantados para Aquele que o Doador de todos os bens que devem ser cuidadosamente administrados!* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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