sábado, 18 de junho de 2011

JUBILEU DO PAPA

JUBILEU DE ORDENAÇÃO SACERDOTAL DO PAPA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No dia 29 de junho deste ano completam-se sessenta anos da ordenação sacerdotal do Papa Bento XVI, cuja cultura continua encantando a quantos o escutam, lêem e estudam seus livros. Os experts em ciências religiosas proclamam a profundidade de sua cosmovisão e de sua hermeutica das Escrituras, trazendo para o contexto atual diretrizes luminosas e abordando ângulos que passam desapercebidos a muitos que não decodificam a magnitude das verdades reveladas. Firmeza teológica sempre o distinguiu e isto explica, inclusive, a maneira sábia com que vem hoje orientando a Igreja. Realiza ele em plenitude o que sempre desejara seu antecessor Pio XII, ou seja, é sadiamente moderno. Suas encíclicas demonstram uma abertura admirável diante dos problemas atuais e fazem respirar a atmosfera do novo milênio numa nova visão de um cristianismo que deve dar forma à mentalidade dos que vivem todo o bulício de uma época inteiramente diferente com suas luzes e obscuridades, grandes realizações e retrocessos que afetam a dignidade do ser humano. Antes mesmo de ser ordenado presbítero, a seis décadas passadas, como estudante de teologia ele sempre propunha novas questões e visava uma espiritualidade que descobrisse a alegria imensa da Redenção operada por Cristo. É que a imensa riqueza da doutrina deixada pelo Mestre divino e conservada pela tradição dos grandes teólogos pode e deve criteriosamente ser aprofundada e expressa nos diversos contextos históricos para que a Boa Nova ilumine ininterruptamente todas as gerações. A missão de Bento XVI de estar à frente do Rebanho do Redentor nos primeiros anos de um novo milênio tem acentuado sua capacidade de entender os novos tempos sem comprometer a essência da mensagem cristã. Embasado num conhecimento extraordinário do tomismo, o que o permite comunicar com uma limpidez encantadora, ele faz aparecer de uma forma notória o personalismo agostiniano que dá um tom especial no seu modo de expressar. Um exemplo disto é a distinção que Joseph Ratizinger deixa clara entre a sabedoria e o conhecimento, os quais devem estar sempre conexos, aliados, contudo, a uma grande humildade para se poder ter acesso à verdade. Em São Boaventura, vulto notável do neo-agostinismo, portanto, continuando assim na alheta do Bispo de Hipona, se pode pinçar no pensamento ratizingeriano laivos da noção modernista de subjetividade o que fez com que ele já como papa pudesse apresentar suas reflexões pessoais sobre lances da vida de Cristo sem comprometer a objetividade dos fatos narrados no Evangelho. Cristo sempre o centro de todo conhecimento, mas apenas a fé é capaz de separar a luz de qualquer obscuridade, mesmo porque seu campo ultrapassa de muito as conquistas da razão, é bem mais vasto. Deve-se, de fato, buscar um posicionamento correto entre o fideismo e o racionalismo. Estava, assim, o atual Papa bem escudado para enfrentar os desafios intelectuais e culturais do final do século vinte, tendo podido influenciar positivamente nos documentos do Concílio Vaticano II. Sua colaboração foi decisiva sobretudo para os textos sobre a Igreja, a Revelação divina, a atividade missionária da Igreja. Deste modo ele impediu que aspectos meramente sociológicos prevalecessem. A doutrina cristã não poderia se ajuntar aos conhecimentos humanos meramente como um toque final. Tudo que se acredita no Credo cristão, por ser profissão de fé, pode e deve estabelecer sua inteligibilidade e sua racionalidade próprias. A Cruz estabelece um divisor de águas entre a Igreja e o mundo. A Igreja não deveria nunca perder sua identidade por entre as ondas das correntes filosóficas contemporâneas. A mensagem cristã é a única verdadeira força de libertação, foi a postura firme de Ratzinger por entre as discussões conciliares. A salvação só pode advir do Evangelho, não da filosofia ou da ciência, seja ela qual for. Baseado nestas convicções, como Papa, ele tem podido orientar os cristãos por entre as grandes mudanças trazidas pelo último Concílio e os sinais dos tempos. Para ele os desertos da pobreza, da fome, da sede, do abandono, da solidão, do amor destruído, do afastamento de Deus, todos os desertos exteriores são resultados dos desertos interiores. Eis suas palavras no livro-entrevista “Luz do mundo”: “Que o homem está em perigo e que coloca em perigo a si mesmo e ao mundo, hoje é confirmado também por dados científicos. Pode ser salvo se em seu coração crescerem as forças morais; forças que podem brotar somente do encontro com Deus. Forças que opõem resistência”. É, por tudo isto, que a sólida cultura de Bento XVI tem sido capaz de revestir de tanto esplendor a Cátedra de Pedro, chegando, após sessenta anos de sacerdócio, a ostentar a pujança de uma sabedoria que não se dobra às invectivas do positivismo nem de um modernismo espúrio, porque fundada num profundo conhecimento teológico. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

Um comentário:

  1. Boa noite Senhor Cônego José Geraldo! Penso eu que o senhor encontrou a chave da felicidade, pois eu O considero sábio.Obrigada pelos textos. Que Deus te traga na palma da Mão. Fátima.

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