segunda-feira, 13 de junho de 2011

CORPUS CHRISTI

CORPUS CHRISTI
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
O motivo principal para a instituição desta festa foi a revelação que teve Santa Juliana de Mont Cornillon, em Liège na Bélgica. A ela deu-se uma aparição de um disco luminoso, com uma franja escura. A interpretação deste fato foi que o disco luminoso significava o ano litúrgico e a franja escura o vazio que se encontrava nele pela ausência de uma festa em honra ao Santíssimo Corpo de Cristo. Santa Juliana falou do acontecido ao seu confessor, que comunicou o fato a vários teólogos, a fim de darem seus pareceres. Entre eles se encontrava o provincial dos dominicanos, Hugo de Thierry, e o cônego de Liège, Jacques de Troyes. Este insistiu com o bispo Roberto para que a festa fosse estabelecida na diocese de Liège em 1246. Anos mais tarde Jacques de Troyes foi eleito Papa, com o nome de Urbano IV, o qual estabeleceu a festa do Corpus Christi em toda a Igreja. A procissão do Corpus Christi aconteceu mais tarde, sendo que as primeiras tiveram início em Colônia, na Alemanha. Ao princípio se levava o Santíssimo fechado na píxide. Aos poucos se queria contemplar a Hóstia Consagrada e assim apareceram as Custódias ou Ostensórios. Honrar públicas a Jesus Sacramentado, porque na Hóstia , como num abismo misterioso, se abre a fonte mesma de todas as graças divinas. Prolonga-se e se multiplica a presença do Deus humanado. Estende-se a Encarnação do Verbo nas almas remidas. Instala-se o penhor da ressurreição gloriosa. Fundamenta-se a unidade da Igreja. Em outros tempos. os hebreus se jactavam de sua importância entre todos os povos e eles se julgavam superiores a todas as nações da terra. Isto porque o poder de Javé os precedia no deserto e o Eterno assentado sobre a nuvem regulava seus destinos. Eram eles o povo escolhido porque a presença do Senhor tinha santificado a Arca da Aliança. Que excelência, que grandeza, que preeminência não deve ser a da Igreja possuindo a presença real de Cristo na Eucaristia, tendo por herança seu corpo, sangue, alma e divindade! Jesus com toda sua onipotência nada podia fazer que honrasse e distinguisse mais a humanidade do que deixando neste sacramento o memorial perene de sua dileção. Os israelitas, antes do Testamento Novo, foram nutridos com o maná, chamado nas Escrituras pão dos anjos. À sua Igreja, porém, seu Corpo Místico, foi dado o pão divino, Ele próprio em alimento das almas. A expressão é do próprio Cristo, quando assim falou aos judeus: “Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este pão é o que desce do céu para que não pereça quem dele comer” (Jo 6,50). Eucaristia, dique que suspende a torrente do mal, força que dispõe para os triunfos do bem e da virtude, manancial donde correm estas graças poderosas que, após longos desvarios, chama os pecadores aos caminhos da justiça. Além disto a Eucaristia revela o requinte da ternura divina. Na ordem da natureza Deus, em sua munificência infinita, oferece aos homens com o dom da vida tudo que é preciso para sua subsistência. É isto uma dádiva sublime de sua munificência. Na ordem da graça Ele comunica a todos os auxílios que são necessários à prática das virtudes. É isto uma oferta de sua misericórdia incomensurável. No sacramento do Altar, porém, Ele se dá a si mesmo. Eis aí o primor de sua bondade, a epopéia de seu afeto, assombro dos assombros, manifestação maravilhosa da dileção do Ser Supremo. Jesus toma um dos pães que estavam sobre a mesa espaçosa. Faz um instante de silêncio, momento de uma prece especial. Parte o pão e oferece um pedaço a seus discípulos, dizendo: “Recebei e comei: isto é o meu corpo”( Mt 26,26) Estes os aceitam das mãos do Mestre. O laço entre Aquele que dá e aquele que recebe é um elemento essencial, indispensável naquele instante solene. Foi um dar e um receber pessoal o que ocorreu entre Jesus e cada um dos doze. Todos tendo parte no mesmo pão divino distribuído individualmente pelo Redentor. Relação interpessoal entre Ele e seu epígono. Depois Ele “tomou um cálice e, dando graças, deu-lho dizendo: “ Bebei dele todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado por muitos para remissão dos pecados” ( Mt 26, 27). De novo se manifesta aqui o liame que prende ao Senhor cada um dos discípulos em particular e, simultaneamente, todos eles em conjunto. Todos entram em comunhão com Ele, presente sob as espécies de pão e de vinho. Naquele momento tão solene estava instituído o sacerdócio pelo qual Ele renovaria esta dádiva de amor. Suas palavras foram meridianamente claras: “Fazei isto em minha memória”( Lc 22, 19). É verdade que o sentido de uma reunião em torno de uma mesa para uma refeição já tinha sido exaltado entre os povos nas mais diversas épocas. Os convivas se ligam numa empatia profunda. Quantas decisões importantes têm sido tomadas nestes instantes de tertúlias amigas! Entretanto, nada se iguala ao que aconteceu na última ceia com todos estes pormenores que acabamos de recordar. Naquele momento solene e comovente entenderam os apóstolos a questão, um dia, levantada em Cafarnaum: “Como pode este dar-nos a comer a sua carne?”( Jo 6,53) Por certo os discípulos que acharam naquele dia dura a linguagem de Cristo, bendisseram não terem, também eles, se desligado dele. Jesus fora franco naquela oportunidade, vendo que muitos o abandonavam. Dissera claramente aos Doze: “Quereis vós também retirar-vos?”(Idem, ibidem, v.10) Eles, porém, fizeram um ato de fé nas palavras de Jesus, e somente agora as entendiam perfeitamente. A fidelidade deles estava recompensada! Graças e louvores se dêem a todo momento ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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