sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O REINO DOS CÉUS

O REINO DOS CÉUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho”
Jesus foi claro ao afirmar que aquele que guardar e ensinar os mandamentos será declarado grande no Reino dos Céus (Mt 5,19). Em São Marcos se encontra a expressão Reino de Deus que é equivalente. O cerne da pregação de Cristo foi proclama-lo. Ele “percorria toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas, pregando a boa-nova do reino e curando todas as doenças e todas as enfermidades o meio do povo” (Mt 4, 23). Estes e outros milagres eram os sinais da presença deste Reino e faziam entrever seu significado, o qual foi bem decodificado por São Paulo: “O reino de Deus consiste em justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 4,17 b). É que se trata de uma realidade misteriosa cuja natureza só Jesus pode dar a conhecer. Ele, porém, não a revela senão aos humildes e aos pequenos, não aos doutos e aos hábeis deste mundo. Assim, de fato, se expressou Cristo: “Eu te louvo e agradeço, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e aos sagazes e as revelaste aos simples” ( M6 11, 25). Para quem não tem fé e humildade se trata de um fato enigmático, inexplicável. Quem percorre com atenção e está iluminado pelas luzes do Alto percebe que a pedagogia dos Evangelhos consiste em grande parte na revelação progressiva dos mistérios do Reino sobre o qual Jesus discorreu mormente nas parábolas. No fim dos tempos Ele, o vencedor da morte, do pecado e de satanás, aos que lhe tiverem sido fiéis, Ele fará dará este Reino de glória. Seus autênticos seguidores receberão “a herança no Reino de Cristo e de Deus”, como ensinou São Paulo na Carta aos Efésios (Ef 5,5). O discípulo de Jesus será chamado a partilhar da ventura sem fim desse reinado, como está no Apocalipse: “Ao vencedor fá-lo-ei sentar comigo no meu trono, do mesmo modo que eu venci e me sentei com meu pai no seu trono” (Ap 3,21). Momento de suma alegria, porque “felizes dos convidados para o banquete das núpcias do Cordeiro (Ap 19,9). Para se ir para o Reino dos Céus é preciso cumprir certas condições. Ele não é nunca uma paga devida por justiça, pois é livremente que Deus oferece as oportunidades para lá chegar. Cumpre um desapego total das coisas deste mundo: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” ( Mt 5,3). Além disto, é preciso a simplicidade, a pureza e a maleabilidade espiritual de um menino: “Em verdade vos digo que, se não mudardes e não voltardes a ser como crianças não entreis no reino dos céus” (Mt 18,2). Adite-se que é necessário fazer em tudo a vontade divina, como recomenda a Carta aos Hebreus: “Tendes necessidade de constância, para que, fazendo a vontade de Deus, venhais a obter o bem prometido” (Hb 10,36). Tudo isto envolto numa grande dedicação ao próximo, segundo a exortação de São Paulo: “Não devais a ninguém coisa alguma, a não ser o amor de uns para com outros, pois quem ama o próximo cumpriu a lei” (Rm 13,8). Finalmente, para se alcançar o Reino dos Céus é indispensável o amor a Deus, amor divino que deve ser transcendental ou dominante de tal forma que todos os pensamentos, afetos e obras estejam subjugados pela dedicação ao Ser Supremo. Esta afeição se torna grandemente operativa, desdobrando-se em obséquios e serviços a Deus e ao próximo, segundo a máxima de São Gregório: “O amor de Deus, se existe, realiza grandes coisas”. Deste modo, tudo fica fácil na caminhada para o Reino dos Céus, conforme a sentença de Santo Agostinho; “ Tudo que é árduo e pesado em excesso, se faz simples e quase nada por força do amor”. Aliás Cristo afirmou: “ O meu jugo é suave e o meu peso é leve (Mt 11,36). Esta inclinação amorosa do cristão para Deus vai se tornando sempre mais desinteressada, de acordo com o que falou São Bernardo: “O amor puro não é interessado. Amo a Deus porque amo, amo para amar sempre mais”. É evidente que, desta maneira, se dá a transformação do amante no amado. Tal o pensamento do citado Santo Agostinho: “Tal é cada um, qual é seu amor. Amas a terra? És terra. Amas a Deus? Que queres que eu te diga? Serás Deus? Não me atrevo a dizê-lo por minha conta, mas ouçamos a Santas Escrituras: “Eu digo: todos vós sois deuses filhos do Excelso!” (Sl 81,6). Para isto é preciso pensar em Deus de bom grado, pois diz São Fulgêncio que pensamos sempre naquele que amamos. Em síntese, tudo fazer para a glória divina, dado que a prova do amor está nas obras. Aí está a razão pela qual se lê na famosa Carta a Diogneto, esta jóia da literatura cristã primitiva, escrita por um batizado, explicando àquele sábio pagão, que os cristãos, que muito amam a Deus, estão no mundo, mas não são do mundo. De fato pertencem ao Reino dos Céus! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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