quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

EDIFICAR SOBRE A ROCHA

EDIFICAR SOBRE A ROCHA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O alerta do Mestre divino nunca pode ser esquecido: “ Nem todo o que me diz – Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas o que faz a vontade do meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). Já no Antigo Testamento Deus se queixava de Israel: “Este povo se aproxima de mim, me honra com a boca e os lábios, mas seu coração está longe de mim” (Is 29,13). Inúmeras as passagens vétero-testamentárias que condenam um culto meramente exterior sem a mudança radical do coração. Esta transformação interior significa um esforço contínuo para fazer em tudo o que Deus quer como está expresso nos dez sagrados mandamentos de Sua lei. Isto supõe determinação para seguir o caminho traçado pelo Ser Supremo custe o que custar. Boas intenções sempre são necessárias, mas é necessário que sejam acompanhadas de boas obras. Quando, porém, há sinceridade Deus oferece todas as graças para a realização de ações luminosas. Isto significa edificar, construir sobre a rocha, colocando a esperança não naquilo que é passageiro, instável, não resistente à ação do tempo e aos revezes da sorte, mas fixando o cristão unicamente nas promessas divinas de uma glória eterna para os que, na trajetória terrena, não se deixaram enganar pelas ilusões mundanas. Aliás, Jesus afirmou peremptoriamente: “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão” (Mt 24,35). Quem nele não acredita constrói sobre a areia e conhecerá uma ruína é completa. Cumpre viver em função do que Cristo ensinou, Ele que é o rochedo inabalável, eterno. Então surge uma obra perfeita que resiste a todas as intempéries. Isto acontece com quem assimila a mensagem de Jesus e a aplica inteiramente à sua existência. O verdadeiro cristão faz rebrilhar o que Cristo ensinou através do testemunho manifesto de sua vida diária. Estar com Jesus, que ensina a construir sobre a rocha, é um privilégio maravilhoso, mas é, outrossim, uma obrigação absoluta da integral adesão a seus ensinamentos. Os preceitos divinos são desprezados pelo mundo orgulhoso, reino de satanás, mas cujas edificações são frágeis, sem sólido fundamento. Falta-lhes o alicerce da fé, da perseverança, da obediência a Deus. São Paulo mostrou que quem edifica com Jesus é inabalável e exclamou: Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo ou a espada? [...] Mas em todas estas coisas somos nós mais que vencedores, graças àquele que nos amou” (Rm 8,16-37). É quem edifica sua vida espiritual na rocha firme que é o seu Redentor. Deste modo, a fé cristã não consiste em simplesmente admitir um conjunto de verdades, tendo até uma visão religiosa do mundo. Trata-se de viver em função de Cristo, numa desapropriação radical de si mesmo, como ocorreu com Paulo de Tarso: “Já não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Isto porque como este Apóstolo explicou aos Efésios, Jesus é a pedra angular (Ef 2,20). Nas construções antigas, a pedra angular era a pedra de esquina que servia para alinhar toda a construção. A escolha de uma boa pedra facilitaria a edificação conforme a planta. Uma pedra fora de esquadria resultaria numa obra errada. Quem considera Jesus como uma pedra inadequada edifica sobre a areia. Quem está com Jesus constrói sobre a rocha sobre a qual deve se apoiar toda existência do batizado. Eis porque foi dito aos romanos: “Quem nele crê, não será confundido” (Rm 9,33). Na prática, é preciso então ao verdadeiro cristão escutar unicamente a Jesus, fazendo tão somente o que Ele ensinou. É ter conciência de que é preciso estar atento para não transportar a casa de sua existência para terreno baldio no qual ela desmoronará. Isto ocorre quando se assimilam os erros difundidos pelos meios de comunicação social e se troca Cristo pelos falsos formadores de opinião. O cristão passa então a pensar e a viver à maneira de uma sociedade hedonista, na qual predomina o erotismo e isto leva à destruição completa. Além disto, é bom pensar que mesmo uma casa edificada sobre a rocha, se ela fica abandonada, em pouco tempo tudo deteriora. Entre os que constroem sobre a Rocha firme que é Jesus muitos, por vezes, tomados de um entusiasmo passageiro, depois O deixam de lado e vão edificar na areia movediça das paixões. Começam a vacilar na fé e perante as exigências para serem verdadeiramente discípulos de Cristo, falta-lhes a coragem de permanecerem firmes em seus propósitos cristãos. passam então a construir casa sobre terreno movediço. Perdem, deste modo, a liberdade interior e aquela paz que só o Filho de Deus pode oferecer. Quem verdadeiramente construiu sobre a rocha que é Cristo não fica na dependência do poder, do dinheiro, das honras, do prazer, da tristeza, do medo. Este se liberta da lógica satânica do pecado e do egoísmo. Nenhum cataclismo o pode abalar e repete com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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