quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Confiança total em Deus

CONFIANÇA TOTAL EM DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Através de belíssimas imagens Jesus inculcou a mais absoluta confiança em Deus (Mt 6,24-34), concluindo: "Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações!”. Como sábio pedagogo o Mestre divino quis transmitir segurança a seus discípulos, baseada numa completa dependência do Deus infinitamente poderoso e que é Pai misericordioso. Assim sendo, quem tem fé emprega o melhor de seus esforços nas atividades de cada momento, esperando que, com esta reta intenção de estar sempre agradando ao Ser Supremo, Ele jamais o desamparará. Tem certeza radical de que um final feliz será o resultado faustoso de sua maneira de viver. É este confiar em Deus que marca a vida daquele que ama o seu Senhor e se sente por ele amado. Renuncia então à ilusão de bastar a si mesmo, faz o que pode e se entrega, inteiramente, à providência divina. Tal atitude supõe muita humildade e obediência incondicional à vontade de Deus a cada instante. O reconhecimento e a aceitação da própria absoluta impotência, unidos à fé, abrem o caminho para a confiança extrema e o cristão pode então repetir com o salmista: “Com Deus faremos proezas” (Sl 60,14). Não se trata, deste modo, de uma atitude que leva ao comodismo, ou até ao fatalismo, porque na trilha de Abraão, que, segundo São Paulo, esperou contra toda esperança (Rm 4,18), confiado no que lhe fora dito por Deus, surge uma plena aceitação de Deus e da sua vontade. Fazer a vontade divina é observar os seus mandamentos, aderindo firmemente ao cumprimento do dever de cada instante. O que cada um tem é o momento presente e vivendo-o intensamente que cada um molda sua eternidade. De fato, do passado se devem colher lições práticas, as quais dirão sempre que os erros foram cometidos exatamente quando alguém confiou em si e nas criaturas e não no Todo-Poderoso. A história de cada um está marcada pela escolha que se fez a respeito de em quem confiar. A Bíblia sentencia inapelavelmente: “Maldito o homem que confia no homem (Jr 17,5. Sl 146, 3-4). A Escritura, porém, louva quem é prudente: “Bendito o homem que confia no Senhor, cuja confiança é o Senhor (Jr 17,7; Sl 40,5). Quem assim age não dispersa suas forças morais e intelectuais, mas se concentra em uma tarefa responsável de cada vez, sabendo que o futuro a Deus pertence. Cultiva-se, desta maneira, a paixão pelo possível, que revela, em contraposição com qualquer tipo de fatalidade e submissão a uma necessidade, aquela convicção que assinala a verdadeira liberdade pessoal. Em outras palavras, se trata de viver em plenitude o que Jesus afirmou: “Sem mim nada podeis fazer”, ou seja, com Ele tudo se alcança. É a vivência, outrossim, do sábio provérbio: “Quem planta, colhe”, isto é, firme no total abandono aos desígnios de Deus o cristão vai construindo o seu futuro por entre as naturais dificuldades de um exílio, mas convencido de que o porvir será necessariamente glorioso. É o resultado da liberdade confiante no Deus que não nega nunca sua proteção a quem a ele se entrega como um filho nas mãos de seu Pai poderoso. A confiança conduz, deste modo, à imaginação segura, criadora de um porvir certamente feliz. Passa-se da economia dos fatores temporais para a economia da superabundância do Ser Onipotente. Ao invés de se enclausurar no provisório, quem confia em Deus, se abre para o Infinito. É, assim, que, habitando a casa da confiança, o cristão ultrapassa o horizonte presente, mas sem se preocupar com o dia de amanhã, porque este lhe trará novos favores de quem tudo pode. Maravilhas ocasiona a confiança na vida de quem a cultiva. Supera-se a objetividade limitativa do mundo. Embora a natureza seja para o homem dialeticamente possibilidade e limite de sua ação, a graça de Deus o leva ao triunfo sobre todas as contingências diárias. É que o cristão existe no mundo, mas se sobrepõe ao mundo, está inserido no tempo, mas ultrapassa o cronos porque tem consciência da permanência de suas boas ações feitas instante a instante e não se torna escravo das preocupações infantis com relação ao seu futuro. Seus cálculos estão alicerçados em dois pilares: no planejamento que faz de sua capacidade e de seus objetivos e a certeza de que Deus abençoará todos os seus esforços. A confiança oferece a opção fundamental com que cada um interpreta o sentido último de existência. Emerge como necessidade fundamental, tanto no horizonte de sua consciência pessoal, quanto no de sua relação com o meio em que vive e com os outros. Por tudo isto, de fato, razão teve Jesus em aconselhar: “Não vos preocupeis com o dia de amanhã”, dado que com as luzes divinas o cristão prossegue ininterruptamente sua marcha vitoriosa, deixando sempre um rastilho luzidio num passado vivido na absoluta confiança em Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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