terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Jesus, Luz do mundo

JESUS, LUZ DO MUNDO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No templo de Jerusalém para onde se dirigiu aquele homem justo e piedoso chamado Simeão, ouviu-se de seus lábios a solene proclamação de que Jesus era a “luz para iluminar as nações” (Lc 2,32). São Paulo decodificou admiravelmente estas palavras e explicou aos Efésios: “Outrora éreis trevas, mas, agora sois luz no Senhor” (Ef 5,8). Luz que brilhou nas trevas, pois o gênero humano, por obra do pecado original, vivia em obscuridades que o impediam perceber não a forma e a cor que vem dos olhos exteriores, mas a interna e ininteligível forma e formosura. Foi o que atestou São João, referindo-se a Cristo: “A luz brilha nas trevas” (Jo 1,5). Trevas, não as do ar caliginoso, ou causada pela ausência da luz que aclara o mundo corpóreo, senão trevas da ignorância da verdade. Entretanto, depois que de uma Virgem nasceu a Luz, cintilando nas trevas e iluminando os que a conhecem, o gênero humano se dividiu em dois setores, a saber, o dos corações iluminados pelo conhecimento da verdade e o que permanece na escuridão da impiedade e da perfídia. Corroborando as palavras de Simeão, Jesus dirá claramente: “Eu sou a luz do mundo; o que me segue não anda nas trevas, senão que terá a luz da vida” (Jo 8,12). Eis por que a palavra iluminação tem longa e firme tradição na história do pensamento cristão. Sugere sempre beleza e verdade. Quem percorre com atenção a Bíblia apreende como a teologia da luz palpita em inúmeras passagens. Iluminar é palavra de uso freqüente e de rico conteúdo bíblico, sobretudo, no Novo Testamento, depois que cintilou neste mundo Aquele que ilumina todo o ser humano que dele se aproxima. Trata-se da iluminação espiritual, revigorante, inebriante, derivando do Verbo de Deus que se fez carne e habitou entre nós. Aí está a razão pela qual na Igreja primitiva os batizados eram chamados iluminados. Depois, grandes teólogos como Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino, São João da Cruz aprofundaram esta realidade a ser vivida intensamente pelo autêntico cristão. Apontaram um roteiro seguro para se tornar um lucífluo, um lucipotente. Em primeiro lugar, a purificação de todo o ser humano na luta contínua pela própria santificação. Quem assim se dispõe interiormente passa a perceber um clarão interior a lhe sublimar toda a existência até chegar à perfeição possível a seres limitados de acordo com a ordem de Cristo: “Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito”. Clemente de Alexandria explicou esta trilogia com muita clareza: “Batizados, somos iluminados; iluminados, somos filhos de Deus por adoção; adotados, alcançamos a perfeição; com esta a imortalidade”. Desta forma o cristão torna-se cada vez mais conforme com Cristo e alcança a verdadeira auto-realização como criatura à imagem e semelhança de Deus. Foi neste sentido que Jesus disse aos seguidores: “Vós sois a luz do mundo. [...] Não se acende uma candeia para se colocar debaixo do alqueire, mas sim sobre o candelabro, e assim alumia a quantos estão em casa. Brilhe do mesmo modo a vossa luz diante dos homens, a fim de que vendo as vossas boas obras, glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mt, 5,14-16). Na sua primeira carta São João afirma que “Deus é luz” (1 Jo 1,5). Por outra, Cristo assevera que “Ele é a luz do mundo” (Jo 8, 12;9,5). Ora, Ele disse também que seu epígono é luz do mundo, logo há uma identidade dele com o cristão que participa da luz divina. Que grandeza a do batizado! Enorme privilégio este de se assemelhar ao Senhor da luz. Imensa responsabilidade! Jesus, porém, mostrou como ser luz ao ordenar que refulgissem as boas obras neste mundo, luminosidade fulgindo da conduta, das ações, das palavras, dos gestos, do modo de ser. Foi o que pregou São Paulo aos Filipenses, dizendo que deveriam ser irrepreensíveis e íntegros, filhos de Deus sem mácula, no meio de uma geração perversa e corrupta. No meio dela resplandecendo como luzeiros no mundo, ostentando a palavra de vida” (Fp 2, 14-16). Tudo isto jorra, portanto, do interior de cada um. O cristão é, realmente, uma nova criatura em Cristo e, deste modo, se imerge na luminosidade do próprio Deus. Daí o conselho do Apóstolo aos Efésios: “Tratai de estar repletos do Espírito e entretei-vos uns aos outros com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor com o vosso coração, dando graças continuamente por tudo, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, ao Pai e Deus” (Ef 5, 19-29). Aos Romanos São Paulo lembra uma condição a mais para que o cristão seja, como Jesus, a luz do mundo, ou seja, “sabendo que nosso velho homem foi crucificado com Ele” (Rm 6, 6). Ao aplicar a cruz na sua vida, o cristão destrói a sua velha natureza herdada de Adão e então pode clarificar o mundo. É, verdadeiramente, aplicando a cruz na sua vida que o batizado envolve os outros no iluminamento da pessoa de Cristo. Então se realiza plenamente o que disse Simeão, pois, Jesus se torna, de fato, por meio de cada cristão, a luz que ilumina todo o mundo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


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