quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A PRESENÇA REDENTORA DE JESUS

A PRESENÇA REDENTORA DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A cena apresentada por São Marcos na qual Jesus cura o homem com a mão ressecada (Mc 3,1-6) chama a atenção sobre sua presença redentora. Cristo diz àquele doente: “Estende a mão”. Ele estendeu-a e a mão ficou curada”. Não se deve ter de Jesus uma idéia meramente intimista e devocional, apenas admirativa de sua personagem eminente e poderosa. Cumpre ver do Filho de Deus o protótipo do homem comprometido inteiramente com a libertação de todos os males do corpo e da alma. Trata-se da inserção em Cristo como revelador do amor, da misericórdia, da compaixão do Ser Supremo que O enviou a esta terra com uma mensagem que deve ultrapassar uma piedade meramente fixada nos seus prodígios. Ir além é trazê-lo para dentro do coração para que lá Ele possa realizar suas maravilhas de dileção. De tudo que ocorreu no passado a mais de dois mil anos fazer a transposição temporal para uma proximidade que leva à total cura espiritual e corporal. Ele exercendo no íntimo de cada um uma influência decisiva que impregne todos os pensamentos, todos os anelos, todas as atividades. Deste modo Ele se torna um modelo de vida extremamente provocante por seu sentido de liberdade, de coerência e capacidade de amar. Não apenas o Jesus histórico de ontem, mas o Jesus que disse: “Eu estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28,20). Deste modo se vence a nebulosidade da indeterminação de certas sutilezas bíblicas para se dar lugar a uma total disponibilidade para os autênticos valores que somente Ele pode comunicar e fazer viver. Ele a repetir a cada um: “Eu ressuscitei e estou contigo”. A humanidade de Jesus não pode cessar de representar um trampolim de salto para o reconhecimento da dimensão única e transcendente de sua própria pessoa, de seu extraordinário pode que não ficou circunscrito nos atos de sua passagem terrena, como na cura do homem da mão ressequida. Equívoco de muitos cristãos é continuar a ver em Jesus apenas o grande taumaturgo de outrora ou um guia da humanidade como Sócrates, Confúcio, Buda ou Maomé, se esquecendo que Ele é, isto sim, o Salvador pessoal de cada um, continuando através dos tempos sua obra salvífica. É preciso, isto sim, experimentar a presença inequívoca, forte de um Jesus vivo que toma conhecimento de tudo que se refere a cada um de seu seguidor. Ele está mais próximo do cristão do que este de seu Senhor. A comparação que Ele fez é sumamente elucidativa: “Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). A luz da ressurreição os discípulos compreenderam que realmente Ele tinha razão. A Ele foi dada uma nova seiva, sua mensagem, seu comportamento e sua pessoa são o referencial de tudo. Seu caminho é o caminho justo. Sua pessoa tem, com isso, significação definitiva e única para todos aqueles que se imergem nele. Esta proclamação de fé supõe então um salto qualitativo em relação às referências meramente humanísticas de Jesus, dado que Ele é verdadeiramente o “Deus conosco” (Mt 1,23), o valor decisivo e unificante da existência do batizado em todas as suas distintas dimensões. A simples jesusologia é insuficiente. Por não explicar a importância única daquele que é verdadeiro homem e verdadeiro Deus no centro da história de cada um. Ele deve ser plenamente a vida da vida do cristão. Ele cura aquele que tinha a mão seca, mas da glória de seu poder onipotente é preciso se descobrir que em Jesus, na sua Pessoa, se condensa tal riqueza de significados que se perceba claramente que ele escuta os desejos mais recrescentes de cada coração e oferece amplo leque de estímulos e inspirações. Este Jesus não oferece respostas parciais para resolver questões contingentes, ofererem, sim, perspectivas que abrangem toda a existência conferindo-lhe significado global. Quando o cristão se subtrai de seus pensamentos, deixa de lado suas inquietações, ele dá um pouco mais de tempo a Cristo e nele pode repousar. Pode inclusive penetrar a inacessibilidade de Deus e descobrir a sua autêntica face. Dá-se o que Jesus afirmou: “Ninguém jamais viu a Deus: o filho único, que está voltado para o seio do Pai, este o deu a conhecer” (Jo 1,18). Jesus faz penetrar nos segredos da vida íntima divina, revelando que Deus é doação em plenitude e que mostrou aos fariseus que o ser humano que sofria estava acima da prescrição sabática. Porque os fariseus não penetraram no sentido das palavras e do gesto de Cristo, “saindo dali, confabularam com os herodianos sobre a maneira de o matarem” (Mc 3,6). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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