quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Mímesis espiritual

MÍMESIS ESPIRITUAL
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Os grandes filósofos gregos referiram-se a mímesis como a representação da natureza.
Para Platão, toda a obra criada era uma imitação da natureza verdadeira, uma vez que ele fala no hiperurâneo, ou seja, no mundo das idéias. Para ele, mímesis é só a aparência sensitiva das imagens exteriores das coisas, que constituem o mundo oposto ao das ideias. Esta imitação da realidade é, deste modo, apenas uma cópia da cópia .
Aristóteles, porém, que não esposava a teoria do pampsiquismo platônico, ou seja, a presença da idéia nas coisas, fala da imitação da ação divina e notável sua obra a Poética na qual desenvolve esta sua maneira de conceituar a mímesis.
Como observa o Professor Cláudio Luís Martins, o Estagirista mostra que “há na espécie humana a tendência natural para imitar e, aliás, isto o distingue de outros seres da natureza, pois, entre todos os outros, ele é o mais verdadeiro. Ele se utiliza da imitação para adquirir as primeiras noções”.
Adite-se que "contemplar" o imitado, isto é, aquilo que é produto da mímesis, produz deleite intelectual, e, por isto, aos homens lhes agradam as artes. O contrário de mímesis é diégesis que não passa de uma narração, de um conto.
Deixando de lado outras considerações filosóficas e literárias, como, inclusive, as que se encontram no livro lançado em 2010 “Mímesis e a reflexão contemporânea”, organização de Luiz Costa Lima e editado pela Editora daUERJ, se pode afirmar que a mímesis espiritual é a condição essencial para se tentar atingir a perfeição proclamada por Cristo: “Sede perfeitos como o Pai celestial é perfeito” (Mt 5,48). Trata-se, portanto, da imitação verdadeira a qual conduz à autêntica obra de arte que é ser um reflexo no mundo do próprio Ser Supremo.
Como Cristo, o Verbo de Deus Encarnado, afirmou peremptoriamente “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30), ficou bem mais fácil a mímesis espiritual. São Paulo entendeu isto perfeitamente e afirmou: “Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo”. Aliás, este Apóstolo foi além de uma mera imitação, pois, buscou a identificação, dado que pôde asseverar: “Eu e Cristo somos um” [...] Já não sou quem vive, é Cristo quem vive me mim (1Cor 4,16; Gl 3,20) . Donde o adágio: “O cristão é outro Cristo”. Para que se dê esta mímesis espiritual cumpre se entregar à ação do Divino Espírito Santo que é um artista divino e, quando o cristão se torna, sob seu influxo, maleável como uma cera, Ele realiza uma obra maravilhosa, como a que se vê na vida dos grandes santos. Deste modo, a mímesis espiritual deve ser um ideal a ser perquerido, evitando-se a diégesis que transforma a vida de quem foi batizado numa narrativa anti-evangélica. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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