terça-feira, 28 de dezembro de 2010

ÃPRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEMPLO

APRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEMPLO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Quarenta dias após o nascimento do Menino Jesus, Ele foi apresentado no Templo por seus pais José e Maria. Quarenta dias após o Natal, se recorda então este fato marcante na vida do Redentor. Conforme estabeleceu João Paulo II se celebra também o Dia Mundial da Vida Consagrada, dado que a consagração do Menino Jesus a Deus foi o protótipo de todas as consagrações. Cristo, enquanto Deus, não precisava de consagração, pois ele estava eternamente consagrado ao Pai. Como bem se expressou São João: "No princípio era o Verbo e o Verbo estava em Deus” (Jo 1,1). Enquanto homem, porém, devia ser consagrado ao Senhor por Maria sua Mãe, a fim de ser, deste modo, o modelo de todos os que se tornariam seus irmãos e suas irmãs no Espírito Santo pelo batismo e pela crisma, membros de seu Corpo Místico, esta grande família de Deus destinada a viver para o Pai. Ele se fez modelo, de modo especial, para todos que devotariam inteiramente sua existência ao serviço divino como Sacerdotes e Religiosos e Religiosas. Hoje nos lembramos, então, em primeiro lugar de todos os cristãos que vivem no mundo, sem ser do mundo, que estão no mundo para propagar a raça humana, se devotando também ao trabalho nas mais diversas profissões para o bem da sociedade. Dentre eles, inúmeros os santos canonizados e uma multidão de fiéis que já se acham no céu. É o dia, porém, de maneira especial, dos que se consagram a Deus mais absolutamente através dos votos de castidade, pobreza e obediência, mormente daqueles e daquelas que fogem do mundo e se refugiam nos conventos e mosteiros para procurar a Deus e O encontrar na paz do coração e da alma. Trata-se, portanto, de um dia que é, de um lado, a lembrança da necessidade da conscientização de todos os fiéis para que vivam intensamente o adágio “o cristão é outro Cristo”, deixando que Ele assuma a sua vida com os seus riscos e esperanças, suas preocupações e todo o seu ser. É a vivência plena da transfiguração em Cristo, obrigação de todo aquele que recebeu o batismo e a crisma. Consagração que significa vocação à santidade, vivendo o ser racional na esfera do sagrado. O verdadeiro cristão consagra a Deus a sua liberdade e toda sua capacidade de amar. Não nega a si mesmo, mas vive intensamente todos os momentos como dons de Deus a quem entrega a cada instante todas as suas ações. Além deles há os sacerdotes e religiosos e religiosas vivem mais profundamente tudo isto, dado que se consagram inteiramente ao Ser Supremo e têm oportunidade de estar mais tempo em contacto com Ele. As riquezas, as honras, a glória terrestre e todos os atrativos mundanos não lhes interessam e tendem, apesar das pusilanimidades humanas, a procurar sempre uma maior perfeição e santificação. A Igreja é, assim, uma grande família que compreende membros diversos e com missões diferentes, mas tudo confluindo para honra e glória de Deus. Tanto isto é verdade que o Concílio Vaticano II lembrou que todo batizado participa também do múnus profético de Jesus. Profeta não no sentido de anunciar eventos futuros, mas aquele que testemunha com sua vida a missão salvífica do Filho de Deus, a exemplo de Simeão e de Ana. Estes personagens do Antigo Testamento que aparecem no templo de Jerusalém no dia da Apresentação do Menino Jesus eram pessoas que sabiam escutar a voz do Espírito Santo. Ambos a proclamarem o papel salvador daquele que viera redimir a humanidade, ambos deixando um testemunho grandioso porque estavam atentos às inspirações do Alto. Em nossos dias, mais do que nunca, há necessidade de profetas num mundo tão divorciado das realidades eternas e no qual os valores trazidos por Cristo do céu à terra são tão menoscabados. Nesta solenidade de hoje cumpre se lembrem então as palavras do Prefácio desta Missa proclamando que o Filho eterno apresentado no templo é revelado pelo Espírito Santo como glória do povo de Deus e luz de todas as nações. Este Jesus, porém, advertirá a seus seguidores: “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5,14). Para isto é preciso estar cada cristão sempre perto de Cristo para que, iluminado por Ele, possa clarificar a existência dos que vivem nas trevas do erro e do pecado. Nem se pode esquecer de que, num momento de tanto júbilo para Maria, Deus permitiu que se iniciassem também os seus sofrimentos, dado que Simeão anuncia que uma espada de dor traspassaria sua alma, tendo afirmado, inclusive, que Jesus seria um sinal de contradição. Maria tomaria parte nos sofrimentos de seu Filho! Mais tarde Cristo dirá: “Se alguém quer ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,24). Eis aí o cerne de qualquer vida consagrada! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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