terça-feira, 23 de novembro de 2010

MEDITAÇÃO SOBRE O MAGNIFICAT

MEDITAÇÃO SOBRE O MAGNIFCAT
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Quem penetra fundo nas palavras do cântico do Magnificat logo percebe que Maria não se atribui nada das maravilhas que nela se dão. Sua vocação de Mãe de Deus é atribuída unicamente ao Todo-Poderoso e à sua magnificência infinita. Tudo faz parte do plano divino, querido desde toda a eternidade. Ela se mostra como um instrumento deste projeto inefável de um Ser infinitamente bom que quer salvar a humanidade perdida. Tudo que Ela ostenta é um dom sublime. Sente-se, sinceramente, uma mera intermediária que coopera com os desígnios do Criador. O esplendor do Senhor a tocou por puro amor por ela e por todos que, através de Jesus, seriam redimidos. Ela se regozija em resposta a este amor do Ser Supremo. Envolta no mistério ela bendiz a Deus. A alma de Maria exalta o Senhor porque ela sempre realizou a Sua vontade suprema. Nisto ela depara sua felicidade. O rumo que terá sua vida a imerge na satisfação imensa de entrar na dinâmica salvadora do Redentor prometido. Tomada de imenso júbilo por ser ela fiel ao que Deus quer. Imersa na luminosidade de uma fé viva, ela sabe que tudo que vem do Altíssimo é para o bem. Desta maneira, ela demonstra que acreditar é possuir a fonte do verdadeiro gáudio para quem vive inteiramente o que crê, é a chave e o significado para compreender o que poderia parecer impossível aos olhos humanos. Ao afirmar que o Poderoso fez nela maravilhas, ela exclama: “Santo é o seu nome”. Todos são beneficiários da magnitude e da santidade divinas, mas Maria foi a “cheia de graça”, a que mais se viu inundada no mar imenso da riqueza do Criador. Ela deixa então um exemplo permanente de agradecimento, de reconhecimento, indicando, porém, que cada um deve se colocar nos caminhos da perfeição, para ser um sinal de Deus no mundo. Cumpre louvá-lo com todo o nosso ser. Maria O engrandecendo ia, instante a instante, crescendo no amor a Ele na mais absoluta fidelidade às graças recebidas. Por isto, ela se regozijou no Senhor, gozo íntimo, espiritual, resultado da posse plena e perfeita de seu Senhor. Isabel recordou a Maria os notáveis privilégios que lhe foram outorgados. Estes eram um motivo suficiente para que ela se alegrasse neles. Ela, entretanto, não se liga tanto aos dons, como autor e doador dos mesmos. Mais tarde Santo Agostinho viveria esta situação admirável ao pedir: “Não me dês, Senhor, tuas coisas, mas dá-me a Ti mesmo”. Eis aí o cerne do gáudio imenso que possuía no coração a Mãe do próprio Deus. O fundamento de tudo isto era a extraordinária humildade que a distinguia. Com efeito, ela saudada por um Anjo, embaixador da Santíssima Trindade; alçada à altíssima dignidade de progenitora do Messias que devia vir a este mundo; proclamada pela mãe de João Batista bendita entre todas as mulheres, longe de se gloriar, busca a razão de toda esta realidade e tudo atribui a Deus. Exclama: “porque Ele olhou para a humildade de sua serva”. Ninguém mais humilde do que Maria, mas também ninguém mais exaltada do que ela. Por se ter feito escrava, ela se tornaria Rainha. São Bernardo chamou o Magnificat como o êxtase da modéstia mariana. Como a humildade, porém, é a verdade, ela pôde fazer uma profecia estupenda: “Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada”! Que vaticínio! Que conhecimento do futuro através de todas as idades, de todas as revoluções sociais e de toda a contingência da vida humana! Ela não fala unicamente de uma família, ou de um povo, ou de uma raça, mas de todos os homens, de todos os povos de todos os séculos. Que predição! Uma jovem judia, casada com um humilde operário, apenas conhecida em sua aldeia, nada a distinguindo aparentemente das outras filhas de sua nação, anuncia em um casebre perdido nas montanhas da Judéia, que todos se prostrarão a seus pés, celebrando a sua glória e seus louvores. Nas quebradas da História ficaram registradas estas palavras estupendas daquela que parecia ter em suas mãos o coração dos pósteros. É de se notar que, quando tal anúncio foi feito, o paganismo cobria a face da terra e o verdadeiro Deus só encontrava adoradores entre os judeus. Como admitir esta glória universal? Incrível, inverossímil, impossível humanamente falando. Maria, porém, não hesitou: "Todas as gerações me chamarão bem-aventurada”. A realização, contudo, desta profecia se tornou ainda mais maravilhosa. De fato, através dos tempos, em todos os lugares e entre todas as etnias multiplicar-se-iam os louvores a ela. Por toda parte templos suntuosos onde suas imagens se veriam cercadas de hinos, cânticos, rosáceas. Os mais renomados teólogos porfiariam por lhe render saudações alentadas que fariam da mariologia um dos capítulos mais belos da ciência sagrada. Ela saudada em todas as línguas e pelos mais insignes artistas. Entretanto, a mais extraordinária consagração que ela receberia, seria a multidão de santos que atraídos pela sua espiritualidade irradiante fariam de sua existência empenho único, qual seja imitar suas virtudes, trazendo em si um pouco de sua beleza espiritual no que consiste, de fato, a verdadeira devoção a Ela. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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