quarta-feira, 23 de junho de 2010

O verdadeiro amor

O VERDADEIRO AMOR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O verdadeiro amor é a doação de si mesmo. Amamos quando nos doamos. O amor absoluto, porém, supõe a oblação absoluta. Eis porque o auge do amor, seu ápice é a vida de abandono. Tal dileção que é devida a Deus. Esta vida de abandono nas mãos do Pai celeste é superior ao amor do sofrimento e a tudo mais. Trata-se da doação completa, definitiva de si mesmo, por efeito de uma afeição espiritual ardente. O cristão se dá, se entrega, se abandona sem reserva ao Ser Supremo, afastando toda e qualquer incerteza. Faz tudo que deve fazer de sua parte, sofre com paciência as tribulações da vida e fica tranqüilo, sereno, imperturbável, dado que confia inteiramente na misericórdia infinita do Todo-poderoso Senhor. Nisto imita perfeitamente a Jesus que dizia que seu alimento era fazer a vontade do Pai e, por isto, pôde dizer no alto da Cruz que havia cumprido sua missão. Quem assim procede degusta já na terra o prelúdio da vida do céu. Feliz, de fato, a alma que consegue sair de si mesma, mergulhando-se no oceano sem limites do amor divino. É o epígono de Cristo que consegue a união transformante, a qual metamorfoseia a existência do batizado que resta iluminado e iluminador, pois irradia a dileção a Deus por toda parte. É aquele que se deixou apoderar irrevogavelmente, apaixonadamente pela Santíssima Trindade, de tal forma que só Sua contemplação direta no céu poderá, de todo, satisfazê-lo. A dileção pelo Deus, Uno e Trino, penetrou todas as fibras de seu ser. Foi o que aconteceu com os grandes santos, mas que mesmo aquele que vive nas turbulências de um mundo agitado pode atingir, mesmo porque pode e deve transformar as mínimas ações num ato de louvor ao amado Senhor. Cada revelação nova de sua miséria inata, de seus defeitos, em lugar de perturbar o verdadeiro cristão, o alegra, pois este faz logo um ato de humildade, reconhecendo que só Deus é infinitamente perfeito. Volta-se para Ele e sabe que um ato de amor repara qualquer falha humana. O contraste de sua pobreza espiritual realça tanto mais a infinita amabilidade de Deus. Sua ventura consiste precisamente em considerar que Deus é tudo e o resto nada. Que sem Deus todas as criaturas nada valem por si mesmas. O amor quer estar sempre elevado e não ser detido simplesmente nas criaturas. Não há no céu nem na terra coisa mais doce, mais forte, mais sublime, mais ampla, mais deliciosa, mais completa, nem melhor que este amor. O amor nasceu de Deus, e não pode descansar senão em Deus. Tal amor não sabe ter medida, mas vai além de todos os limites. Nada lhe pesa, nada lhe custa; empreende mais do que pode; não se desculpa com a impossibilidade, pois acredita que tudo lhe é possível e permitido. Foi neste sentido que Santo Agostinho afirmou: “Ama et fac quod vis – Ama e faze o que quiseres”. Quem, deste modo, ama, corre, voa; vive alegre, é livre, e nada o embaraça. O infinito e o eterno triunfo de Deus, o Ser e o Bem, opostos ao nada e ao mal, eis a alegria do autêntico cristão, sua glória, sua beatitude. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário