quarta-feira, 23 de junho de 2010

Almas reparadoras

ALMAS REPARADORAS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Muitos fiéis se esquecem que na tertúlia com Deus, ou seja, na reunião familiar com Ele no momento de uma prece, se deve não só apresentar a Ele as próprias necessidades espirituais e corporais, mas também, continuamente, implorar dele o perdão dos pecados pessoais e os que se cometem pelo mundo afora. Eis por que no decurso do dia cumpre que se oferte ao Ser Supremo os inevitáveis aborrecimentos e fadigas como paga das faltas individuais, mas, outrossim, em reparação do desprezo de Sua santa Lei por parte dos prevaricadores. O decálogo é acintosamente agredido nos meios de comunicação social que justificam e até propagam as mazelas morais mais escabrosas e os noticiários mostram os crimes mais hediondos que são perpetrados. É preciso então uma reparação contínua, pois o amor a Deus deve invadir toda a vida do verdadeiro cristão, todo o seu ser. Jesus continua sua obra salvadora por intermédio daqueles que cooperam com Ele na salvação dos pecadores, apostolado pela prece e pelo sofrimento. É que Cristo salvou o mundo mais pelo seu amor heróico sobre a cruz do que pelos seus sermões. Suas palavras davam a seus seguidores a luz, indicavam o caminho a seguir; sua morte sobre a cruz, porém, obteve para o mundo a graça para praticar e seguir suas veredas. Maria, que mereceu o título de Co-redentora e de Medianeira de todas as graças, é o modelo das almas reparadoras por tudo que ela padeceu ao pé da Cruz. Pelas suas dores ela mereceu, com um mérito de conveniência fundado na caridade, tudo o que o Verbo Encarnado nos obteve por estrita justiça. Esta é uma verdade aprovada pelo papa Pio X e que Bento XV ratificou. Ela se tornou então a Mãe espiritual de todos os homens, coadjuvando Jesus na obra redentora. Pio XI lembrou os fiéis a necessidade da reparação, os exortando a unir a oblação de todos as contrariedades e aborrecimentos à oblação sempre viva de Jesus Cristo. Eis por que a participação piedosa da Missa, renovação incruenta do sacrifício do Calvário, é uma das maneiras mais eficazes para reparar diante do Pai as misérias próprias e de toda a humanidade. Jesus, com efeito, se incorporando progressivamente aos fiéis que Ele vivifica, reproduz neles algo de sua vida dolorosa, antes de fazê-los partícipes da sua vida gloriosa no céu. Cumpre, pois, trabalhar, cooperar com Ele, por Ele e nele na salvação das almas pelos mesmos meios que Ele empregou aqui na terra. São Paulo compreendeu isto muito bem e dizia aos Colossenses: “Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja” (1 Cl 1,24). Nada faltou ao sacrifício de valor infinito da parte de Jesus, mas lhe falta alguma coisa na sua atuação nos redimidos pelo seu sangue preciosíssimo. A obra salvífica precisa ser completada na imolação de cada batizado unido à Cruz de seu Senhor. É o que se contempla na vida reparadora de tantos santos que passaram anos e anos resignadamente padecendo os maiores sofrimentos, ajudando a Cristo na redenção do mundo. Santa Rita de Cássia, Santa Terezinha do Menino Jesus, o Pe. Pio e centenas de outros que assim procederam, sem se falar nos mártires. Admirável apostolado na alheta do mártir do Gólgota! Os que não atingem a eminência dos grandes santos, podem, no cotidiano, nas tribulações de cada hora, realizar a mesma tarefa reparadora. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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