quarta-feira, 23 de junho de 2010

O homem perante o mundo

O HOMEM PERANTE O MUNDO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Hoje, mais do que nunca, há uma preocupação enorme no sentido de preservar o planeta terra diante das agressões violentas à natureza. Percebe-se, porém que nem sempre os ambientalistas na sua nobre campanha apresentam os verdadeiros argumentos filosóficos e teológicos que devem mover o homem a respeitar o universo pelo Senhor de tudo. O salmista proclamou: “Narram os céus a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra de suas mãos” (Sl 18,2). Tudo que existe deve ser para o homem um espetáculo que o conduza ao reconhecimento da grandeza divina. Todas as coisas que estão em seu derredor, na medida em que são e existem, formam a imensa e magnífica máquina vivente da criação e indicam a sabedoria do Ser Supremo, Criador de tudo. O universo é a morada do homem, porquanto as coisas, pela sua própria essência, constituem o seu mundo. O ser racional vive e realiza o seu fim entre elas. Elas se constituem o instrumento que o Todo-poderoso lhe colocou em mãos para ajudá-lo a atingir o seu fim. Oferecem o alimento, o material para diversas realizações. Têm, contudo, o seu fim próprio, além de serem, assim, auxiliares do homem. Por isto, exatamente, este não pode, ou melhor não deve, fazer das coisas tudo o que quiser, mas só o que servir para o seu próprio fim, respeitada essência de cada coisa. Um exemplo típico é o ar, essencial para o aparelho respiratório. Inspirado, rico em oxigênio, passa pelas vias respiratórias, sendo filtrado, umedecido, aquecido e levado aos pulmões. Aí o oxigênio do ar inspirado entra na circulação sanguínea e o dióxido de carbono do sangue venoso é liberado nos alvéolos para que seja eliminado com o ar expirado. Muitos, porém, se entregam ao tabagismo que afeta os pulmões e é causa de câncer. Esta toxicomania caracterizada pela dependência física e psicológica do consumo de nicotina, substância presente no tabaco. Segundo o Ministério da Saúde, os cigarros contém cerca de 4.720 substâncias tóxicas, sendo uma delas, a nicotina, responsável pela dependência, caminho para uma morte prematura. O mesmo se dá com os alimentos. O homem deve comer para viver e não viver para comer. O que é saudável e necessário para sua subsistência, se torna fonte de inúmeras doenças quando o peso ideal não é atingido numa alimentação equilibrada e verdadeiramente nutritiva. Tudo isto, porque muitos não entendem, realmente, que o homem é usufrutuário, não proprietário da criação, cujo único dono é Deus. E como usufrutuário não pode usar das coisas nem mais nem menos do que o necessário para o seu competente fim. Esta limitação do poder humano sobre as coisas criadas é que precisa ser inculcada, meditada, mentalizada. O uso de tudo que está no mundo está condicionado e não pode estar ao alvedrio humano, mas tem uma finalidade que o ser racional deve respeitar para seu próprio bem. O poder sobre as coisas criadas não é, portanto, absoluto para o homem, pois somente Deus tem tal poder. A grande norma, em conseqüência, é a razão de ser de cada uma de acordo com o objetivo com que foi criada. Estão a serviço do ser racional que as deve racionalmente usar. Além disto, empregar as riquezas naturais com o objetivo de acumular ganhos exorbitantes em detrimento dos mais fracos, com o intuito satânico da dominação, é uma distorção que clama aos céus. Tanto mais grave esta ação quando há prejuízo para toda a humanidade como acontece com a poluição, o aquecimento global e outros transtornos que perturbam a ordem natural instalada pelo sábio Senhor do universo. Tudo, como foi dito, deve ser usado como um meio não como um fim em si mesmo. Do contrário, o mundo fica transtornado, disforme e monstruoso. O afã de tudo possuir e a busca dos deleites condenáveis desvia o ser racional da persecução do único valor real que é a harmonia interior e a harmonia do cosmos. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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