quarta-feira, 23 de junho de 2010

O DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS

O DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Um dos carismas do Espírito Santo é o discernimento dos espíritos. O carisma é uma manifestação da graça de Deus conferida a uma pessoa, tendo em vista a necessidade ou utilidade própria ou dos outros (1 Cor 12,7). O discernimento dos espíritos diz respeito ao poder de julgar se um ensinamento ou um fato deve ser atribuído ao bom ou mau espírito. Trata-se de uma capacidade sobrenatural de distinguir se uma manifestação espiritual é de origem divina, humana ou do maligno. As ações, os pensamentos, os sentimentos humanos podem ser influenciados por vários fatores psicossomáticos e sobrenaturais. Quem não possui o discernimento infuso pelo Espírito Santo o pode adquirir através dos juízos retos, de acordo com as normas da fé, o que leva uma certeza moral e prudencial. Daí a necessidade da invocação do Espírito Santo, de uma vida interior profunda, de conhecimentos teológicos e psicológicos por meio de um estudo sério. Cumpre atinar sempre com os apelos de Deus, conhecer Sua vontade salvífica e isto requer muita oração. Tudo isto supõe que se esteja sempre sintonizado com a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Nem todos têm, infuso, este carisma, pois diz São Paulo que o Espírito Santo o distribui a cada um os próprios dons conforme lhe agrada” (1 Cor 12,11). Quem o recebe é porque está em comunhão com Deus numa vida de contemplação, de penitência, meios que ajudam a ter sensibilidade à intervenção do Espírito Santo que instrui sobre a verdadeira origem da manifestação espiritual. Quem recebe ou adquire este carisma não age precipitadamente, julgando pelas aparências, mas, humildemente, procura auferir a luz do Alto. Neste caso, o cristão não age preconceituosamente, supondo a priori o mal ou analisando, em conseqüência, erroneamente a situação. Possui um total equilíbrio psicossomático para não se iludir e não iludir os outros. Cumpre, além ditos, possuir pureza de vida que é uma condição essencial para a ação do Espírito Santo (2 Tm 2,21). Detentores destas condições os apóstolos possuíam a capacidade de captar a verdadeira intenção das pessoas. Assim é, por exemplo, que São Pedro desmascarou a hipocrisia de Ananias e Safira e os maus propósitos de Simão, o mágico (Atos 5,3. 8,20) e São Paulo percebeu o que se ocultava atrás das atitudes de Elymas. Este apóstolo usou de uma franqueza maravilhosa: “Ó tu, cheio de toda a fraude e de toda a malícia, filho do diabo, inimigo de toda coisa justa, não cessarás de transtornar os retos caminhos do Senhor? (Atos 13,10). Estas reflexões mostram a importância da ação do Espírito Santo. Com efeito, o ser humano se engana tantas vezes ou é levado a iludir os outros. O mundo é, em si, um perigo para o cristão que deve agir sempre em conformidade com os planos divinos. Jesus disse a Nicodemos: “Aquilo que é gerado pela carne é carne, e aquilo que é gerado pelo Espírito é espírito”(Jo 3,6). Explicou aos Apóstolos: “O espírito é que vivifica, a carne para nada serve” (Jo 6,63). Deu o critério para se discernir um e outro: “As palavras que eu vos disse são espírito e vida” (idem, ibidem). Aquilo que não estiver no caminho traçado por Cristo não vem do bem, mas do maligno. Quando o Espírito de Deus visita uma alma traz consigo o fruto saboroso de uma doce e grande paz. Célebre a passagem bíblica: “Non in commotione Dominus" - O Senhor não está na agitação (3 Reis 19,11). Quem possui o discernimento dos espíritos é capaz de pinçar as maravilhas de Deus inexprimíveis em termos humanos. Trata-se de uma experiência espiritual sublime, inefável, donde a imperturbabilidade absoluta inundada no amor do Senhor. Possuído deste modo o Espírito de Deus pode o cristão discernir para os outros as veredas da vontade divina, longe das insídias do maligno. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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