quarta-feira, 23 de junho de 2010

NECESSIDADE DA MORTIFICAÇÃO

NECESSIDADE DA MORTIFICAÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No contexto hedonista hodierno mortificação se tornou uma palavra execranda. No entanto, há mortificações que obrigam gravemente ao cristão sob pena de não conseguir a salvação de sua alma. Assim a fuga das ocasiões perigosas que levam à perda da graça santificante. A Bíblia é clara: “Quem ama o perigo nele perecerá” (Ecl 3,27). Cristo usou uma fortíssima expressão: “Se o teu olho direito te escandaliza, arranca-o e lança-o longe de ti, porque mais vale que se perca uma parte de ti do que todo o corpo ser lançado no inferno” (Mt 5,29). Atualíssima esta advertência do Mestre divino, pois, diante da televisão, por exemplo, o verdadeiro cristão deve tantas vezes mudar de canal, quando surgem contínuas cenas escabrosas, pecaminosas. Cumpre-lhe repudiar tantas novelas, filmes e outros programas eivados de desvios éticos, abertamente contra os Mandamentos divinos. Assim também os sites pornográficos que nunca devem ser vistos por quem valoriza sua dignidade de filho de Deus. São Paulo advertiu: “Se viverdes segundo a carne, morrereis. Mas, se com o espírito fazeis morrer as obras da carne, vivereis” (Rm 8,13). Para viver eternamente é preciso mortificar os apetites e as paixões perante tudo que pode levar a uma infração séria de um dos dez preceitos do Decálogo. A glória perene da eternidade é uma coroa que só possuirá aquele que fizer por a merecer. Para seguir a Cristo mister se faz mortificar as afeições, as paixões desordenadas, tomar a cruz de cada dia. Aliás, foi o próprio Jesus quem disse: “O que não toma a cruz e me segue, não é digno de Mim (Mt 10,38). Quem decodificou tais palavras com admirável perspicácia foi São Paulo: “Os que são de Cristo crucificaram sua carne com os vícios e concupiscências” (Gl 5,24). Os santos e os mestres da vida espiritual ensinam que é absolutamente necessária a mortificação para se caminhar na santidade. Cumpre sempre vencer o horror das dificuldades e o peso do combate diário. A negação, a resistência aos prazeres condenáveis são imprescindíveis ao verdadeiro cristão. Trata-se de domar as paixões, reprimir os apetites desordenados, submeter o entendimento à lei divina, negar a própria vontade, destruir o amor próprio, suportar com paciência o sofrimento, as adversidades, desprender das coisas terrenas e de se voltar sempre para as coisas celestiais. É preciso o controle da ira, da inveja, da maledicência. A humildade supõe a mortificação do orgulho, da soberba, da ambição, da empáfia. Impossível ser casto sem a mortificação do corpo, controlando a curiosidade malsã, mórbida, doentia, evitando as companhias e amizades perigosas. É necessário mortificar a gula e se privar das comodidades que levam à indolência, às fraquezas espirituais. No estado atual da natureza contaminada pelo pecado original para se praticar as virtudes é indispensável o auto-controle. É preciso reformar os sentimentos pecaminosos e se voltar inteiramente para Deus, educando os sentidos e se identificando com Cristo. Incorporado nele pelo batismo, consagrado na crisma, o cristão precisa se revestir das armas da luz e saber vencer-se a si mesmo. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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