sábado, 8 de maio de 2010

A PAIXÃO E JESUS E A COMPAIXÃO DE MARIA

A PAIXÃO DE JESUS E A COMPAIXÃO DE MARIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Com grande acuidade o Pe. Faber mostra como Maria co-participou de tudo que envolveu a salvação do homem: “Sendo, pois, simultâneas a Compaixão de Maria e a Paixão de Jesus, ou melhor dizendo, sendo aquela uma parte integrante desta, ela participa de seu caráter de sacrifícios e de expiação, e isto de modo e em grau singulares e incomunicáveis a qualquer padecimentos expiatórios dos santos. A Paixão foi o sacrifício de Jesus Cristo na cruz e a Compaixão foi o sacrifício de Maria ao pé da Cruz, sua oferenda ao Eterno Pai, oferenda de uma criatura sem pecados, consumada para expiar culpas alheias”. A Compaixão de Maria por determinação do próprio Deus foi integrada, deste modo, à Paixão de seu divino Filho nesta admirável ação expiatória. Ao se percorrer as Sagradas Escrituras se percebe que nada ocorre na vida humana sem que haja nos desígnios da providência de Deus uma razão de ser. As terríveis aflições não foram um mero ornato nas trilhas dos sofrimentos de Cristo, mas se incorporaram de modo extraordinário à imolação de Jesus pela regeneração do gênero humano. Além disto, as dores de Maria mostram claramente que há um papel decisivo da cruz na vida de todo cristão. Jesus de uma maneira muito objetiva afirmou: “Se alguém quiser ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”(Mt 16,24). É ela o sinal do verdadeiro epígono de Cristo que deve dar uma aplicação transcendental a todos os sacrifícios que o cumprimento do dever de cada traz e sublimar todas as tribulações físicas e morais que visitam o ser humano no decorrer de sua passagem por este mundo. Os padecimentos na vida humana não são uma crueldade da parte de Deus, mas um meio de perfeição, pois purifica e santifica o cristão. É na escola do sofrimento que o homem apura sua verdadeira grandeza e chega a praticar grandes virtudes. No momento em que padece algum mal o ser racional é chamado ao desprendimento, à superação, à união com Deus. Não sofresse o homem e ele correria o risco de se apegar definitivamente ao transitório desta existência terrena e se esqueceria de sua verdadeira morada na Jerusalém celeste. Ao sofrer, o cristão apura sua fé, dilata sua esperança e faz crescer o seu amor a Ser Supremo e ao próximo. O discípulo de Cristo sabe porque sofre e para que sofre e isto arraiga sua crença nos valores eternos e o leva a esperar ainda mais ansiosamente a coroa de glória que Deus reserva para os que o amam e souberam servir seus irmãos. Este serviço é prestado de modo peculiar na hora do sofrimento, quando ele é aplicado pela conversão dos pecadores, pela volta ao redil das ovelhas desgarradas. Há permutas de afetos entre Jesus e seu discípulo que só são possíveis naquelas horas em que a dor humana se une à dor do Mártir do Gólgota. Por incrível que pareça o sofrimento unido ao de Jesus e de Maria acaba sendo fonte de alegria! Durche Leiden Freude - júbilo na dor - deveria ser o lema de todo batizado. De fato, é quando se sofre que mais fecundo se torna o viver humano. A dor que exteriormente abate o homem, interiormente o fortalece. Nada neste mundo se consegue sem um esforço contínuo, persistente. Esta fadiga, porém, está iluminada por uma grande expectativa. Eis aí o sentido das palavras de São Pedro: “ Na medida em que participais dos sofrimentos de Cristo, alegrai-vos para que também na revelação de sua glória possais ter uma alegria transbordante”( l Pd 4,12). A causa deste gáudio foi ainda mostrado por São Paulo: “Nossas tribulações momentâneas são leves em relação ao peso eterno de glória que elas nos preparam até o excesso” ( II Cor 4,17). Paulo viveu o que escreveu e pôde afirmar: “ Por isto eu me comprazo nas fraquezas, nos opróbrios, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por causa de Cristo. Pois, quando sou fraco, então é que sou forte” ( Rm 12,10). É esta compreensão da dor, a qual faz parte das intenções divinas, que a Rainha dos Mártires quer que seus devotos tenham , fixando estas verdades no íntimo do coração, armados assim para enfrentar os embates da vida. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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