sábado, 8 de maio de 2010

NOSSA SENHORA DAS DORES

NOSSA SENHORAS DAS DORES
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Um dos títulos mais expressivos dados à Virgem Maria é o de Rainha dos Mártires. Cumpre penetrar o sentido da profecia de Semeão para se compreender ainda mais o sacrifício de Jesus: “Uma espada traspassará a tua alma”. Maria foi a primeira mártir do cristianismo, ou seja, testemunha da divindade do Messias. O martírio inclui ou a morte ou tais sofrimentos que assemelhem a criatura que padece a Jesus sacrificado no Calvário. Grandes as tribulações que suportou Maria e estas se proporcionaram à intensidade do amor que nutria por seu divino Filho e à terribilidade dos padecimentos de Jesus. Este, Deus encarnado no seu seio puríssimo, era um bem de infinito valor a quem ela amava com dileção de mãe e afeto profundo que advinha de sua grande união com a divindade. Seus suplícios foram todos morais e seu verdugo implacável seu coração. O que ela sofreu estava na razão direta de sua capacidade de amar. Assim como se alegra, se rejubila quem ama diante do sucesso, da satisfação do bem-amado, toda desgraça que se abate sobre o ente querido só pode ocasionar consternações. Ora, sendo Maria a mais terna das mães e Jesus o mais amável dos Filhos, se pode medir quão grandes foram os seus desgostos diante do que Cristo suportou na hora em que se cumpriram as Escrituras. Ela se tornou mártir não por paixão, mas por compaixão. Não pela espada material de um carrasco, mas pela pujante angústia interior. Esta foi tão grande que, sem a graça sobrenatural ela teria sido fulminada em cada transe dolente por que passou. As dores morais são muito mais cruéis do que as corporais.A História registra a capacidade incrível que as pessoas têm para, anos e anos, conviver com terríveis incômodos físicos. Quantos os que comemoram suas Bodas de Prata e até Bodas de Ouro de um mal incurável. A dor moral, porém, quando agudíssima, ou leva à loucura ou causa fulminante morte. Uma vez que Deus quis associar Maria à obra salvadora, Ele lhe deu no mais alto grau o dom da Fortaleza, suporte divino para que ela não desfalecesse, sobretudo com os episódios da Paixão e Morte de seu dileto Filho. Os teólogos que tratam da participação de Maria na obra redentora são unânimes em acentuar que os sofrimentos da Mãe de Jesus não eram absolutamente necessários ao processo soteriológico empreendido pelo Filho de Deus.Cristo, e apenas Ele, é o Salvador da humanidade, nosso único e exclusivo Redentor. Ele não necessita da cooperação de criatura alguma. Isto é uma questão pacífica do ponto de vista bíblico. Não se pode restringir nunca a universalidade da redenção de Jesus, pois Ele levou a termo esta redenção plenissimamente. Se assim é, a cooperação de Maria nada poderia ajuntar à perfeição intrínseca do processo libertador. Além disto, seria um grave erro se admitir que Maria poderia se redimir a si mesma, o que se daria, se sua cooperação na remição dos homens fosse algo intrínseco à mesma. Há, no entanto, uma palavra do Apóstolo Paulo muito significativa: “Eu agora me alegro nos sofrimentos por vós, e completo na minha carne o que falta ao sofrimento de Cristo pelo seu corpo que é a Igreja” (1 Cl 1,24). Não obstante a paixão de Jesus ser dum mérito infinito, e por isto completa, nada a lhe acrescentarem os padeceres humanos, São Paulo mostra que, se coisa alguma faltou a Cristo sofrer no seu corpo físico para nos salvar, no seu corpo místico, do qual somos membros, há algo a ser completado pelo sacrifício do homem. Este tem que fazer também a sua parte.É aí que Maria, mais do que ninguém, contribuiu.Sua tribulação não tem similar entre todas as demais criaturas, o que fez dela a Corredentora. Além deste aspecto, se acrescente que ela é Corredentora neste sentido de que, por desígnios imperscrutáveis de Deus, ela foi incluída de modo peculiar no plano salvífico. Dela, de fato, recebeu o Messias a natureza humana e dela se fez dependente em uma parte de Sua vida. As atribulações desta Senhora se inserem deste modo de uma maneira muito clara no projeto redentor de Deus. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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