sábado, 8 de maio de 2010

ASPECTO ANTROPOLÓGICO DA DEVOÇÃO MARIANA

ASPECTO ANTROPOLÓGICO DA DEVOÇÃO MARIANA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Um aspecto antropológico da devoção mariana é vê-la como caminho para a maturidade. Não contemplá-la apenas como a Mãe que protege e ajuda, que realmente salva e cura, refúgio dos pecadores e saúde dos enfermos, mas também destacá-la como fiel adoradora de Deus, seguidora de Jesus Ressuscitado com quem sempre teve íntima comunhão, ela membro de uma comunidade orante, mas atuante.
Maria não quer ser olhada por nós como uma Mãe onipotente no sentido pejorativo da palavra. Uma maternidade simplesmente a prolongar no filho seu espaço existencial, prevendo tudo, prevenindo os mínimos detalhes, dando gratuitamente em vez de promover o árduo e pedagógico esforço pessoal. Não! Maria segundo a visão plena do Evangelho é muito mais. A imagem que dela devemos ter é a de ser Mãe que crê no mistério da vida, que é crescimento e progresso por meio de ações sabiamente criativas. Ela deixou Jesus partir para suas pregações, o viu entregue a seus inimigos. Ao passar Ele pela via dolorosa, ela se uniu a ele e não o impeliu a abandonar o sacrifício e nem o impediu de prosseguir na carreira dolorosa, etapa de uma missão salvífica na mais acerba dor, no mais horrípilo sofrimento. Foi corajosa, destemida. Não se mostrou uma mãe possessiva, ciumenta, ciosa de seu Filho, mas uma mulher firme, forte, enérgica intrépida, cuja função materna se dilatou, assumindo no Calvário dimensões universais. Ela está sempre a alertar a seus devotos que sem esta doação integral é impossível se chegar às alegrias eternas.Ela quer que evitemos a dissociação entre as palavras e as idéias, os louvores e a vida, mas que sejamos coerentes quando nos dizemos seus devotos, revelando publicamente que o dinamismo da pessoa humana só se afirma no amor doação e na renúncia construtiva, no autodomínio e na sobriedade. É assim que a entrega a Maria se transforma em ajuda e em estímulo para viver a opção fundamental e exercitar as funções proféticas que derivam do batismo num apostolado prático que contribua substancialmente para difusão do evangelho, para que Cristo Ressuscitado seja conhecido e realmente amado e glorificado.Maria é assim um convite vivo a que nossa oração a ela não seja uma fuga, uma evasão dos problemas, um lenitivo fútil, sem sentido, mas algo que infunda esperança para a vida, que leve ao acatamento dos problemas de cada hora, procurando cada um uma solução plauzível, que conduza à inserção nas questões de nosso tempo, sem um condenável alheamento do mundo. O Cântico de Maria, o seu Magnificat é típico desta postura que ela requer de nós, pois foi fruto de uma consciência histórica e comunitária, baseada na ação de graças pelo presente, memória laudatória do passado, súplica implícita do porvir, mas tudo isto como conseqüência de uma total imersão na vontade de Deus, característica de sua vida, toda ela passada e vivida na aglutinação ao seu Criador, na submissão completa à sua vontade santíssima. Foi por isto que o Todo-Poderoso pode nela fazer grandes coisas, salientando-se sua profunda humildade como fator decisivo da recepção das graças do Alto.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos*

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