segunda-feira, 12 de abril de 2010

RAINHA DOS CÉUS, ALEGRAI-VOS

RAINHA DOS CÉUS ALEGRAI-VOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Maria é invocada como a “causa de nossa alegria”. O momento máximo de seu júbilo foi quando, extasiada, contemplou Cristo Ressuscitado. Que júbilo para aquela que mais do que ninguém amava Jesus! Ela via dissipado o opróbrio da morte de seu Filho amado. Reconhecia nas Suas chagas gloriosas o complemento da grande obra da redenção da humanidade. Era então convidada a marchar com o Vencedor do pecado, da morte e do demônio, sobre os despojos deste inimigo comum, descobrindo através dos séculos as vitórias que deveriam seguir as pelejas da cruz. De que prazeres devia ser inundado o coração de Maria! Que dilatação devia adquirir sua alma, na qual as torturas e as angústias não empregariam mais seus golpes horrípilos e seus ataques virulentos! Que transportes devia experimentar a mãe vendo ultimadas com a ressurreição do Filho suas tão cruéis fadigas! A terna mãe do jovem Tobias, tornando a ver o filho amado, cuja ausência a oprimia de cuidados, achava seu coração por demais pequeno para conter tanto gáudio. Mister se fazia que seu esposo e todos de sua casa partilhassem seu contentamento. Como sabemos pela Odisséia de Homero, Penélope não conteve seu júbilo ao receber de volta seu filho Telêmaco, esperado ansiosamente durante anos. Envolveu-o extasiado nos braços e o contemplava inundada em pélago de satisfação. Alegria incontida se apossou de Mônica ao admirar seu filho convertido ao cristianismo, ressuscitado para uma vida nova. Lemos no Livro das Confissões de Santo Agostinho que ela afirmava já poder deixar este mundo, pois nenhuma coisa lhe dava mais gosto nesta terra tão grande era seu contentamento. Reunamos, portanto, todos os nossos talentos, empenhemos toda a energia de nossa imaginação e, ainda assim, jamais poderemos aquilatar a veemência do amor de Maria para com Jesus. Muito além do amor de Ana por Tobias, de Penélope por Telêmaco ou de Mônica por Agostinho ou de qualquer outra mãe para com seus filhos, era a dileção de Maria por Jesus. Coloquemos junto todo o afeto materno dentro de um só coração, pálida amostra do que a mais perfeita das mães nutria pelo mais amável dos filhos. Podemos então vislumbrar a intensidade do júbilo que dela tomou conta, quando seu imenso amor foi animado com a presença de seu Filho ressuscitado. Tornou-se este amor ainda mais ardente, acrescido pela ventura do magno triunfo. Este a conduziu a um êxtase de alegria infinda ao apreciar a glória de seu Jesus. A realidade de Sua vitória abrasava sua alma com uma chama mais intensa, porque levantada acima de todas as fraquezas humanas. Imersa, silenciosamente, naquele mistério, inflamada por ternura imensa, reanimada pelos novos fulgores da fé, nutrida da mais sólida ventura Ela se rejubilava ante a apoteótica visão do Redentor triunfador. Maravilhada, de fato, com a figura de Jesus vencedor estava imersa num oceano de indescritível felicidade. É louvável e útil considerarmos a inundação dos místicos prazeres que transbordaram do coração de Maria ainda gotejando o sangue derramado pela espada misteriosa que transpassou sua alma na morte dolorosíssima de seu Filho. Com efeito, a Ressurreição de Jesus foi o ponto final nos pesares de Sua mãe, afugentando-lhe definitivamente toda tristeza. Por outro lado, ao recordarmos o júbilo desta Senhora, louvando-a, atraímos novas bênçãos e fixamos em nós o desejo de vivermos o mistério pascal que tanta alegria causa a quantos amam ao divino Salvador. Uma comparação nos fará compreender ainda melhor o que se passou com a mãe de Jesus ante seu Filho glorioso. Imaginemos uma nuvem tenebrosa fronteira aos raios do sol no momento em que o astro-rei fulge no horizonte lançando em profusão sua luz intensa. Repassada de seus raios esta nuvem se deixa ver tinta de belas e variadíssimas cores. Rivaliza até com o brilho do sol. Assim o coração de Maria no instante em que o Sol de Justiça o rodeava com todo o seu esplendor e o submergia em ondas multicores de satisfação. Ninguém mais do que Maria merecia ser transportada nas vagas do gáudio mais inebriante. Esta Virgem de Sião após as cruezas da Rua da Amargura e do Calvário devia agora ser recompensada por aquele mesmo que fora a causa de tantos sofrimentos. Tal gozo compensou, e muito, a Maria, porque instruída mais do que qualquer outra criatura no significado da Redenção, ela projetava diante de si os efeitos grandiosos da vitória de Jesus e contemplava multidões de outros filhos seus salvos por aquele Rei Todo-Poderoso. Saibamos, como Maria, viver em função de Jesus ressuscitado e partilharemos da alegria da Rainha poderosa a quem, no tempo pascal, dirigimos esta saudação: “Rainha do céu, alegrai-vos, aleluia! Porque quem merecestes trazer em vosso seio, aleluia! Ressuscitou como disse, aleluia!” * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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