segunda-feira, 12 de abril de 2010

LOUVOR PESSOAL A MARIA

LOUVOR PESSOAL A MARIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Cumpre ao devoto de Maria sempre verificar, sinceramente, honestamente, como está sua devoção pessoal para com Ela.. Muitas questões se colocam.
Temos valorizado a pessoa humana, enquanto cada um é filho de Maria, nosso irmão, que deve merecer todas as atenções, obséquios e serviços? Nossa fé é uma fé-entrega, oblação total a Deus em níveis mais maduros de contato com Cristo na experiência do Espírito Santo, ouvido, atendido quando comunica seus recados interiores, seus pedidos, suas exigências? Nossa presença, à imitação de Maria, é operante no meio em que vivemos, ou, pelo contrário, não somos tantas vezes entraves ao Evangelho com nossa conduta anticristã que aprova o que Cristo condenou e que não é coerente com o ensinamento global do Ressuscitado? Somos nós agentes de libertação ou de tirania, cúmplices de atos impiedosos, imorais, desonestos? Aceitamos Deus nos pobres, nos carentes, nos excluídos, nos doentes? Estamos comprometidos no amor eficaz, dinâmico, construtivo para com quem sofre, a fim de sanar todos os males dentro de nossas possibilidades?
É que, como Maria, todo cristão deve se renovar na acessibilidade do Espírito para agir criativamente, promovendo a animação cristã da realidade social, minando as desgraças alheias e promovendo o bem estar de todos.
Um aspecto antropológico moderno da devoção mariana é vê-la como caminho para a maturidade. Não contemplá-la apenas como a Mãe que protege e ajuda, que realmente salva e cura, refúgio dos pecadores e saúde dos enfermos, mas também destacá-la como fiel adoradora de Deus, seguidora de Jesus Ressuscitado com quem sempre teve íntima comunhão, ela membro de uma comunidade orante, mas atuante. Maria não quer ser olhada por nós como uma Mãe onipotente no sentido pejorativo da palavra. Uma maternidade simplesmente a prolongar no filho seu espaço existencial, prevendo tudo, prevenindo os mínimos detalhes, dando gratuitamente em vez de promover o árduo e pedagógico esforço pessoal. Não! Maria segundo a visão plena do Evangelho é muito mais. A imagem que dela devemos ter é a de ser Mãe que crê no mistério da vida, que é crescimento e progresso por meio de ações sabiamente criativas. Ela deixou Jesus partir para suas pregações, o viu entregue a seus inimigos. Ao passar Ele pela via dolorosa, ela se uniu a ele e não o impeliu a abandonar o sacrifício e nem O impediu de prosseguir na carreira dolorosa, etapa de uma missão salvífica na mais acerba dor, no mais horrípilo sofrimento. Foi corajosa, destemida. Não se mostrou uma mãe possessiva, ciumenta, ciosa de seu Filho, mas uma mulher firme, forte, enérgica intrépida, cuja função materna se dilatou, assumindo no Calvário dimensões universais. Hoje, mais do que nunca, ela está a alertar a seus devotos que sem esta doação integral é impossível se chegar às alegrias pascais. Ela quer que evitemos a dissociação entre as palavras e as idéias, os louvores e a vida, mas que sejamos coerentes quando nos dizemos seus devotos, revelando publicamente que o dinamismo da pessoa humana só se afirma no amor que é doação e na renúncia construtiva, no autodomínio e na sobriedade. É assim que a entrega a Maria se transforma em ajuda e em estímulo para viver a opção fundamental da imitação de Jesus e exercitar as funções proféticas que derivam do batismo num apostolado prático que contribua, substancialmente, para a difusão do evangelho, para que Cristo Ressuscitado seja conhecido e realmente amado e glorificado. Maria é assim um convite vivo para que nossa oração a ela não seja uma fuga, uma evasão dos problemas, um lenitivo fútil, sem sentido, mas algo que infunda esperança para a vida, que leve ao acatamento dos problemas de cada hora, procurando cada um uma solução plausível, que conduza à inserção nas questões de nosso tempo, sem um condenável alheamento do mundo. O Cântico de Maria, o seu Magnificat é típico desta postura que ela requer de nós, pois foi fruto de uma consciência histórica e comunitária, baseada na ação de graças pelo presente, memória laudatória do passado, súplica implícita do porvir, mas tudo isto como conseqüência de uma total imersão na vontade de Deus, característica de sua vida, toda ela passada e vivida na aglutinação ao seu Criador, na submissão completa à sua vontade santíssima. Foi por isto que o Todo-Poderoso pode nela fazer grandes coisas, salientando-se sua profunda humildade como fator decisivo da recepção das graças celestiais.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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