O SIGNIFICADO DO BATISMO DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Cristo começa seu ministério público pelo batismo que Lhe foi ministrado por João Batista. Tratava-se de um batismo de penitência, ao passo que o batismo por Ele posteriormente instituído é o sacramento da iniciação cristã, transmitindo as graças da Redenção. Toda a humanidade de seu seguidor se transfigura e é introduzida na vida trinitária de Deus através do rito batismal. O cristão é então lançado no coração mesmo da obra salvífica e sua vocação é daí por diante a busca da santidade, uma vez que se torna participante da natureza divina (2 Pd 1,4). A leitura teológica do batismo de Jesus oferece, porém, outras lições preciosas. A teofania, ou seja, a manifestação das Pessoas divinas ao ensejo do que ocorreu no rio Jordão, enquanto João O batizava, mostra a missão confiada na terra ao Filho obediente ao Pai através do Espírito Santo. É com este Espírito divino, e por Ele, que o homem, regenerado pelo batismo, é reconhecido como filho bem-amado (1 Jo 3,1). Eis por que João Batista havia dito com relação a Jesus: “Ele batizar-vos-á com Espírito Santo e com fogo” (Mt 3, 11). O batizado é, verdadeiramente, marcado, selado a fogo com a impressão do Espírito como penhor de salvação. De fato o batismo do Messias encheria os batizados de dons celestes e os purificaria de toda a escória do mal. Deste modo, o batismo de Jesus foi como que a revelação do Deus trinitário e sua ação na vida cristã. Esta dimensão espiritual seria de vital importância para os cristãos. São João diria que “Deus é amor” (1 Jo 4,7). Eis a razão pela qual o batizado, sob a conduta do Espírito Santo, necessita na sua vida passar do sinal da água regeneradora à realidade da plenitude da dileção infinita do Ser Supremo, irradiando por toda parte este amor que beatifica, purifica e salva. O Batismo de Jesus nos leva, deste modo, a penetrar no sentido profundo do nosso batismo. Por este sacramento o humano entra no movimento da morte e da ressurreição de Jesus. Pela morte de Jesus, o homem mortal está destinado a fazer morrer tudo que é recusa de Deus, de todo pecado, de toda procura de uma vida autônoma longe de toda espiritualidade. Pela ressurreição de Jesus o homem novo nasce, homem eterno, homem do amor, da comunhão e da vida. Cada ser humano surge neste mundo no pecado, definido como uma busca de vida independente do Criador, numa recusa total de seus sagrados preceitos. O batismo põe um ponto final nesta atitude meramente carnal, colocando dentro de cada um o germe da vida espiritual voltada para Deus. Este outorga a consciência da verdadeira liberdade que leva à felicidade individual. Pela morte nas águas batismais o batizado passa pela morte de Jesus e começa a possuir a vida eterna beatífica. Incorporado ao Corpo Místico de Cristo, se torna membro da Igreja, outro título de glória para o cristão. Pelo batismo os homens formam um só corpo em Cristo para compor o Povo de Deus. Por ser habitação viva de Deus (Ef 2,22) a comunidade dos cristãos é constituída por pedras preciosas, pois o batizado irradia esta presença divina por toda parte, sendo uma nação santa, um sacerdócio real como bem se expressou o Apóstolo Pedro (1 Pd 2,9). Ultrapassando de muito as purificações da Antiga Aliança, o batismo opera todos estes maravilhosos efeitos em virtude dos méritos de Jesus Cristo, com o qual o cristão se configura. Esta configuração é incompatível com a presença do pecado no ser humano. Daí a advertência do papa Leão Magno: “Reconhece, ó cristão, a tua dignidade”. A uma vida dominada até então pelo pecado sucede uma existência animada pelo Espírito Santo. É por isto que esta vida nova se converte em fermento de transformação (1 Cor 5, 6-8) de toda a vida humana à semelhança da vida de Cristo (2 Cor 4-10). Trata-se da presença de Cristo no ser humano. Assim se expressou o Apóstolo Paulo na Carta aos Gálatas: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim. E enquanto eu vivo a vida mortal, vivo na fé do Filho de Deus que me amou e entregou a si mesmo por mim” (Gl 2,20). O cristão deve então viver no mundo proclamando sua fé, oferecendo sua vida ao Pai e configurando o mundo histórico segundo as exigências do Reino de Deus. Trabalho sublime este de projetar para a humanidade as energias renovadoras do Evangelho. O mundo só será melhor no dia em que todos os batizados viverem as virtualidades do seu batismo e viverem em virtude de seu batismo! Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
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