sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O episódio de Jericó

O EPISÓDIO EM JERICÓ
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Cristo se dirigia pela última vez a Jerusalém, onde iria consumar a obra redentora. Possivelmente por isto os Sinóticos, ou seja, os Evangelhos de S. Mateus, S. Marcos e S. Lucas, registram o estupendo milagre realizado em Jericó pelo Filho de Deus. O relato de São Marcos (10,46-52) indica o nome do cego, Bartimeu, nome aramaico que significa Filho de Timeu. Cada detalhe deste acontecimento merece atenção especial. Aquele cego, mendigo, assentado à beira do caminho ouviu dizer que Jesus de Nazaré estava por ali passando. Percebeu Bartimeu que sua hora da graça chegara, pois Jesus significa “Javé salva” e o fato dele ser da cidade de Nazaré o distinguia bem dos demais personagens que traziam este nome bendito! Ele, porém acrescenta: “Filho de Davi, tem piedade de mim”. Trata-se de um título profundamente messiânico, mormente naquele momento da vida do Salvador da humanidade. Ele era descendente do Rei Davi, o sucessor que Deus havia prometido ao grande monarca de Israel (2 Sm 7,12-16). Antes Jesus solicitava aos Apóstolos que não divulgassem que Ele era o Messias, mas agora que se aproximava a hora de sua imolação, não recrimina o cego pela sua tão solene proclamação que era proferida em altos brados. Jesus havia empregado, anteriormente, esta designação apenas uma vez quando esteve conversando com a Samaritana (Jo 4, 26). Ele preferia se dizer “o Filho do homem”. Naquele momento, porém, convinha que todos soubessem que aquele que iria morrer crucificado era o Messias prometido e que a morte faria parte integrante de sua missão como elemento essencial (Is 53). É de se notar o modo como foi feito o pedido a divino Taumaturgo: “Tem piedade de mim”. O cego foi bem objetivo no que ele queria, isto é, desejava não um simples gesto de comiseração, mas a cura total. Ele sabia que a causa de sua pobreza era o fato de não enxergar e ele almejava trabalhar. Ver para agir e sair daquela situação constrangedora. Tal a sua ânsia pela recuperação visual que ele soltava clamores veementes a ponto de ser censurado pelos circunstantes. Sabia, entretanto, Bartimeu o que aspirava e tinha consciência de que por ali transitava o Médico divino e não parava de gritar. Então Jesus para. Certamente, o meigo Rabi se lembrou que, na parábola do Samaritano, ele dissera que alguém foram assaltado vindo de Jerusalém para Jericó. Deixado quase morto, um sacerdote e um levita passaram para o outro lado e o ignoraram. Um habitante, porém, da Samaria parou, cuidou dele e o levou para uma estalagem, salvando-o. Ali esta o verdadeiro Samaritano que não poderia passar e menoscabar aquele que por Ele implorava. Que gesto de delicadeza e de sensibilidade da parte do Filho de Deus, quando mandou chamar aquele pobre homem que imediatamente foi até Ele. Para firmar sua sinceridade na busca da cura Cristo lhe pergunta o que ele queria e veio logo a resposta: “Mestre, que eu veja”! Jesus o cura e dá o motivo: “Tua fé te salvou”. Bartimeu formulou com clareza o seu pedido e tinha certeza absoluta de que ali estava quem era o Filho do Deus onipotente. Não trepidou e isto tocou o coração de Cristo. Na ceguicidade física do filho de Timeu, porém, estava figurada uma outra cegueira muito mais danosa: a cegueira do espírito que não é capaz de vislumbrar as verdades que salvam. Uma fé profunda no Redentor é a solução, abrindo-se os olhos para as realidades celestiais. O coração então se volta para Deus e o ser humano passa a contemplar verdades esplendorosas. Há um modo humano de olhar os dons divinos, sabendo ler os acontecimentos como ocorreu com Bartimeu. É a correspondência à graça que lhe penetra o ser e faz observar além do que é sensível, meramente terreno. É sempre um erro de conseqüências nocivas a rejeição da luz do Alto. A opção consciente e livre feita por cada um propicia uma feliz busca da proteção de Jesus, único e verdadeiro refúgio do cristão. As diversas formas de comportamento que constatamos no cego de Jericó mostra que não há automatismos espirituais, mas, sim, um esforço humano necessário para receber as dádivas celestes. Nas circunstancias mais diversas da vida cumpre estar atento às oportunidades que Deus oferece e não deixar escapar a hora da sua intervenção. É preciso, como Bartimeu, clamar, pedir, insistir e relatar com sinceridade e propriedade o que se espera de Jesus, poderoso Senhor. doador de todos os favores.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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