A NECESSIDADE DA PERSEVERANÇA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A vida espiritual não consiste nos bons propósitos, mas na execução dos mesmos, pois Cristo falou claramente: “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida” (Lc 21,19). A santidade, de fato, é uma tarefa árdua e dificultosa, supõe disposição interior e muita luta. Os atos momentâneos e transitórios nas ocasiões mais árduas não são tão difíceis, mas os atos repetidos e continuados por toda a vida incluem heroicidade. É isto que caracteriza a perseverança no bem. Trata-se de uma atitude permanente na vivência contínua do amor a Deus. A perseverança na prática das virtudes morais das quais faz parte da fortaleza tem por objeto corroborar a alma para sofrer e superar constantemente as dificuldades de cada instante. Cumpre uma tendência contínua para a perfeição o isto necessita de muito esforço. É um recomeçar contínuo que só terminará no momento da morte. Está na carta aos Hebreus: “É necessária a perseverança para fazerdes a vontade de Deus e alcançardes os bens prometidos” (Hb 10,36). Muitos são os motivos que devem levar o cristão à perseverança e, entre eles, a gratidão. Quantos benefícios gerais e particulares cada um recebe a todo instante de seu Senhor! Quantas graças concedidas pela misericórdia do Pai celeste! E o que é que Ele pede? Está no Evangelho de São João: “Permanecei no meu amor” (15,9), ou seja, persistir, perseverar numa dileção contínua, sem tréguas. Cumpre, além disto, a fidelidade constante, pois não há limites no serviço do Ser Supremo. Desde que alguém nasce até o último instante de vida está obrigado a viver em união com o seu Criador. Não se pode ser infiel ao Deus fiel. Diz Davi: “O Senhor é fiel em suas palavras, e santo em tudo o que faz” (Sl 144,13), por isto é triste a situação de uma alma que não é permanentemente leal. Enorme é, portanto, a utilidade da perseverança. Ela é necessária para que se conserve a graça santificante e se pratiquem as virtudes. Os bens eternos da felicidade perene serão dados aos que combateram legitimamente até o fim. A recompensa eterna é concedida no triunfo final. Na vida espiritual as alternativas debilitam a vontade e diminuem a energia interior. Entretanto, se alguém empreende a própria santificação e persevera constantemente, cada vez mais fácil será o trilhar os caminhos traçados por Cristo. Os bons hábitos se tornam infalivelmente uma segunda natureza. Quanto mais firme é o cristão, mais facilidade terá, mais firmeza, mais igualdade de ânimo, mais satisfação, mais consolos e mais felicidade. É preciso, portanto, vencer os obstáculos que impedem a perseverança. Um deles é a inconstância, ou seja, a instabilidade interior, a volubilidade, que são derrotadas pela educação da vontade e dos sentimentos. Outro entrave é a falta de convicção causada por uma fé débil. Eis por que a meditação séria das verdades sobrenaturais alimenta a constância. Foi a contemplação da eternidade que levou o salmista a exclamar: “À tua direita, Senhor, delícias eternas” (Sl 15,11). Foi, igualmente, o que levou São Paulo a asseverar: “O leve peso da nossa tribulação do momento presente, prepara-nos, além de toda e qualquer medida, um peso eterno de glória; não que nós olhemos para as coisas visíveis, mas para as invisíveis. É que as coisas visíveis são transitórias, ao passo que as invisíveis são eternas! (2 Cor 4,17-18). Os santos para serem pertinazes viviam, por isto, considerando a brevidade da vida, a qual é como um sopro. Daí resulta a renovação dos bons propósitos, pois para o cristão cada instante é um caminhar constante nas sendas da perfeição em vista da conquista da bem-aventurança eterna. É que Jesus foi realmente claro: “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida”. * Professor no Seminário de Mariana 40 anos.
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
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