sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Escatologia

ESCATOLOGIA
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Cristo falou claramente sobre o porvir e a consumação do mundo e acrescentou: “Então vereis o Filho do homem vindo nas nuvens com grande poder e glória” (Mc 13, 26). O cristianismo cunhou então o termo escatologia significando a sistematização de reflexões atinentes ao destino definitivo do indivíduo humano e ao término da história terrena. Trata a escatologia de aspectos teológicos firmados na Bíblia os quais focalizam o futuro, projetando tal doutrina no presente para comunicar impulsos otimistas para a ação no tempo atual. Haverá, um dia, a parusia, ou seja, como o próprio Jesus asseverou, sua volta gloriosa , no final dos tempos, para estar presente ao Juízo Final. Ele, porém, acrescentou: “Quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai” (Mc 13,32). Eis por que se pode conceber a Igreja como uma comunidade escatológica, isto é, sociedade única dentro do contexto histórico que prepara seus adeptos para estarem purificados diante do Senhor que virá e que também advertiu que é preciso vigiar e ficar de prontidão (Lc 21,36). Tudo isto porque o cristão vive num mundo hostil a Cristo e à sua Igreja num conflito ininterrupto. A verdadeira cidadania se dará na Jerusalém celeste e, por isto, não é possível uma adesão às fantasias terrestres. O discípulo de Jesus vive, em conseqüência, em função da fé e não da ilusão. Tudo isto faz da Igreja um ícone do Reino que há de vir, a semente lançada na terra, que nascerá para uma ventura eterna. A glória da Igreja histórica é a cruz, mas a glória da Igreja futura é o estar definitivo com o Redentor triunfante da morte e do pecado. Deste modo a Igreja tira sua identidade do Reino futuro. Porque ela existe na História “na pessoa de Cristo – in persona Christi” tem a garantia da vida eterna. Ora, seu Fundador não iludiu nunca e afirmou a seus seguidores: “No mundo tereis sofrimentos, mas, coragem, eu venci o mundo” (Jo 16,33). A hora da salvação é o tempo presente como muito bem ensinou São Paulo: “Ei-lo agora, o tempo favorável; ei-lo agora, o dia da salvação”, o kairós. Quem valoriza cada instante de sua vida estará preparado para o retorno glorioso de Cristo. Portando, para cada cristão já se dá em plenitude a escatologia, pois são os últimos dias de sua redenção esta trajetória tão ligeira sobre a terra rumo à eternidade. É a tensão para a total realização em cada batizado da salvação. Deste modo, o que vai acontecer no fim do mundo já envolve a vida do discípulo de Cristo que a passa não tendo como foco as coisas que passam, mas as que são perenes. Assim, a escatologia presente não traz a abolição da futura anunciada por Cristo. Eis aí a mais profunda relação entre o tempo e a eternidade, entre o cronos que é passageiro e o kairós definitivo. Todas estas considerações devem levar a uma total e absoluta fidelidade a Deus, condição essencial para se estar à direita do grande Rei no término da História. Cumpre então qualificar o tempo presente em curso como tempo de decisão e de conscientização das mentes acercada da seriedade da situação temporal. Deus vai julgar sobre as decisões tomadas aqui e agora numa práxis de natureza individual e social. É preciso entender bem o aquém desta terra em relação ao além da outra vida. Desde o início do cristianismo as comunidades cristãs perceberam que deveriam produzir frutos no Espírito Santo. Daí o cultivo da paz, da alegria, da bondade, da mansidão, da benignidade, da paciência, da longanimidade, da fidelidade, da modéstia e da castidade, da continência, do amor a Deus e ao próximo (Gl 5, 22 e ss in Vulgata). Assim, uma nova visão da morte surge para o cristão impregnado da esperança de estar na Casa do Pai por todo o sempre. A ressurreição de Jesus está integrada inclusive na espera apocalíptica da ressurreição dos mortos. O ser humano concreto caracteriza-se como chamado e destinado à total vitória sobre o pecado e suas funestas seqüelas. Aí está o motivo para se poder afirmar, com toda veracidade, que o verdadeiro seguidor de Cristo mora na casa da esperança. Esta se fundamenta no triunfo de Jesus sobre a morte, fato que confirma tudo o que o próprio Jesus fez e ensinou. Deste modo, o Redentor habita no coração de seus fiéis e nele os cristãos “saboreiam o dom celeste” (Hb 6,5) e sua vida é atraída por Cristo ao seio da vida divina (Cl 3,1-3). Eis aí a verdadeira escatologia dos cristãos os quais estão no mundo, mas como disse Jesus, “não são do mundo” (Jo 17,14), aguardando serenamente o fim dos tempos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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