A CARIDADE E A SOCIEDADE HODIERNA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Quando voltamos os nossos olhos para os alicerces da sociedade do século XXI, verificamos um espetáculo nada animador.
Se vislumbramos a coluna mestra da autoridade e a vemos tantas vezes minada pelo totalitarismo da direita ou da esquerda. Se contemplamos o plinto aurífero do patriotismo, o percebemos abalado pelos nacionalismos integrais. Se olhamos a peanha sagrada do amor, nós a deparamos lugubremente afetada pelo sexualismo. Se examinamos a viga poderosa do trabalho, cintila ante nós a fazê-la estremecer o materialismo. Se analisamos a pilastra mestra da propriedade, se nos surgem as monstruosidades com que a enfraquece o capitalismo liberal, desumano, cruel.
Tudo isto conseqüência da inversão de valores arrancados às suas raízes sobrenaturais, deslocados do eterno para o efêmero, do transcendente para o imanente.
A mensagem de amor do Cenáculo, porém, é a salvação da humanidade nos primórdios do terceiro milênio.
É que o princípio do amor que inclui e supera os da justiça contra a imposição do egoísmo e da ambição é o grande baluarte de toda a vida social, o qual incluindo a noção de fraternidade, dá à mesma um fundamento sólido, qual seja não apenas a união dos homens entre si, mas ainda de todos os seres racionais com o Ser Supremo, origem e fim de tudo que existe.
A caridade foi, é e será sempre a marca profunda da ação do cristianismo através dos séculos.
A Igreja que nasceu sob o signo do amor de Deus ela fundamenta toda solidariedade humana na Comunhão dos Santos e projeta na pessoa de Jesus Cristo a razão de ser de qualquer ato de caridade. Toda postura caritativa visa, de fato, co-herdeiros da mesma glória merecida pelo Redentor, filhos do mesmo Pai, irmãos regenerados pelo mesmo sangue divino.
Aí está a razão de ser o preceito do amor a chave para solucionar as grandes questões da humanidade.
A Igreja é a única instituição que pode apontar um caminho para uma fraterna comunidade de povos, pois todos são chamados a ingressarem no Reino de Deus, no qual não há lugar para preconceito de nacionalidade, de costumes.
O termo católico exprime bem este ideal que é uma afirmação da unidade fundamental da família humana.
Neste mundo só existe, realmente, uma força capaz de unir os povos numa aliança de paz duradoura que é esta mensagem de caridade pregada por Cristo no Cenáculo e que a Igreja vem transmitindo através do tempo.
Decepcionado com a cultura de nossos dias que não lhe satisfaz os mais recrescentes anelos, o homem encontrará de novo sua real posição no universo se acatar o Mandamento Novo em toda sua dimensão. Este comunicará à vida das nações um sentido e as projetarão acima dos instintos egoístas e eudaimonistas do indivíduo.
Trata-se daquele amor que encherá o coração de todos dos mais nobres sentimentos e os elevarão acima de todas as misérias e pequenezas.
Deste modo, nos albores de um novo milênio nada mais eficiente, prático, premente do que intensificar o espírito depois fora dele qualquer solução será fragmentária, provisória, unilateral, falida.
* Professor no Seminário de Mariana de 1067 a 2008.
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
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