terça-feira, 12 de maio de 2009

Valorizar a Língua Pátria

VALORIZAR A LÍNGUA PÁTRIA

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Quando um clamor geral se eleva contra o aviltamento, hoje acintoso, da formosa Língua Pátria, medida salutar é promover, em alto nível, uma conscientização do problema para salvar no Brasil este idioma que Camões e Vieira, Camilo e Eça de Queiroz, Coelho Neto e Olavo Bilac, Euclides da Cunha e Rui Barbosa, e tantos engrandeceram e opulentaram. A luta a favor da língua portuguesa remonta a séculos passados. Há um texto expressivo de Francisco Lobo, escritor do século dezessete, no qual mostra que o português “tem de todas as línguas o melhor: a pronunciação da latina, a origem da grega, a familiaridade da castelhana, a brandura da francesa e a elegância da italiana. Tem mais adágios e sentenças que vulgares em fé de sua antigüidade...” Depois lastima: “E para que diga tudo, só um mal tem, e é que pelo pouco que lhe querem seus naturais, a trazem mais remendada que capa de pedinte” .

Fenômeno de fundas conseqüências este da anarquia e empobrecimento da maneira de se exprimir. Tanto mais grave quando já não inclui somente uma geração nova, vítima de um contexto histórico agressivo aos autênticos valores, mas que se alastra até pelas Universidades, envolvendo inclusive mestres conspícuos, cuja pobreza vocabular se ajunta, por vezes, a um mau gosto no uso de expressões, de fato, lastimáveis, que ressumbram a penúria intelectual, a indigência lexicológica reinantes.

Verdadeiro vandalismo que se constata nas províncias sublimes da Língua. Semi-analfabetismo que leva, não apenas à infração ostensiva das mais elementares regras gramaticais, mas ainda a erros de grafia ou à desvalorização de nosso opulento vocabulário. É o emprego correto de palavras exatas que dá clareza e ritmo à frase, fazendo a língua portuguesa tão encantadora e melodiosa.

Atitude antifilosófica e que obstaculiza a comunicação de realidades interiores para se chegar às paragens fascinantes do belo. Um mesmo vocábulo usado para manifestar conceitos completamente díspares e tudo é “bacana”, “jóia”, como se tão pobre fosse nosso rico idioma.

Há dias um professor, em certa Universidade, durante o tempo da verificação da verificação da aprendizagem, se viu obrigado a explicar aos alunos o sentido de palavras comuns, cujos sinônimos foi escrevendo no quadro e, na verdade, não termos técnicos da disciplina, mas vocábulos cujo emprego deveria ser corrente.

Aliás, já se nota um hábito, nem sempre observado, que é o da substituição da palavra por sons, que vão ficando convencionais, numa prova inconteste também da redução do vocabulário. É um não recomendável retrocesso à linguagem expressa por formas não articuladas.

Se tal é a língua oral, a questão se revela mais calamitosa no que tange à língua escrita. Há alunos que submetem os professores a um verdadeiro teste de múltipla escolha. Escrevem a palavra cuja ortografia desconhecem, de três, quatro maneiras e colocam uma interrogação, supondo esteja certa uma delas, o que nem sempre, ainda, às vezes, ocorre.

Não se trata, é óbvio, de se exigir um modo de falar pedante, difícil, pernóstico, afetado. Deve-se pugnar, porém, pelo mínimo de respeito à gramática, ao significado real da palavra, à sonoridade da frase. Um retorno ao bom vernáculo, ao português correto, puro, castiço, terso, com alinho gramatical. É somente assim que se atinge a simplicidade, a limpidez e transparência dos torneios clássicos do pensar inteligível e coerente.

* Professor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008

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