quarta-feira, 13 de maio de 2009

Causas do aviltamento da Língua pátria e soluções

CAUSAS DO AVILTAMENTO DA LÍNGUA E SOLUÇÕES

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Lago Burnett, citado por Oscar Mendes, diagnosticou, em seu livro A língua envergonhada , várias causas para o que chama “acanalhamento” e “miséria vocabular”: “os exames de múltipla escolha, o predomínio do audiovisualismo, o horror à leitura, a abolição da análise lógica que adestra o raciocínio, a não correção da linguagem errada das crianças (e dos adultos também), as traduções mal feitas, eivadas de erros de linguagem, os erros de prosódia e de gramática no rádio e na televisão, os erros nos próprios documentos oficiais, nos anúncios, nos filmes...”. A Professora Alaíde Lisboa de Oliveira, ante este estado de coisas, com razão, aconselha que os professores despertem o amor às palavras, estimulem a criatividade, desenvolvam o espírito analítico e crítico de estudo de textos, promovam o uso do dicionário e interessem os alunos no conhecimento de prefixos, sufixos e raízes.

Adite-se que a eliminação do latim prejudicou imensamente o aprendizado do português além do francês, lastro para a compreensão não só da literatura brasileira, como da própria língua, sem falar na depreciação do estudo da gramática histórica. Além disto, um dos perigos denunciados por alguns filósofos no Congresso Mundial de Filosofia Cristã, realizado em Córdoba, em outubro de 1979, é o da marginalização da lógica clássica. A ênfase dada atualmente à lógica matemática ou logística ocasiona sérios prejuízos e conduz mesmo a equívocos graves. A lógica aristotélica, consagrada pelos tomistas, oferece exercícios valiosos para o bom raciocínio. Arte das artes, apresenta as regras que ordenam a mente no próprio ato da razão e é este, justamente, a fonte última de toda manifestação artística. A logística substitui os conceitos por símbolos e é caminho para o nominalismo com todas as suas funestas seqüelas. A renúncia à abstração das idéias, por gerar a matematização exagerada e generalizada, é uma regressão. O saber tem um caráter humanístico que não pode ser olvidado. A reflexão conceptual é processo essencialmente humano e é sempre um desvio relativizá-lo. Hoje, quando as máquinas tomam o lugar do homem e este se despersonaliza e, tantas vezes, é um número nos registros oficiais e até nas listas escolares, afastá-lo da lógica clássica é acentuar a anemia cultural que se torna uma triste realidade, infirmando o poder da inteligência humana.

A relevância da lógica aristotélica se impõe pela necessidade de uma ordenada exposição dos pensamentos e das ocorrências. A interpretação errônea de textos, deduções viciadas, incoerências, até no cotidiano, se devem à desordem mental. O bom senso resolve, é certo, muitos problemas, mas não basta e deixa o ser racional à mercê das circunstâncias e não o leva às derradeiras causas. É preciso lutar pela preservação dos recursos que dão ao homem a possibilidade de explorar, ao máximo, sua capacidade de raciocinar, de tal modo que possa, no uso deste poder, caminhar segura, ordenada e retamente. A lógica clássica dá estes meios, imuniza o homem contra os sofismas e faz dele o comunicador claro e objetivo.

O Professor Edgard de Vasconcelos Barros expôs as explicações sociológicas do descalabro lingüístico. Assevera que se trata de um caso de feição mundial, pois, mesmo nos Estados Unidos da América do Norte, nunca se escreveu tão mal o inglês.

No caso específico do Brasil, ele conclui que “com o crescimento exagerado da população brasileira e com a elevação de seus níveis de aspiração, os governos não têm condições de implantar boas estruturas educacionais para dar pleno atendimento à crescente demanda da população, em cujo seio existe 52% de jovens que reclamam ingresso em nossos estabelecimentos de ensino”. Além disto alude o fato da proliferação, por interesses políticos, de escolas nas quais o ensino é de baixa qualidade. As soluções estão implícitas, exigindo imediatas revisões.

* Professor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008

Nenhum comentário:

Postar um comentário